Capítulo 1

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Último dia do verão de 1984. Neste exato momento estou voltando da praia, na verdade, passar meus dias lá foi o que eu mais fiz essas férias, e hoje não poderia ter sido diferente. Estou indo para o último ano escolar, e planejei me despedir do verão passando o dia no meu lugar favorito, a praia. Morar em Los Angeles nunca foi tão vantajoso.

Decido ir andando até em casa, pois não era tão longe, fazer essa caminhada é como terapia para mim. Eu vivo no bairro de Reseda, é um lugar simples, mas não tenho muito do que reclamar, eu moro aqui com a minha tia e nós levamos uma vida tranquila e feliz. Ao chegar, encontro um amigo na entrada do condomínio.

Eu ameacei caminhar até ele, mas o mesmo fez sinal com a mão pedindo que eu esperasse, e depois veio correndo em minha direção. Eu continuei na entrada.

— Oi! Me deixa adivinhar, você está vindo da praia? — Ele pergunta como se já soubesse da resposta.

— Caramba, Freddy. Eu sou tão previsível assim? — Ele dá risada.

— Eu acho que o fato de você ter ido quase todos os dias desde o início do verão me ajudou a deduzir isso. — Nós dois rimos.

Freddy é meu vizinho, além de estudar no mesmo colégio que eu, acredito que isso tenha nos ajudado a formar uma amizade. Eu não diria que somos melhores amigos, mas somos próximos.

— Certo, certo, você me pegou. — Digo, parando de rir. — É de lá que estou vindo sim.

— É, eu imaginei.

— Mas e você? Tá indo para algum lugar?

— Eu estava pensando em dar uma volta, fiquei entediado em casa.

— Poderíamos ter ido para a praia juntos se você tivesse me... — Eu adoraria ter terminado a frase se eu não estivesse ocupada demais caindo no chão. Alguma coisa me acertou pelas costas.

— Essa não! Você está bem? — Freddy pergunta enquanto me ajuda a levantar.

— E-eu, eu estou bem. — Limpo a poeira da minha roupa, ainda um pouco desnorteada. — O que me atingiu?

— Aquele cara.

Levanto a cabeça e meus olhos encontram um garoto, que eu nunca vi antes, segurando uma mala e uma bicicleta, ele me olha preocupado.

— Desculpa, foi sem querer! Tá tudo bem com você? Se machucou? — Eu semicerro o olho para ele.

— Você me empurrou? — Pergunto ríspida.

Quem é esse garoto? Eu com certeza nunca o vi antes.

— Na verdade, eu dei um chute no portão, e provavelmente foi isso que te atingiu. — Ele diz meio sem graça. — Acho que exagerei nas minhas habilidades de caratê. — Ele deixa sair uma risada fraca. Isso é hora de piada?

Ainda o encarando, eu cruzo os braços e caminho até ele, enquanto Freddy só observa. Assim que estou cara a cara com ele, o vejo parar de sorrir e me encarar, me fazendo soltar um ar pelo nariz.

— Acha isso engraçado? — Me refiro a queda que tomei um minuto atrás.

— Não, de jeito nenhum. — Ele balança a cabeça rapidamente. — Eu só... — Eu inclino a cabeça esperando-o terminar. — Foi mal, eu não sabia que tinha alguém atrás da porta.

— É mesmo? — Pergunto sarcástica. Eu estou realmente irritada. — Digamos que eu não estivesse ali. Por qual motivo plausível você chutaria o portão?

— Estou com as mãos ocupadas caso não tenha notado. — Ainda o encarando, percebo-o passar a língua no interior da bochecha enquanto olha para o lado. Em seguida volta sua atenção para mim. — Eu já me desculpei, o que mais você quer?

É sério isso? Ele é o errado da história, e ainda acha que está no direito de falar assim comigo. Quem ele pensa que é? Antes que eu pudesse dizer algo, Freddy aparece entre nós dois, tentando evitar que a discussão prolongue.

— Tudo bem gente, sem estresse. — Freddy começa. — Não há motivo para brigarmos, certo? Foi só um acidente. — Eu murmuro algumas coisas e Freddy olha diretamente pra mim. — Não foi de propósito, então não tem problema, não é mesmo Emma?

Ele me encara esperando que eu concorde, enquanto o garoto faz o mesmo. Eu apenas murmuro um "tanto faz". Ele sabia que era o melhor que conseguiria de mim, então ele apenas dá de ombros e olha para o garoto a nossa frente. "Não tem problema", ele diz isso porque não foi com ele.

— Você deve ser um dos vizinhos que se mudaram para o apartamento 20, não é? Sou Freddy Fernandez, do apartamento 17. — Ele estende a mão para o garoto, o mesmo aperta.

Que ótimo. Eu sou do apartamento 22, vamos morar praticamente colados, só falta ele chutar minha porta também.

— Daniel Larusso. E sim, vou morar no 20. — Freddy pega a mala do tal Larusso, e depois começam a caminhar lado a lado até o andar de cima. Enquanto isso eu pego a minha bolsa que estava até agora no chão, e começo a caminhar em direção ao meu apartamento, que por um acaso, era a mesma direção que eles iam.

— De onde você veio? — Freddy pergunta.

Não estou andando ao lado deles, estou um pouco atrás. Mas perto o suficiente para ouvir.

— Nova Jersey.

— E tá fazendo o que aqui?

— Minha mãe arranjou um emprego numa empresa chamada Computadores e Foguetes.

— Eu nunca ouvi falar. Mas você não parece muito feliz em estar aqui.

— Eu não queria ter me mudado, pra ser sincero. É meio chato recomeçar justo agora, que estou no último ano colegial.

— Vai estudar na West Valley? — Isso está parecendo um interrogatório.

— Vou! — Era só o que me faltava.

— Você disse que aquilo foi caratê. Você sabe lutar? Eu bem que gostaria de aprender.

— Se quiser eu te ensino qualquer dia desses. — Fala sério! Ele só chutou um portão, grande coisa.

Chegamos no andar de cima praticamente juntos. Enquanto eles estão conversando e fazendo perguntas um sobre o outro, eu vou direto até o meu apartamento, que era perto de onde eles estavam. Antes de conseguir destrancar, Freddy me chama.

— Ei, Emma! — Olho para ele esperando que continue, mas ele faz um movimento com as mãos indicando para eu ir até lá. Eu reviro os olhos e então vou.

— Fala. — Percebo o tal Daniel soltar uma risada. — Algum problema?

— Você é sempre tão bem humorada? — Ele pergunta sarcasticamente. Eu apenas sorrio e respondo.

— Não, só quando me fazem cair de cara no chão.

— Você não vai esquecer isso tão cedo, né? — Apenas concordo com a cabeça. Em seguida encaro Freddy esperando que ele diga o que quer.

— Então, — Freddy começa. —Você vai na festa de amanhã, certo? Podemos ir juntos?

— Claro que vou. Não perco uma oportunidade de ir à praia.

— Certo, nos encontramos aqui fora amanhã. — Eu apenas concordo com a cabeça. — E você, Daniel? Vai rolar uma festinha amanhã na praia, sabe, em despedida das férias. Tá a fim?

— Claro, por que não!?

Enquanto eles continuam batendo papo, eu me despeço e finalmente entro em casa.

Quanto ao garoto novo, eu não o odeio nem nada, apenas fiquei irritada com o momento, e também não me agrada em nada o jeito dele. Melhor eu me acostumar com a ideia de ver sempre a cara dele, já que as circunstancias levam a isso. Talvez eu tenha exagerado? Talvez, mas não importa. Melhor eu focar em algo mais importante.  

You're still the one - Daniel LarussoOnde histórias criam vida. Descubra agora