Capítulo 45

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Abri os meus olhos e me deparei com um lindo lustre no teto. Eu poderia admirá-lo e detalhá-lo como merecido, se não estivesse chocada demais para pensar nos cristais reluzentes.

Onde diabos estou?

Ao tentar erguer meu corpo, senti que a cama estava maior do que a minha, e aquele lençol de seda definitivamente não era meu. O quarto é tão arejado e grande.

Me assustei ao ouvir um gemido sonolento ao meu lado. Virei-me e um homem — sem camisa — levantou o rosto e me olhou sorrindo.

— Bom dia. Feliz aniversário de casamento — disse ele, com a voz rouca.

— Daniel? — sussurrei, para que somente eu ouvisse aquela pergunta.

Era, de fato, o Daniel. Mas ele está... diferente. Parece mais velho, mais robusto e mais maduro também. Algo em sua expressão entrega isso.

— Dez anos, dá para acreditar?! — Ele, assim como eu, se sentou. Afagou o meu cabelo, me puxando para um abraço.

O que tá acontecendo?

Ouvimos batidas na porta e, sem esperar uma permissão, dois meninos — que chuto terem seis e oito anos — entram correndo, se jogando na cama em que estamos.

— Bom dia! — gritaram ambos. Tapei um de meus ouvidos, pelo incomodo com o barulho. — Fizemos o café da manhã. Quer dizer, ajudamos a srta. Patty a fazer — diz o mais velho.

— E por quê? Tenho certeza de que não é pelo nosso aniversário. — Daniel bagunçou o cabelo dos dois. — Não estão tentando nos bajular por causa daquele parque-aquático, estão?

Os garotos se entreolharam e então negaram, descaradamente. Eu me mantenho quieta, extremamente em choque.

"Hora de se arrumar para a escola" alguém grita do que eu suponho ser o andar de baixo. Os garotos reclamaram e, depois de muito relutar, desceram.

— Eles são iguais a você... — comentei.

Daniel riu.

— Ainda bem. Se fossem parecidos com outro homem eu ficaria muito chateado. — O olhei, ainda assustada, e ele me deu um selinho. — Melhor nos arrumarmos também. Infelizmente, nosso aniversário não é feriado. Temos que trabalhar.

O observei se levantar e caminhar até uma porta. Provavelmente o banheiro dessa provável suíte. Por impulso, tapei meus dois olhos quando vi que ele usava apenas uma cueca. Ao sumir do meu campo de visão, o ouço gritar de dentro do local que entrou:

— É sério, amor. Vem se arrumar.

Não entendo o que está havendo. Não sei onde estou. Nunca vi aquelas crianças na vida. Apenas vou na onda e sigo Daniel, que estou supostamente casada há dez anos. Eu não poderia ter viajado no tempo, poderia?

Realmente, é um banheiro. Assisti Daniel escovar os dentes, enquanto me olhava pelo reflexo do espelho. Espelho tal que, quando olhei, não pude acreditar em meus olhos. Me aproximei da bancada e observei minha expressão de espanto.

Esse não é o meu cabelo. Essa não é a minha pele. Esses não são os meus olhos. Esse não é o meu corpo.

Essa não sou eu.

Toquei meu não-rosto com minhas mãos trêmulas, sentindo cada detalhe daquela mulher que eu jamais poderia ser em nenhum tipo de futuro.

— Amor, tá tudo bem? — Ouvi Daniel perguntar ao meu lado, mas não tirei os olhos do meu reflexo. — Oi...? — Ele me sacudiu pelo braço, tentando me tirar do transe. — Ei, está me ouvindo? Oi...?

You're still the one - Daniel LarussoOnde histórias criam vida. Descubra agora