Capítulo 63

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Velar o corpo de René e enterrá-la havia sido a tarefa mais dolorosa da vida de Brianna, mas ela e os filhos estavam como mandam as regras, todos de preto, agradecendo a presença do restante da família que Brianna não via há mais tempo que podia dizer. Recepções fúnebres faziam o dia daqueles que estavam em luto ainda mais insuportáveis, pois exigiam de um controle, sorrisos e discursos que Bri ou as crianças não queiram fazer. 

Mas, com a família ali e a mãe sob a terra,ela não tinha saída a não ser juntar os cacos e tentar seguir o protocolo. Ainda que parecesse impossível,mas ser a adulta da situação a obrigava a segurar a barra, para não prejudicar as crianças que estavam abaladas. Sam passou a tarde inteira quieto, olhando para o chão ou para o celular, com os olhos encharcadas por trás das lentes de seus óculos, Lauren cumprimentava a todos com uma expressão apática amparada por Megan, a filha mais velha parecia absorver o que acontecia, diferente dos gêmeos que estavam manhosos e choravam, pediam colo e recusavam qualquer desconhecido que se aproximasse, ao menos Joseph e Nina e os pais de  Oli davam conta deles. A cada instante que passava ali Brianna só queria que aquele pesadelo acabasse. 

Teve que forjar conversas e receber condolências e pessoas que mal olharam no rosto de René durante a vida, parentes como os primos maternos e seus padrinhos que foram os primeiros a chegar na recepção pós funeral e atacar a mesa de doces, que os funcionários/amigos do restaurante de Bri estavam pondo, outras ainda menos educadas que mal falaram com ela e apareceram de surpresa foram as sobrinhas da segunda mulher de seu pai. Aquelas pessoas nunca demonstraram o mínimo de respeito por René e chegaram a culpar a falecida pelo "desvio de caráter da filha " que é como chamavam a sexualidade de Brianna. Mas, ainda que a presença delas fosse desrespeitosa ela não teve forças para expulsar ninguém, então aturou aqueles Texanos e aceitou o aperto de mão dado pelo tio de consideração que era mais um convidado inoportuno.

Outras visitas surpresas foram recebidas com mais graça, como as amigas de René que moravam em San Diego e as meninas que trabalharam com Bri na antiga cafeteria, ela não tinha convidado ninguém pessoalmente, apenas jogou o local e o horário no Facebook e esperou que as mensagens repletas de condolências iniciassem.

Brianna pensou sobre isso durante muitos momentos do dia, principalmente nos últimos instantes ao lado do caixão da mãe. Um funeral podia reunir muitas pessoas diferentes que podem não te dar valor em vida,mas choram sua morte como se estivessem ao seu lado o tempo inteiro, de qualquer forma aparentemente passamos a vida juntando gente suficiente para chorar e se arrepender, ou não, por não ter nos tratado ou estado perto quando teve a oportunidade...Hipócritas...

—A sua mãe sempre foi uma mulher incrível!—Disse Eliana, uma senhora com cabelos castanhos,rugas marcadas na face e óculos —Ela sempre falou muito bem de você!

Ver aquela senhora que deveria ter a mesma idade da mãe a fez relembrar as feições de René naquela caixa de madeira escura que agora seria seu lar, ao menos ela parecia calma, ao ponto de suas feições se assemelharem com a de alguém que está em um sonho profundo,Bri só queria ser mais religiosa para que pudesse acreditar que a mãe tinha o melhor lugar do céu reservado para sua alma,já que seu corpo, jamais sentiria a luz do sol ou teria contato com o mundo novamente.

—Obrigada por ter vindo!—Bri a abraçou e a mulher e sorriu ao se afastar

Brianna estava se sentindo sufocada de pé ao lado da porta, ter que cumprimentar cada um ali era cansativo e ouvir a mistura de vozes enquanto todos falavam ao mesmo tempo a irritava. Sem conseguir ficar mais um segundo ali, ela tocou o ombro de Lauren que estava ao seu lado

—Você pode segurar as pontas para mim? Eu preciso pegar uma coisa no quarto

—Vai lá!—Disse Lauren sem olhar diretamente para ela, a menina parecia longe dali

Apaixonadas (CONTINUAÇÃO DE POR AMOR E ME AMAR)Onde histórias criam vida. Descubra agora