90 - A carta

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"Não é a primeira vez que escrevo uma carta

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"Não é a primeira vez que escrevo uma carta. Essa é a quinta, se não estivermos contando com todos os papéis que joguei fora em tentativas frustradas de te contar a verdade. As outras quatro foram para G. Ele sempre gostou de receber cartas no aniversário, e eu passei a escrevê-las para ele aos meus quatorze anos, quando Ren disse que queria receber cartas alguma vez na vida enquanto assistíamos um filme. Não posso dizer que eu gostava de escrevê-las, porque davam muito trabalho, mas agora fico feliz por ter ajudado meu irmão a riscar algo da sua lista de "coisas que quero fazer antes de morrer".
No dia em que você foi a minha casa, especificamente no dia vinte e dois de julho, faziam seis meses em que eu havia perdido o meu melhor amigo. Nesse mesmo dia eu descobri, abrindo as caixas no quarto do Ren, que ele havia guardado todas as cartas que dei a ele, como outras centenas de lembranças. Foi uma manhã difícil, mas não se preocupe, no fim, as coisas deram certo. Ren também guardou a girafa de pelúcia que vocês ganharam no festival, estou levando-a comigo agora. Ele gostava muito de você, Robby, e eu também.
Oito meses atrás eu fui ao apartamento do meu irmão para ele me mostrar tudo que nosso pai o havia deixado, disse a Daniel que ficaria fora alguns dias, mas as coisas não saíram como planejado. Eu nunca achei que uma simples visita poderia se transformar nos piores meses da minha vida. Ainda me pergunto se Ren estaria vivo se eu não tivesse pedido para ele me trazer de volta. Ou se ele ainda estaria vivo se tivéssemos adiado a volta por mais um dia. Um único dia.
Acho que essa é a parta da carta em que eu explico o que aconteceu naqueles três malditos meses em que você esteve na prisão. Durante a noite, logo no primeiro dia de visita, recebi uma ligação de Amanda. Ela estava chorando quando me explicou sobre a briga na escola, e chorou ainda mais quando disse que alguns amigos saíram machucados. Eu não me lembro direito o que ela disse, para ser sincera. G pegou o celular da minha mão assim que percebeu o meu desespero ao saber que você era um foragido. Nunca vi meu irmão olhar para mim daquela forma. Na verdade, eu me lembro de ele ter feito aquele mesmo olhar quando descobriu que nosso avô havia morrido. Ren ficou em silencio por quase cinco minutos depois de desligar o telefone, pensando em uma forma de amenizar a notícia. Então ele disse as seguintes palavras, ainda consigo me lembrar delas; "Miguel caiu do segundo andar, está em estado grave. Robby está sendo procurado pela polícia". No mesmo instante, pedi a Ren para que me trouxesse de volta. Precisava ir atrás de você e ver como meus amigos estavam. Ele não hesitou nem por um segundo para pegar a chave do carro.
Queria que tivesse hesitado. Queria que ele tivesse me dito não, mas eu sei que Ren nunca faria isso. Partimos menos de quinze minutos depois da ligação e no caminho nos deparamos com uma chuva forte na estrada. Era madrugada, as pistas estavam vazias e Ren não estava dirigindo rápido. Mas demos de cara com os faróis de um caminhão. Sinto todo o meu corpo arrepiar ao lembrar do barulho que os pneus fizeram ao derraparem sobre a pista. O carro saiu da estrada e capotou, segundo o motorista do caminhão, três vezes. A última coisa que me lembro antes de desmaiar é de estar de cabeça para baixo, tentando acordar o Ren. Eu não estava mais acordada quando a ambulância chegou e depois, quando acordei no hospital, disseram que o meu irmão não havia saído vivo daquele carro. Os LaRusso souberam do acidente na mesma madrugada e eu pedi para não contarem nada, principalmente para você. Não queria que tivesse mais alguma coisa com o que se preocupar. Desculpe por isso, agora percebo que estava errada, você tinha o direito de saber da verdade Robby, e eu preferi esconder isso de você. Quem sabe, se você soubesse, tudo isso poderia ter sido evitado. Eu entrei em coma duas semanas depois do acidente. Não soube quando você se entregou, quando teve seu julgamento, nem quando foi para a prisão. Quando acordei, Miguel também havia saído do coma e você estava no reformatório. Fui te visitar no mesmo dia em que recebi alta, estava me preparando para te contar tudo, mas você estava magoado e me pediu para não voltar mais. Eu te ignorei, como você sabe. Voltava todos os sábados e deixava livros para você. Depois eu me sentava na frente do reformatório e esperava pelo fim do horário de visitas, discutindo comigo mesma se eu deveria entrar e pedir para te ver ou continuar longe, como você havia me pedido.
Queria ter te contado o que aconteceu com meu irmão, não que você descobrisse por outra pessoa. Queria que você estivesse por perto enquanto eu me recuperava de todos os traumas que ficaram, mas as vezes fico feliz por você não estar, porque assim não precisou conhecer a Akemi que me tornei. É um alivio saber que você não precisou conhecer a Akemi pós-trauma, mas me sinto triste que isso tenha ocasionado em uma despedida por carta. Estou indo embora de Los Angeles, Robby. Espero que meu último momento com você não tenha sido uma briga e espero que perceba que o Cobra Kai não é o lugar para o um garoto como você. O Cobra Kai não é o lugar para nenhuma versão do Robby Keene, porquê qualquer Robby é melhor que o Cobra Kai.
Se eu pudesse mudar o passado, faria as coisas diferentes, me desculpe por não conseguir fazer isso. Se Ren estivesse aqui, ele não me deixaria desistir de nós. Ele me diria para ir atrás de você e assumir todos os sentimentos que eu tento por tantos meses esconder. Mas agora que ele não está, eu não consigo fazer isso. Estou cansada demais para continuar tentando ter você de volta, e eu não quero dizer adeus, porque isso significa para sempre. Então, até logo, Sol."

Sol & Lua - Cobra Kai - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora