110 - Cinco minutos.

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	Samantha estava escondida dentro de um dos quartos do dojô, atrás de uma cômoda

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Samantha estava escondida dentro de um dos quartos do dojô, atrás de uma cômoda. Ela se colocou em posição de luta assim que ouviu a porta abrir e estava prestes a tentar um ataque surpresa antes de perceber que quem havia acabado de entrar no cômodo, na verdade, era Miguel.

- Ah, é você. - ela relaxou os músculos.

- É, sou eu. - respondeu Miguel, rindo.

- Desculpa. Acho que só sobrou a gente.

- Não, a Akemi ainda tá viva.

- Você a viu?

- Não faço ideia. Ela desapareceu.

- Cadê seu ovo?

- Ta no meu bolso.

- Não parece ser um lugar seguro.

- Eu sei. É... então, você voltou pro caratê?

- Voltei. Eu to tão surpresa quanto você. Acho que eu só precisava lembrar o objetivo dessas aulas. Eu já to começando a me sentir equilibrada de novo.

- Isso é ótimo. Eu fico feliz por você. Eu não vou mentir, no começo eu achei meio estranho esse lance de amigos, só que ta rolando tanta coisa agora que acho que não precisamos mais de outra complicação. E sinceramente, acho que estarmos separados ajudou nessa minha relação com o Robby, então, valeu.

Ela sorriu.

- Fico feliz por isso.

O ataque surpresa que Samantha planejava, agora, havia sido utilizado por Chozen, que atingiu as pernas de Miguel com um bastão de madeira, o derrubando. O garoto caiu, sem tempo para se apoiar, destruindo o ovo que guardava no bolso da bermuda com o baque contra o chão. Samantha rapidamente se recompôs, voltando a sua posição de luta.

- Quer o penúltimo ovo? Vai ter que passar por mim.

Ele a encarou por alguns segundos, depois tirou de dentro do kimono o ovo.

- Esse ovo?

- Que?

A garota puxou sua mochila, vendo a abertura escancarada nela. Suspirou, revirando os olhos com a derrota.

- Um passarinho na mão. - ele apertou o ovo, que explodiu na palma de sua mão. - Indefeso.

Balançou a cabeça negativamente, depois deu meia volta. Sendo seguido pelos dois alunos abatidos, voltaram até o deck principal, onde Chozen analisou todo o campo que tinha para Akemi se esconder. A última vez em que vira a garota foi quando ela correu para longe, logo após o seu assobio indicar que o treino havia começado. Lembrou-se, então, que o caminho que ela tinha seguido era o mesmo que Eli e Anthony, o que significava que ela deveria estar escondida em algum lugar do estacionamento.

- Alguém sabe onde ela está? - perguntou Bert, encarando o sensei a sua frente que parecia pensar em algo.

Os murmúrios de "não" se seguiram por alguns segundos, até Demetri dizer algo diferente:

- Ham, pessoal, deem uma olhada naquilo ali.

Os olhos de todos seguiram o dedo indicador de Demetri, encarando o lugar para onde ele apontava. A surpresa tomou conta do rosto de todos eles no mesmo instante.

- Essa garota é maluca. - comentou Cris, rindo com a audácia da amiga.

- Não acredito que ela fez isso.

- Como foi que ela chegou lá em cima?

De cima do telhado do dojô, Akemi sorriu e acenou para eles. Tirou a mochila das suas costas e a balançou, encarando Chozen a gritar.

- Seu tempo está acabando! É melhor vir logo!

- Não vou lutar com você no telhado, Akemi-san!

- Tudo bem, mas eu não vou sair daqui, o que significa que eu ganhei, não é? - ele se sentou em uma das telhas, rindo.

Chizen suspirou como se estivesse bravo, então começou a seguir a mesma direção que ela, deixando os alunos para trás, observando o que acontecia curiosos.

- Se ela cair dali, quais são as chances de um osso quebrado? - perguntou Miguel.

- Não é tão alto. E ela vai cair na grama. - respondeu Demetri. - Eu diria que pouco menos de sessenta porcento. Seria setenta, mas como é a Akemi, diminui a porcentagem.

- Deveríamos fazer alguma coisa. - murmurou Robby. - Se ela cair de lá...

- Talvez a gente consiga ganhar se todo mundo proteger o último ovo. - interrompeu Anthony.

- Tarde demais. - disse Falcão, o olhar fixo no telhado. - Ele chegou.

Do deck de treino, os alunos assistiam a conversa dos dois em cima do telhado atentos, tentando imaginar que assunto poderia ser.

- Akemi-san, desça agora do telhado.

- Sem chance. - retrucou a garota, erguendo os braços a frente do corpo e fazendo posição de luta. Olhou para seus amigos por cima do ombro. - Aí, quanto tempo falta?

- Uns cinco minutos. - respondeu Demetri.

- Você consegue, Akemi! - gritou Falcão, incentivando a melhor amiga.

- Só desço daqui quando os cinco minutos acabarem, sensei.

- Você não me deixa escolha. - ele suspirou. - Ni rei!

No mesmo instante, os dois se cumprimentaram. Akemi esperou pacientemente que Chozen desse o primeiro passo. Não queria gastar sua energia em uma luta de verdade e tudo que precisava, na verdade, era se defender para evitar que ele chegasse perto demais do ovo. Por isso, não pretendia ataca-lo, mas estava pronta para bloquear, desviar, defender, e, de vez em quando, nos momentos oportunos, contra-atacar rapidamente, apenas para desconcentrá-lo.

Todos os ataques de Chozen eram rápidos e precisos. Ele não queria machucar a aluna, muito menos fazer com que ela caísse do telhado, mesmo que soubesse que não seria uma queda mortal, nem resultaria me um osso quebrado, já que, quando era sensei de Akemi, antigamente, ensinara a garota a cair de diversas formas e alturas. Tinha confiança o suficiente para saber que Akemi não arriscaria subir no telhado se não tivesse certeza de que conseguiria ter uma queda segura, caso ela acontecesse. A garota não era burra, na verdade, demonstrava cada vez mais a capacidade de criar planos inteligentes quando treinava com Chozen, e ele se orgulhava muito disso.

Portanto, os socos e chutes eram frequentes, mas não carregavam a força total que Toguchi conseguia distribuir. E Akemi, não sendo a primeira vez em uma luta contra o sensei, sabia que ele estava pegando muito mais leve que o normal, o que significava que seu plano, mais uma vez, estava dando certo.

- Três minutos, Akemi! - dessa vez, Bert quem gritou para avisá-la.

- Vamos, Kemi! - os outros amigos comemoraram em uníssono.

Quando decidiu subir no telhado, o motivo não era ter um bom esconderijo, por mais que essa também fosse uma das consequências. Estando em terreno alto e em meio a um treino básico, sabia que Chozen, quando a encontrasse, pegaria muito mais leve do que se os dois estivessem lutando em um local confortável, como aconteceria se ela estivesse no chão, onde todos os seus amigos preferiram ficar. Sabia, também, que mesmo se caísse daquela altura, uma queda de pouco menos de três metros não resultaria em nada além de dor física, além de que, graças ao telhado do dojô ter sido feito em estilo japonês, Chozen, enquanto a atacava, teria dificuldades para manter o equilíbrio naquele local íngreme.

As vantagens de terreno, junto de todas as outras que ela sabia que conseguiria, estavam do seu lado.

Tudo que Akemi precisava era resistir por mais três minutos.

Ela desviou de um chute giratório de Chozen e observou o pé do sensei desequilibrar levemente ao retornar para um dos tijolos do telhado. Aproveitou o momento, então, para um contra-ataque. Levou o punho esquerdo à frente, o direto assumindo seu lugar para o soco quando ele foi bloqueado. Mesmo assim, sua tentativa falhara e Akemi precisou dar um impulso rápido para cima quando viu a perna de Chozen se mexer para chutar a sua com o objetivo de fazê-la perder o equilíbrio que ela lhes dava e cair com as costas no telhado, destruindo o ovo na mochila. Por sorte, a garota desviou graças ao pulo inesperado, e ainda no ar levou a perna direita à frente, atingindo uma das costelas de Chozen, o obrigando a soltar um dos braços da garota para se equilibrar, antes que escorregasse.

Assim que se recuperou, as sobrancelhas se franziram ainda mais e ele suspirou, recuperando o ar que perdera com os últimos golpes. Depois atacou Akemi novamente, dessa vez, apenas com chutes. A garota conseguiu desviar de todos, os passos que dava para trás mantinham distância o suficiente entre os dois para atrasar os golpes seguidos que Chozen pretendia dar. Mesmo assim, o espaço proporcionado pelo telhado estava chegando ao fim. Mais dois passos, provavelmente, e ela já não teria mais onde apoiar os pés, resultando em sua queda na grama verde, que esperava alguns metros abaixo.

Não podia cair.

Não queria cair.

- Um minuto e trinta segundos! - gritou Samantha.

- Isso! - comemorou Miguel.

- Vai, Akemi! - gritou Eli.

- Você consegue! - completou Robby, olhando para os garotos ao seu lado e rindo junto deles, os três orgulhosos da garota que lutava com Chozen.

Um minuto e trinta.

Um minuto agora, talvez.

Preciso conseguir.

Eu consigo.

Eu já consegui.

- Você perdeu, velhote. - brincou Akemi, rindo.

Chozen balançou a cabeça negativamente e enrugou o rosto.

- Eu já disse a você, Akemi-san, não cante vitória antes de ganhar. E não... me chame... de velhote.

Ele fingiu um chute que Akemi levou a perna direita para bloquear, enquanto os braços ficaram livres para defender os socos que vieram em seguida. Mesmo que tivesse previsto o ataque falso, uma característica de Chozen sempre que os dois lutavam juntos, ela não previu que enquanto a distraia com os socos ele fosse fingir novamente, a fazendo defender o ataque inexistente e não ter tempo o suficiente para trocar a perna e defender o chute verdadeiro que veio pelo outro lado. A perna de Chozen atingiu sua panturrilha com uma força maior do que todos os outros ataques, o suficiente para que ela se desequilibrasse e escorregasse pelo telhado.

- AKEMI! - seus amigos gritaram alto quando viram o que tinha acontecido e passaram a correr em sua direção.

Akemi havia caído. Estava no chão, os braços esticados para os lados na grama verde do dojô, perto do corredor lateral onde ficava a cerca que Daniel sempre os fazia lixar. Ela abriu os olhos, sentindo a dor momentânea me um dos seus ombros. Ao cair, antes de encontrar-se com o chão, fizera um rolamento que levara a dor do impacto para um único local do seu corpo, não demoraria muito para que ele se recuperasse, logo após alguns minutos de dormência. Observou Chozen pular do telhado, caindo em pé ao seu lado.

- Bom rolamento, Akemi-san. Mas imagino que o último pássaro esteja morto agora.

- Você tá bem? - perguntou Robby, ajoelhando-se ao seu lado.

Falcão e Miguel se aproximaram, as mãos tocando os braços da garota e a ajudando a erguer o corpo. Akemi se sentou, a mochila em suas costas completamente amassada.

- Você podia ter matado ela! - gritou Demetri, irritado com a falta de segurança que aquele treino estava proporcionando. - Por causa de um ovo.

Akemi riu.

- Você quase conseguiu. - murmurou Eli.

- Faltaram trinta segundos.

Ela balançou a cabeça negativamente, então tirou as mochilas das costas.

- Não. Eu consegui. Eu venci você, velhote.

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Sol & Lua - Cobra Kai - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora