Pouco depois do anoitecer, parte do grupo de alunos do Miyagi-Do e Presas de Águia, um grupo composto por Sam, Falcão, Demetri, Bert e Miguel foram a casa de Arraia para descobrir a verdade sobre a prisão de Kreese. E, enquanto esse grupo ia seguir o plano principal, Akemi, Robby e Devon estavam saindo do Cobra Kai depois de causar uma pequena confusão dentro dele e seguindo o endereço enviado por Demetri para que eles fossem encontra-los no apartamento do Arraia.
Ao chegarem no local, seus amigos já estavam do lado de dentro. Falcão quem abriu a porta, a surpresa e confusão tomando conta do seu rosto quando viu Devon junto do casal.
- O que ela ta fazendo aqui?
- Eles foram até o Cobra Kai e me convenceram a voltar. - disse Devon, com um sorriso.
Falcão intercalou o olhar entre Akemi e Robby, depois voltou para Devon, abrindo um sorriso. Ele entrou na casa, seguido pelos três enquanto gritava:
- A Devon voltou pra gente!
- Como é? - Miguel e Bert viraram o corredor apressados, alegres ao verem a amiga.
As boas vindas de Devon duraram alguns minutos até que todos se lembrassem do real motivo para estarem no apartamento de Arraia. Segundos depois de rodearem a mesa onde ele estava sentado, o interrogatório retornou.
- Vamos tentar mais uma vez, certo? - disse Demetri. - O que rolou aquela noite? Quem te bateu?
- Eai Bert, como se sente?
- Escuta foca em mim, foca em mim.
- Em esfaquear um homem bem no meio das costas e presenciar o sangue dele escorrendo por todos os lados...
- Caramba chega! - gritou Falcão, batendo na mesa. - Para com esse joguinho.
Arraia engoliu em seco e desviou o olhar do grupo, deixando que o silencio tomasse conta da sala.
- Por sua causa e por causa do Silver o meu pai sofreu muito. E muitas outras pessoas vão sofrer se você ficar ai sem fazer nada.
- Mas se eu contar o que aconteceu de verdade ele vai acabar descobrindo e eu não posso. Não é tão simples assim, pessoal.
Um sentimento de desesperança começou a assumir o lugar.
- E se você usar os bonecos? - sugeriu Akemi, atraindo olhares confusos. - Vai. Usa os bonecos, Arraia.
Apesar de ninguém parecer ter entendido o que ela queria dizer com aquilo, uma lâmpada pareceu se acender na mente de Arraia, que se animou com a ideia.
- Beleza, eu to trabalhando em uma nova campanha de RPG.
- Ta a gente não tem tempo pra isso, vamos embora. - interrompeu Miguel.
- Espera ai. - disse Robby. - Fala qual é a dessa nova campanha.
Arraia pegou um dos bonecos de ação que estava em cima da sua mesa de jogos.
- Era uma vez o incrível sábio monge anão e ele era o membro do clã mais legal e mais incrível de todos. E ele foi banido por causa desse lance de politicamente legal e correto, mas ele pagou pelos seus erros e voltou. Acontece que o clã tinha um novo líder. - ele colocou outro boneco na mesa. - E o monge foi impedido de fazer parte dele. E isso sem motivo algum, só pra vocês saberem. Então, o que o monge fez? Ele fez um pacto com o rei do cabelo prateado pra derrubar o atual líder. - com o terceiro boneco, Arraia derrubou propositalmente o que ele havia denominado como "novo líder" na mesa. - E em uma manhã antes de todos os outros guerreiros chegarem o rei atacou cobardemente o monge, várias e várias vezes. Então o líder acabou sendo incriminado pelo ataque. O líder foi capturado e o rei de cabelo prateado assumiu o clã.
- Tá, então você... o monge anão... foi aceito no clã?
- Foi. - respondeu Falcão por ele. - E com benefícios.
- Isso. - concluiu Arraia. - Com benefícios. É...
- Entendi. - disse Miguel. - E por que não conta pra todo mundo o que aconteceu?
- Porque ele não quer perder os benefícios. - respondeu Sam irritada, se levantando.
- Não! Não. Olha só, o monge devolveria tudo se pudesse, mas... o rei do cabelo prateado, vocês sabem, ele quase matou o monge. Ele podia ter matado. E por que? Pra ganhar poder. Então, sim, o monge tem medo do que o rei faria pra manter o poder. E acho que o monge só queria voltar pro clã porque pensava que podia ser tipo... um bom e novo guerreiro. Assim como vocês Falcão, Samantha, todos vocês. Mas ele não é bom e tampouco nobre. - Arraia fungou baixo, tentando segurar o resto do choro. - Muito menos guerreiro. Ele só passa o dia todo jogando essa coisa. O monge ta com medo. Eu não consigo. Me desculpem.
- Ótimo. - murmurou Sam. - Obrigado por nada.
Decepcionada e irritada, Samantha deu meia volta e saiu. Akemi não tentou ir atrás dela, Miguel já estava fazendo isso. Na verdade, Miyagi estava preocupada com outra coisa. O amigo sentado na cadeira a sua frente, com a cabeça baixa segurando as lágrimas. Entendia Arraia e porquê ele não queria entregar Silver, mesmo que, se estivesse no lugar dele, não teria as mesmas escolhas.
- Ai, Arraia. - ela o chamou. - Relaxa. A gente vai dar um jeito.
- É. - continuou Bert. - Quando resolvermos tudo, você pode voltar pro clã.
- Eu tive uma ideia. - anunciou Akemi, olhando ao redor. - Fiquem aqui.
E saiu andando, os deixando para trás e seguindo o mesmo caminho por onde Miguel e Samantha haviam ido.
Ao virar um dos corredores, já do lado de fora do apartamento, viu Miguel e Sam parados, conversando. Eles não a viram chegar e ela não deixou que notassem sua presença ao perceber que o assunto, na verdade não era sobre o Cobra Kai e sim sobre a relação deles. Escondida, esperou que eles terminassem a conversa, feliz por estar conseguindo ouvir tudo em primeira mão. Anotou mentalmente que deveria contar o que conseguiu escutar para Robby depois, porquê fofocar era um passatempo do qual os dois gostavam bastante.
- Nesse verão eu só queria que tudo voltasse ao normal. Mas tudo não passou de uma mentira. Se eu soubesse da trapaça no torneiro talvez o meu pai não tivesse fechado o Miyagi-Do. Talvez eu não tivesse pensado em desistir. E talvez eu não... a gente não tivesse...
- Eu sei.
- Isso é tudo culpa da Tory.
Akemi levou um susto quando alguém cutucou seu ombro. Ela estava quase gritando quando Robby levou a mão a sua boca, abafando qualquer som e a acalmando. Um segundo depois, no entanto, os dois precisaram contar as risadas para que não fossem pegos espiando.
- Você está ouvindo a conversa deles? - Robby sussurrou, fingindo estar desapontado enquanto segurava mais risadas.
- O que você está fazendo aqui? Não mandei ficar lá?
- Eu desobedeci e vim ver o que você estava planejando. Agora já sei. Fugiu de lá pra ouvir fofoca. Sem mim!
- Eu ia te contar tudo depois.
- Shhiiu. - Robby tampou a boca dela novamente quando o casal no corredor voltou a conversar.
- Olha, Samantha, eu sei que você odeia a Tory. E tem muitos motivos pra isso. Mas... você não sabe como é estar no Cobra Kai.
Akemi sentiu Robby apertar sua mão após a frase e desviou o olhar para o namorado, que estava atento em Miguel. Sentiu o coração acelerar e ser acompanhado por uma pitada de dor ao pensar que Robby havia se identificado com o que Miguel estava falando. Akemi não sabia como era estar no Cobra Kai. Mas Akemi sabia como era lidar com senseis como Silver e Kreese, afinal, ela era ex-aluna de Kim Da-Eun.Doía pensar no que o seu namorado e todos os seus amigos devem ter sofrido naquele lugar. E doía ainda mais pensar que os dois amigos mais próximos de Robby ainda estavam do lado deles, se virando contra ele.
- Eu sei. E deve der sido muito difícil pra ela admitir tudo aquilo. Ela deveria ter contado antes? Deveria. Claro que deveria. Mas... pelo menos ela decidiu te contar, Samantha. E agora, agora vocês têm que resolver o que vai fazer.
Akemi suspirou, dando um passo a frente e decidindo sair do seu esconderijo. Um pouco confuso, Robby foi atrás dela, mostrando ao ex-casal no corredor que ele também estava ali.
- Escuta, tem uma coisa que preciso contar pra vocês. - ela anunciou, atraindo o olhar dos outros dois. - Venham, o resto do pessoal também tem que saber.
Eles voltaram para dentro do apartamento, encontrando o restante dos amigos em uma conversa. Eles discutiam sobre qual deveria ser a ideia de Akemi e se eles iriam ou não procura-la como Robby. Antes de chegarem a uma decisão a garota estava de volta a sala, então toda a atenção voltou-se para ela.
- Qual é a sua ideia? - perguntou Demetri, morrendo de ansiedade.
- Sentem. - ela mandou, puxando uma cadeira vazia para ela.
O restante do grupo fez o mesmo, rodeando toda a mesa.
- Só contei isso pro Robby, no dia da luta pra entrar no Sekai Taikai. Não contei antes porquê não achava necessário, mas talvez vocês queiram saber agora.
- Pare de nos enrolar e conta logo. - reclamou Devon, tão ansiosa quanto Demetri.
- Eu sabia sobre o arbitro ladrão.
Eles olharam uns para os outros, todas as expressões repletas de surpresa e confusão. Uma das pessoas na mesa, por outro lado, parecia decepcionada com a notícia.
- Você sabia? - indagou Sam, baixo.
- É.
- Como? - perguntou Falcão. - Como soube?
- Só tive certeza quando Tory falou com a Sam. Mas no dia do torneio eu desconfiei.
- Por que não falou pra gente?
- O que eu deveria dizer?
Samantha bufou, levantando-se da mesa.
- Não sei. Quem sabe vir até mim, sua melhor amiga, e dizer que a luta que eu perdi e que fez o Miyagi-Do perder o título de melhor dojô tinha sido um roubo? Você deveria ter me dito! Deveria ter dito pro meu pai! Você sabe tudo que ele passou depois do torneio e nunca pensou em nos contar que tudo não passava de uma farsa!?
Conforme Samantha aumentava o tom de voz, Akemi respondia a garota com um silêncio continuo e um olhar severo. Ela se levantou, aproximando-se da amiga, que cerrou os punhos. Ao perceber o movimento defensivo, Akemi intercalou o olhar entre a mão da garota e seus olhos.
- Por que está cerrando os punhos? Não pretende iniciar uma luta comigo, não é?
- Você deveria ter me contado.
- Deveria? E o que você faria se soubesse?
- Eu contaria as pessoas. Contaria ao meu pai! Podíamos ter acabado com o Silver meses atrás! Se todos no torneio soubessem do roubo...
Akemi mordeu os lábios, tentando segurar uma risada irritada que escapou.
- Você está achando graça? Eu estou falando sério, Akemi! Leve uma coisa a sério pelo menos uma vez! Pare de agir como uma idiota!
Ela sentiu as mãos de Sam tocarem seu ombro e a empurrarem para trás. Imediatamente, Miguel levantou-se e correu para segura-la, enquanto Robby colocou o corpo na frente da namorada.
- Você quer ouvir o que tenho a dizer? - indagou Akemi. - Ou ainda não terminou seu ataque de raiva?
- O que você quer dizer? Escondeu mais coisas de nós? É isso que você faz. Esconde as coisas dos seus melhores amigos. Você sempre esconde tudo. Não confia em nós.
- Já chega, Samantha. - mandou Falcão, irritado. - Se a Akemi não nos contou foi porquê ela teve um motivo.
- Ela só pensa nela mesma.
- Você sabe que isso não é verdade, Sam. - respondeu Miguel.
- Sabe porquê não te contei do roubo no torneio? - os olhos pousaram em Akemi. - Porque você não iria fazer nada, Samantha. Você espalharia a notícia, diria que temos que nos vingar, faria uma cena daquelas. - ela mudava a entonação em algumas palavras, tornando-as mais fortes e longas. - E no fim, não daria em nada. Eu teria que parecer em algum momento, em alguma das brigas que você fica arrumando, pra te defender. Mas eu só penso em mim, não é? Fui eu quem convenci nossos amigos a irem ao fliperama brigar com o Cobra Kai e causei o braço quebrado de Demetri. Fui eu quem estragou o baile de formatura pra brigar com a Tory. Fui eu quem causou a briga na escola. Fui eu quem causou a briga no futebol. Fui eu quem causou a briga na sua casa onde eu parei na porra do hospital depois de te defender de um nunchako! Fui eu que fiz tudo, Sam, porquê eu só penso em mim.
Akemi revirou os olhos, desviando o olhar do dela e virando-se para os outros amigos.
- Como eu disse, tenho um plano. Encontro vocês no dojô em uma hora.
Então virou-se e foi embora, deixando o silencio ensurdecedor após a confusão para trás..
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Sol & Lua - Cobra Kai - Livro 2
Teen FictionEssa história é a continuação do livro "Sol & Lua - Cobra Kai - Livro 1". Não dá pra ler essa história sem ler a outra antes. Sinopse do Livro 1: Uma mudança repentina de país fez com que Akemi tivesse que se adaptar a um novo local. Vizinha dos L...