⚠️ Este capítulo terá vários gatilhos, flashbacks, e cenas pertubadoras, caso você não se sinta confortável com esse tipo de assunto, recomendo que não leia.Trigger Warning/TW: violência física, abuso sexual, tortura psicológica ⚠️
Por Elisa Hermans
Acordei já no outro dia morrendo de dor de cabeça
Começar o dia com o pé esquerdo.
Eu sei me controlar quando eu quero, juro que sei, mas ontem alguma coisa deu errado
Fui ao banheiro e a primeira coisa que vi foi meu reflexo no espelho.
Que decepção. Se eu falar que parece que caminhões passaram diversas vezes por cima de mim definitivamente não seria mentira.
Jogo meu cabelo que estava solto para trás, de modo que as madeixas castanhas não cubram a blusa que estou usando.
Eu estou cheia de olheiras, ver isso me lembrou de algo, algo não muito bom.
Quando meu pai morreu à um tempo atrás, eu comecei à ter crises de ansiedade, todas as noites.
A maioria das vezes eu ficava em baixo dos cobertores chorando baixinho, pois não queria incomodar minha mãe, já que de certa forma para ela também era difícil.
Eu me sentia sozinha, realmente sozinha, e é horrível. Eu não contava o que estava sentindo para ninguém, talvez por medo. Na minha cabeça se nem eu me entendia ninguém mais podia entender, na minha cabeça todos me julgariam e falariam que meus problemas não eram nada, que eu deveria ficar feliz por ter o mínimo, na minha cabeça falar para as pessoas não ajudaria em nada, elas só me olhariam com pena e me tratariam diferente, na minha cabeça falariam que eu só queria chamar atenção, e aquilo foi me sufocando
A situação toda era horrivel, eu cheguei à me cortar, não uma vez...várias e várias vezes, geralmente no pulso, mas quando minha mãe começava a desconfiar eu passava corretivo ou base nas cicatrizes, e mudava o lugar, para a coxa, geralmente, mas quando chegava o verão era difícil esconder.
Íamos para a casa de praia e automaticamente eu teria que usar biquínis ou maiôs, as coxas iriam aparecer, e as cicatrizes e cortes também...eu dava um jeito, falava que estava menstruada, indiposta ou coisas assim, ia para o banheiro quando ninguém estava prestando atenção e me permitia chorar, um pouco.
Até o dia em que minha mãe realmente descobriu, e me levou ao psicólogo.
Nesse dia não teve desculpa em falar que foi o gato da vizinha ou mudar de assunto rapidamente, só que diferente do que eu pensava ela não brigou comigo muito menos deu sermão, ou me julgou, simplesmente me abraçou quando eu estava chorando e beijou minha cabeça falando que iria ficar tudo bem.
Depois de alguns anos na psicóloga realmente melhorou, eu entendi melhor meus sentimentos e todas aquelas sensações, parei de me cortar, mas até hoje tenho crises de ansiedade, não com tanta frequência quanto antes, mas tenho.
Eu tomo remédio para dormir em algumas noites, mas fico contente pelo simples fato de não ter a necessidade que tinha antes.
Anos atrás dormir era uma palavra desconhecida para mim, a não ser se tomasse remédios, e aquilo era um vício, uma necessidade.
Sem remédio significava não dormir, não dormir significa ficar a noite inteira acordada, e consequentemente ficando a noite toda acordada pensamentos ruins viriam, lembranças ruins também.
Eu faço piadas, conto fofocas, bebo, sorrio, mas no fundo quem sabe tudo que eu passei e até hoje passo sou eu.
As noites mal dormidas, no dia seguinte o travesseiro molhado de lágrimas de uma noite inteira só eu sei.
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O Meu Novo Vizinho
RomanceElisa Hermans, uma garota indepedente, altruísta, e sentimental se muda para uma cobertura com sua mãe. Ela mudou muito depois da morte de seu pai e mesmo com o passar dos anos ainda tem barreiras que precisam ser quebradas. Matheus Bennet, nada ma...