A médica está à minha frente com os exames prontos. Mais ninguém está no quarto para além de nós e vejo-me a desejar que mais alguém estivesse.
A médica quis que fosse só eu a receber a "notícia". Fiquei ansiosa.
Liam voltou hoje de novo, no entanto saiu há algum tempo porque a enfermeira disse que eu precisava de descansar e dispensou-o. Não sei se ainda se encontra no hospital, e talvez não esteja. Porque estaria mesmo? Ainda não percebi porque ele veio, porque ele se importa comigo.
A médica causa um certo suspense. Será que ela sabe exatamente o que se passa comigo? Será que vou saber finalmente o que há de errado?
"Dorothy, não é?" Ela sabe que esse é o meu nome, está apenas a fazer tempo, por isso não lhe respondo. "Bom, os resultados foram... inconclusivos... de uma certa forma."
Fico confusa, embora não tenha sido a primeira vez que ouvi isto. Não estou surpreendida, no entanto gostaria de saber o que "de uma certa forma" realmente significa.
"O que isso quer dizer?" a médica parece espantada por eu ter falado, mas recompõem-se logo de seguida.
"Bem, nada parece de errado consigo, é como se nada tivesse acontecido, o que sugere que tenha sido apenas uma queda de tensão. Mas... algo parece errado. A taxa de açúcar no seu sangue é normal, e não encontramos nenhuma anomalia para justificar o desmaio. Ou seja, não devia ter desmaiado apenas por uma quebra de tensão como a que supostamente teve. " As suas palavras não dizem nada do que eu já não saiba. Eu sei que não era nada disso, nunca foi.
"Então presumimos que fosse algo psicológico, mas outra vez é inexplicável o seu desmaio. Já fui informada das suas seções e do pequeno sucesso de quase dois meses. Mas pelo que vejo, ninguém sabe ainda o que há e seja o que for que tenha, parece ter voltado mais forte, daí o seu desmaio. Gostaria de fazer mais exames obviamente, principalmente ao seu cérebro para tentar encontrar alguma irregularidade, mas depois disso já pode ir para casa. " Ela esclarece e vira-se para se ir embora.
"Quanto tempo vai demorar?" Ela para. "A que horas posso sair daqui?"
"Bem, vamos deixar-te descansar um bocado agora e daqui a uma hora vamos fazer os próximos exames. Então, acho que daqui a três horas estás despachada." Ela sorri e sai do quarto.
Como é suposto eu descansar agora? Quer dizer, ela não me disse nada de novo, mas tenho medo que nunca se descubra o que eu tenho. Tenho medo que, se descobrirem, não haja cura. E que eu fique presa a consecutivas recaídas para sempre.
Eventualmente, sinto-me dormente e adormeço.
•
O Sol bate-me na cara levemente fazendo-me sorrir. O calor abraça-me todo o corpo, aconchegando-me.
Não sei onde estou. Mas está Sol.
Estou com os olhos fechados para sentir melhor o caloroso e agradável ambiente.
Não há vento, nem um pouco de brisa. Nada.
Ouço algo. Um barulho de alguém a aproximar-se. Mas não abro os olhos. Sinto-me tão bem.
Esse alguém se senta à minha beira. O banco abana devido ao peso repentino. Os meus olhos continuam fechados, saboreando o Sol, que agora está mais fraco.
"Doty."
Sinto o Sol a quase desaparecer. A sua luz deixou de ser intensa e eu abro os olhos para encontrar o meu pai sentado ao meu lado. Não tenho reação.
"O que estás aqui a fazer" a minha voz é calma, eu própria estou demasiado calma.
Eu sei que isto é um sonho. Se calhar é por isso que estou calma, porque sei que isto não é real.
"Eu amo-te, Doty." Sinto lágrimas nos meus olhos, mas sorrio. Apesar de tudo, eu sempre quis ouvir isto do meu pai.
"Eu amo-te, pai." E apesar de tudo, eu sempre o amei.
•
Os exames já estão completos, mas os resultados só saem amanhã, então a médica mandou-me para casa e marcou uma consulta amanhã para vermos os resultados.
Estou tão cansada. Deito-me na minha cama, mas então lembro-me dos acontecimentos de ontem nesta mesma cama e decido não ficar em casa.
Saio pela janela, não quero que a minha mãe saiba que saí. Vai ficar muito preocupada sem qualquer sentido. Eu só não quero recordar.
Passo pela paragem de autocarros e sento-me. Não vou poder ir de autocarro porque não tenho dinheiro, apenas pretendo ficar na paragem.
Há vezes que não suporto estar sozinha, mas existem momentos completamente distintos onde eu só quero estar sozinha - como agora.
Como é que eu consigo ser tão confusa?
Os carros passam velozmente. Vejo-me a perguntar a mim mesma, para onde estarão a ir e porque vão com tanta pressa.
Será que estão atrasados para encontrarem alguém? Ou para fazer alguma coisa?
Será que se esqueceram de alguma coisa em casa que é crucial para o que tem de fazer no trabalho?
Será que é só por diversão?
Este jogo mental fez-me afastar a verdadeira confusão que está na minha cabeça e sinto relaxar-me finalmente.
As ruas estão mais escuras. Tenho de ir para casa.
O meu telemóvel vibra vigorosamente no meu bolso de trás das calças, assustando-me. Retiro-o do bolso e desbloqueio-o, verificando que tenho uma de Liam. Sorrio antes mesmo de abri-la e de a ler.
Estou a pensar em ti.
Parece uma frase tão adolescente de se dizer, mas a coisa é, eu sou adolescente. E tu também. Então eu posso usar esta expressão.
Estou a pensar em ti.
Decido ficar mais um pouco no banco da paragem. Mais um bocado não fará nenhum mal.
Leio e releio a mensagem sem conseguir pensar numa resposta digna para lhe mandar.
Estou a ver que te deixei sem palavras. Estou a ver que és uma roubadora de sítios preferidos. E a propósito, também te estou a ver.
A mensagem dele confunde-me, embora me tenha rido um pouco com o vocábulo que usou, mas percebo o que quis dizer assim que olho para o meu lado esquerdo e vejo-o a dirigir-se, um pouco lá ao fundo, para a paragem.
Continuo a pensar em ti.
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não editado, desculpem qualquer coisinhacontinuo a conseguir postar ao sábado, go me!
espero que tenham gostado, estou sempre a dizer isto já parece chato!
votem, comentem, façam o que quiserem (esta frase já não vos irrita?)
byee
BabyPopcorn xx
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The White Bus |l.p|
FanfictionNão é como se uma viagem de autocarro fosse mudar a minha vida, certo?