A vida é um segundo. Num segundo tu ris, noutro já choras. Num segundo tu cais, noutro levantas-te. Num segundo tu nasces, noutro tu morres.
Levou apenas um segundo para eu cair em mim. Para perceber que o meu pai estava morto. Mesmo nem tendo tocado nele. O segundo que coloquei os meus olhos em cima do corpo ensanguentado, deitado no chão da cozinha, percebi que o meu pai tinha partido.
Eu não fazia nada. Eu não fiz nada. Eu estava de joelhos em frente ao corpo, provavelmente gelado, do meu pai. Algumas lágrimas caiam e escorregavam pela minha face, mas a expressão da minha cara era inexpressiva. As minhas mãos estavam em cima das minhas coxas, desde que o vi. Não sei da minha mãe, os seus gritos já pararam. Nem deve estar mais na divisão, mas não quero desviar o olhar para saber se realmente assim o é.
O som da ambulância ecoava no fundo da minha cabeça, mas eu continuava de joelhos em frente ao meu pai.
Os paramédicos entraram na cozinha e fizeram inúmeros exercícios de reanimação, mas eu continuava de joelhos em frente ao meu pai.
O sangue parecia secar cada vez mais depressa e, embora me apavorasse um bocado, eu continuava de joelhos em frente ao meu pai.
Os paramédicos pararam e declararam o óbito do corpo, mas eu continuava de joelhos em frente ao meu pai.
Ouvia conversas dos paramédicos com a minha mãe, "fizemos tudo o que podíamos" e "as minhas sinceras condolências", e o choro silencioso da minha mãe. Conseguia ouvir as conversas paralelas de alguns vizinhos que devem ter entrado para coscuvilhar a vida alheia. "O que aconteceu?", "Alguém o esfaqueou, acho que estava a dever dinheiro." Conseguia ouvir isso tudo, mas não me queria levantar.
Vi pessoas a taparem o corpo do meu pai com um pano branco e a colocarem-no numa maca. Levaram-no para longe da minha vista, mas não queria desviar o olhar. Todo o meu corpo estava mole. A força tivera sido tirada de mim no segundo que entrei na cozinha.
Ele já não estava à minha frente, mas, mesmo assim, eu continuava de joelhos.
=֕
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The White Bus |l.p|
FanfictionNão é como se uma viagem de autocarro fosse mudar a minha vida, certo?