"Aconteceu alguma coisa?" uma voz fez-me saltar de susto.
Viro-me para trás e vejo Liam, com o olhar no chão e com as mãos nos bolsos. Fico boquiaberta, sem reação. Porque é que ele veio atrás de mim?
"Porque é que saíste do autocarro? Não sai..." sinto-me nervosa com esta situação, mas ele interrompe-me.
"Aconteceu alguma coisa?" repetiu, ignorando totalmente a minha pergunta, dando pequenos passos para a frente. Ele estava calmo. Com alguma preocupação implícita no seu rosto, mas principalmente calmo.
Respiro fundo. Não sei o que dizer, só consigo pensar em falar mal para ele, porque isto não é exatamente um bom momento. Só consigo pensar em mandá-lo embora, mas depois ele parece preocupado e eu não posso ser assim para ele.
"Eu só quero ajudar." Ele esclarece.
"Porquê?" A minha voz sai rouca e tusso para clareá-la.
"Não sei. Apenas quero." Ele volta a aproximar-se chegando a mim, mas não me toca. Fica apenas parado à minha frente a olhar para mim esperando uma resposta de qualquer tipo. "Podes me contar qualquer coisa. Não interessa o quê. Eu só te quero ajudar."
Engulo em seco. Sei o que está prestes a acontecer e tento pará-lo ao máximo. O meu lábio inferior começa a tremer. Engulo em seco de novo, mas sei que vai ser uma questão de tempo até eu desabar. Olho para o Liam e ele olha mais preocupado ainda para a minha cara.
E abraço-o. E choro. Desalmadamente. E ele abraça-me de volta sem qualquer hesitação. O meu choro é incontrolável. Choro por causa do meu pai. Cheguei ao meu ponto de quebra e o único sítio que me sentia confortável era nos braços de Liam. O seu abraço faz-me sentir segura, e embora esteja emocionalmente quebrada por dentro, chorar no seu ombro me faz sentir melhor.
Ele desliza a sua mão das minhas costas até à minha nuca e tenta me reconfortar sem dizer nada, muito sabiamente. Qualquer palavra me destruiria e eu só quero que ele me abrace. Ele sabe disso, sem eu mesma ter de lhe dizer. A confiança que tive nele para o abraçar me faz ficar mais do que surpreendida.
Agora que estou nos seus braços, embora reconfortantes, a única coisa que penso é no meu pai. Na maneira que, no dia anterior, se tinha tentado desculpar, mas eu não tinha deixado. Na estupidez das minhas ações quando ele se tentou desculpar. Devia ter pelo menos deixado se explicar, tê-lo deixado falar.
Foi por isso que paralisei quando o vi. Morto no meio da cozinha. Eu pensava que podia ter mais uma chance com o meu pai, podia tentar fazer com que ele percebesse que eu queria perdoá-lo, mas que ele me tinha de mostrar que queria mudar. Mas depois, aquela visão fez com que tudo o que pensei fosse por água a baixo e me fazer perguntar onde eu estava com a cabeça.
Eu pensava que tinha mais tempo com ele.
Mas não tive.
Agarro-me com mais força às costas de Liam, chorando mais ao lembrar do dia anterior, e este aperta-me também, sabendo exatamente do que eu precisava.
"Eu devia tê-lo perdoado. A culpa é minha." Repetia várias vezes, apenas sussurrando com a minha voz rouca de tanto chorar. Parecia que o meu choro era interminável. Lágrimas atrás de lágrimas caiam sem parar. A culpa era minha.
"Não." Liam simplesmente murmura, afastando-se um pouco para segurar a minha cabeça com as duas mãos, uma de cada lado. "Não." Diz mais firmemente.
Calo o meu choro por um bocado, olhando seriamente para ele. Os seus olhos castanhos conseguiram acalmar parcialmente a minha culpa, mas como ele podia saber? Ele não sabe da história. Ele não sabe nada do que fiz, nem nada do que o meu pai fez.
O meu pai não era um bom pai. Mas ele chegou a ser. Ele era um bom pai, um bom marido. E mesmo assim não o consegui perdoar, depois dele me pedir. Não o deixei explicar-se, ele podia mudar, ele podia estar vivo ainda.
"Tu não sabes. A culpa minha." Digo, já não chorando, mas ainda com o choramingo presente na minha voz.
"Não." Ele volta a dizer. Ele deixa de segurar a minha cara, para tentar encontrar a minha mão e segurá-la. "Anda."
Fico surpresa. A sua mão na minha é muito mais reconfortante agora. Já não me lembro de nada do que se passou, só consigo ver a imagem da sua mão em cima da minha, agora tentando entrelaçá-las.
"Para onde?" pergunto, após alguns segundos.
"Para longe daqui."
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oioioioioioioioo
Muito lindo, não?
DEDICO À Stockholarry PORQUE ELA FOI SUPER FOFA AO COMENTAR E EU ADORO QUEM COMENTA!!!!!!! MUITO OBRIGADA LINDAAAAAAA
espero que tenham gostado e see ya later!
BYEEEEEE
BabyPopcorn xx
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The White Bus |l.p|
Hayran KurguNão é como se uma viagem de autocarro fosse mudar a minha vida, certo?