Chego a minha casa. Ainda me custa chamar esta casa de minha, por mais bem recebida que eu e a minha mãe tenhamos sido, eu sinto que não pertenço a esta casa.
Deito-me na minha cama, esperando as horas passar enquanto olho para o teto do quarto. Sei que estes momentos são solitários e depressivos, e por isso são fortemente desaconselhados à minha pessoa, mas eles existem às vezes. Não os consigo evitar, quando não tenho nada para fazer.
Para evitar essas situações, tenho um caderno onde desenho tudo o que me apetece. Já o usei várias vezes como disfarce, quando o meu pai ainda estava aqui. Tenho vários desenhos neles, nada em concreto, apenas rabiscos e formas geométricas diversas espalhadas por aquelas folhas. Ajuda-me a distrair. De uma maneira estranha, retira a confusão da minha cabeça para o papel, relaxando-me.
Levanto-me da cama e vou em direção à minha secretária, procurando o caderno na gaveta, onde o guardei da última vez. Assim que o tiro, um pequeno papel cai ao chão. Estava, provavelmente, colado atrás da capa. Abaixo-me para pegá-lo e pego no que parece ser um envelope.
Lembro-me, então, num dia de mudanças à pouco mais de duas semanas, quando descobri este mesmo envelope na minha gaveta da mesinha de cabeceira.
Franzo as minhas sobrancelhas em confusão. Nunca cheguei a abri-lo, é verdade, mas tenho a certeza que não o tinha colocado naquela gaveta.
Sento-me, de qualquer das maneiras, na minha cama, com a finalidade de abrir aquele envelope e descobrir o que se encontra lá dentro. Tem pouca cola, talvez devido ao passar do tempo, fazendo a minha tarefa mais fácil. Espreito para dentro do envelope.
Encontro duas notas de cinco e um papel. Fico surpreendida, porque haveria de ter dinheiro aqui? Procuro outra vez no envelope, mas não encontro mais nada. Apenas um papel e duas notas de cinco.
Tiro as notas e o papel para fora, abrindo o papel, curiosa. A caligrafia do meu pai surpreende-me, e rapidamente começo a ler.
Abrir em 2020 - Dorothy,
Como começar esta carta? Não sei como a descobriste, não sei porquê, mas espero que sejas tu Dorothy.
Eu estou a olhar para ti neste momento, estás deitada no sofá da sala, adormeceste à muito já. Estavas a ver desenhos animados e como sempre, deixaste-te levar pelo sono. A vida é tão fácil quando se tem apenas sete anos. Tu estás a dormir no sofá, mas daqui a uns minutos vou te levar para a cama, só isso. Não te tens de preocupar, podes dormir à vontade.
Espero que quando estiveres a ler esta carta já sejas madura o suficiente para entender e perceber aquilo que te vou contar. Tal como disse logo no início, esta carta só deve ser aberta em 2020, para que seja concretizado o meu desejo. Se não é esse o caso, peço desculpa. E peço desculpa desde já por tudo o que te fiz, e vou fazer passar. Eu amo-te genuinamente, mas eu não me controlo.
Eu tento, eu prometo que tento. A culpa é da tua mãe, e não interpretes isto como um golpe, ou qualquer coisa, que te vai pôr contra a tua mãe. Mas essa é a verdade. Ela escondeu de mim. Ela fez isso comigo, e contigo também. Eu amo-te, de qualquer das maneiras.
Eu bati na tua mãe na semana passada, pela primeira vez. Não viste, porque estavas no teu quarto. Foi quando descobri, ou quando a tua mãe me decidiu contar, para ser mais preciso. E o que vou dizer a seguir pode parecer tão errado e macabro, mas eu gostei. Sinto-me uma pessoa tão má por dizer isto, e não espero que compreendas.
Eu senti-me tão vulnerável quando ela me contou, chorosa, clamando que não era para ter sido daquela maneira, e que planeara contar-me mais cedo, mas tinha receio da minha reação. Eu só queria que ela se sentisse tão miserável como eu naquele momento. Por isso, bati-lhe. Foi uma surpresa para nós dois. Ela olhou para mim, o seu choro parando momentaneamente com o choque, seus olhos arregalados tal como os meus. E eu senti um alivio percorrer-me pelas veias.
Eu sou terrível. Fui beber hoje depois de tantos anos sóbrio, - sabes que foi a tua mãe a razão para eu parar? também o motivo de eu voltar. Cheguei a casa e armei um escândalo porque o jantar ainda não estava pronto. Sim, eu tornei-me nesse homem. Nesse homem que foi o meu pai. Talvez seja genética. Mas não te precisas de te preocupar, não és do meu sangue. O meu coração aperta.
Não sei como te dizer. Eu não sou o teu pai. Eu, Dereck James Davis, não sou o teu pai, Dorothy. E não sabes o quanto me custa dizer isto. Não sabes o quão difícil é admitir isto porque para mim, sempre foste minha. Ainda o és, e sempre serás.
Não sei quem é o teu verdadeiro pai, mas eu hei-de o saber. E depois eu conto-te, assim que abrires esta carta. Eu vou abraçar-te e talvez choremos juntos, ou talvez fiques feliz porque este monstro não é teu familiar.
Não sei o que estás a sentir agora, mas ao olhar-te agora no sofá, tão pacífica e calma, é só nisso que eu penso agora. Nos teus olhos fechados, sonhando provavelmente com os desenhos animados que acabaste de ver, e vais-me contar tudo amanhã, assim que acordares, como sempre fazes. Estás a babar-te, és tão perfeita.
Vou deixar aqui duas notas de cinco, não consigui colocar mais, era o único dinheiro que tinha nos bolsos. Quero que fiques com ele, compra alguma coisa bonita para ti, um vestido, um colar. Algo que gostes, eu quero ver-te com isso e sorrir ao ver-te sorrir. O teu sorriso, que sempre achei que era igualzinho ao meu.. Era tão estúpido, eu mentalizei-me disso apenas porque queria que te parecesses comigo de alguma forma.
Mas eu não sou o teu pai, eu sou outro alguém que te deu uma figura de pai. Espero que me ames metade do que te amo, porque isso já seria o infinito.
Amo-te Doty,
"PAI"
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BOOOOOOOOOOOOOOOMMMMMMMMMMMMM *explosão!*
pediram ação, têm ação. eu não estou aqui a brincar.
ano de 2015 para as directioners, meu! , foge que é vários tiros de metralhadora!
tirando isso, o que acharam? voltei com o envelope, já se tinham esquecido? o que acham da bomba? falem comigo, eu adoro quando o fazem. obrigada!
bye.
BabyPopcorn xx
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The White Bus |l.p|
FanfictionNão é como se uma viagem de autocarro fosse mudar a minha vida, certo?