O meu nome era chamado aos gritos. Os gritos da minha mãe.
Ela só chamava o meu nome quando a dor que o meu pai lhe infringe é quase que insuportável. Num qualquer outro dia, onde a dor é "suportável", ela é agredida, mas ficava calada, no seu canto, para que eu não ficasse preocupada. No entanto, sempre ouço os gemidos de dor, todos os dias. Ela pensa que assim não fico preocupada, no entanto, é pior. Eu sei o que está a acontecer, e quero chegar lá e acabar com aquilo tudo. Mas eu não posso, porque não sou forte o suficiente. E eu choro, deitada na minha cama, enquanto ouço os gemidos de dor da minha mãe ecoarem em toda a casa.
Mas hoje foi diferente. Ela gritou muito. Muito alto. Puro desespero a percorrer o corredor da minha humilde casa até ao meu humilde quarto.
Corri para fora do quarto sem me preocupar de como ia e do medo que sentia pelo meu pai e abri a porta do quarto onde os meus pais se encontravam.
O quarto estava escuro, mas ainda dava para ver a bagunça daquela divisão. A cama desfeita, a televisão, que tinham no quarto, no chão com o ecrã partido, os moveis movidos de lugar.
Não sei como não ouvi isto. Sempre tenho os meus fones no ouvido, quando estou em casa, porque a minha mãe assim o pede, mas o volume nunca está muito alto. Não quero que coisas, como estas que agora vejo, aconteçam sem eu perceber.
A minha mãe, nua da cintura para cima, estava ajoelhada encostada à parede, enquanto ele estava atrás dela, com um cinto na mão.
A minha entrada abrupta não fez com que ele parasse o que fazia antes de entrar, e continuou a bater com o cinto nas costas já ensanguentadas da minha mãe.
Num instinto de proteger a minha mãe, avancei para o meu pai e, antes deste atingir a minha mãe com o cinto, segurei o seu braço, agarrei-o com toda a força que tinha e com a adrenalina que corria nas minhas veias naquele momento, arranquei o cinto das suas mãos.
Os seus olhos desviaram-se das costas da minha mãe e antes de perceber o que realmente tinha acontecido, ainda consegui ver um sorrisinho de lado nos seus lábios. Aquele sorriso revirou-me o estômago e tive vontade de vomitar, mas contive-me continuando a olhar para ele com determinação no olhar.
Quando se deu conta de que o cinto tinha sido retirado da sua mão, olhou para o fundo dos meus olhos, com os olhos vermelhos de fúria. Antes de dar por isso, lanço o cinto pela janela aberta do quarto.
"Porque fizeste isso?" ele pergunta, assustadoramente devagar.
Não respondi. A minha adrenalina inicial vai desaparecendo, aos poucos. Sinto medo, muito medo. Mas não me arrependo do que fiz.
"Responde, caralho!" agarra-me no braço com uma força enorme desnecessária e puxa-me para ele, ficando com a sua cara a milímetros da minha.
Volto a não responder. Olho de soslaio para a minha mãe, sentada no chão, com as mãos a tapar a cara. Percebo porque está assim. Tem medo de enfrentar o marido, mas não consegue ver a filha a ser espancada. Sinto pena da minha pobre mãe que tenta com todas as forças que tem lutar contra algo que é mais forte que ela. Que é mais forte que eu.
Olho de novo para a frente, percebendo que os olhos do meu pai contêm pequenas lágrimas nos cantos dos mesmos. Não percebo porque está assim, não sei porque ele chora. De certeza que não é de pena, penso sarcasticamente, sinto que não o seja. Os seus olhos transmitem tristeza, talvez, no entanto, não demonstra arrependimento, e é o que me faz doente.
Durante alguns segundos encaro-o friamente, enquanto a sua face continua inexplicável, a meu ver. Nunca sei quais os estados de espírito do meu pai. Mas neste momento ele está como que suspenso no tempo, um estado que nunca vi.
Num ato violento empurra-me e eu caio de rabo no chão. Ele afasta-se um bocado enquanto passa as suas mãos pela cabeça várias vezes, enquanto fala "ela não podia fazer-me isto" repetidamente.
Passado uns segundos de silêncio, depois de ele sair do quarto, ouço a porta de entrada ser brutalmente fechada e só aí posso largar todo o ar que eu nem sabia que estava preso na minha garganta.
Ouço o choro, agora mais intenso, da minha mãe e gatinho de encontro a ela. Abraço-a e quando estou no seu confortável colo, choro com ela durante o que parecem horas.
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oLÁ!!
SoOoOo, ya é só um flashback, mas explica muita coisa, espero eu.
Não sei.. ya..
Ainda não sabem o nome dela!! Muito estúpido, até porque nem sequer é o mais importante da história. Tipo, é importante, mas não tão importante, do you know what i mean? me either.
Era só isso. BYYYYYYYEEEEEE
BabyPopcorn xx
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The White Bus |l.p|
FanfictionNão é como se uma viagem de autocarro fosse mudar a minha vida, certo?