A casa está silenciosa. Demasiado silenciosa. Percorro o corredor de minha casa, com minha mochila às costas, o mais silenciosamente possível para não acordar ninguém.
Ouço um barulho na cozinha. Paro imediatamente de andar e encosto-me à parede com medo da possibilidade de ser o meu pai numa das suas aventuras à procura de álcool, sabendo perfeitamente que já bebeu tudo até à última gota.
Uma voz sussurrada e rouca atravessa o ar até mim. É ele. No entanto, não percebo palavras concretas, apenas sussurros da sua voz rouca.
Encosto-me mais à porta da cozinha. Provavelmente vou-me meter em sarilhos, mas tenho de saber com quem ele está a falar, e o quê.
"Não pode ser, eu tenho a certeza de que isso tem de estar aí!" disse numa voz irritada, porém muito baixa para não alertar ninguém em casa.
De que é que ele está a falar? Provavelmente alguma coisa que ele se esqueceu no trabalho ou assim. Deve ser uma coisa muito importante para ele estar chateado desta maneira.
"Não, tenho a certeza que deixei aí. Se não encontrarmos essa merda rápido estamos fodidos, sabes disso, não sabes Charlotte?"
Charlotte? Ele está a falar com uma mulher?
"Não quero saber, procura no inferno se for preciso, eu quero isso nas minha mãos, hoje." Disse irritado e desligou logo de seguida.
Pousou as mãos em cima da banca da cozinha e suspirou frustrado.
O que será aquilo que ele procura? Estou preocupada, pois pode ser alguma coisa que me prejudique a mim e à minha mãe.
No momento que pressinto que ele vai se virar para sair da cozinha, corro até ao meu quarto e fecho a porta devagar para que não haja barulho nenhum.
Sento-me na cama a pensar. Sinto medo. Medo da possibilidade do meu pai estar numa embrulhada. Sei que ele faz-me muito mal, mais ainda à minha mãe, mas é o meu pai. E ele nem sempre foi assim.
•
Estava sentada no chão a brincar com a minha boneca dada no Natal pelos meus pais. Era simples, nada de muito extravagante. Mas eu gostava.
A televisão estava ligada, embora ninguém a estivesse a ver. Os meus pais estavam na cozinha, a minha mãe a fazer o almoço e o meu pai sentado a vê-la. Parei um pouco para observá-los.
O meu pai estava com um cotovelo em cima da mesa e com a mão a segurar a cabeça, com a maior cara de admiração que alguma vez vi. Sorri.
A minha mãe abstraída desta cena, apenas continuava com a preparação do almoço, cantarolando uma canção. Sorri de novo.
Voltei a concentrar-me na minha brincadeira. Nunca percebi porque a cabeça da minha barbie conseguia ser maior que o resto das outras meninas, mas eu achava que isso fazia da minha boneca única. O respetivo namorado da minha boneca estava ainda por ser comprado, mas eu não me importava.
Passado alguns minutos, sinto as mãos grossas do meu pai e um pouco ásperas do seu trabalho, fazendo-me cócegas. Ri-me sem parar, ficando um pouco sem ar. Nisto, outras duas mãos se juntaram às do meu pai, estas mais suaves. No meio dos meus altos risos, algumas vezes escapava um "parem", embora estivesse a saber bem aquele momento.
Eventualmente, eles pararam. O meu pai colocou-me no seu colo e olhou para mim com olhos ternos.
"Eu amo-te, mas tanto, tanto que o meu amor vai daqui à Lua e volta, umas cinquenta vezes." Afirmou.
"Assim tantas vezes?" perguntei com a minha voz de criança, inocente e pequenina. Ele abanou a cabeça afirmativamente, o que fez com que salta-se no seu colo para lhe abraçar fortemente. "Eu também te amo muito, muito, muito, muito, infinitamente muitos."
O meu pai riu-se e juntei-me a ele. Olhei para a minha mãe e esta encontrava-se com um sorriso no rosto e uma pequena lágrima no olho. Chamei-a para vir mais para a nossa beira e abracei-a, juntamente com o meu pai, num pequeno abraço de família.
•
Quando era pequena, sempre sonhei em ter uma família tão feliz como a que tinha.
Naquela altura, com mais ou menos cinco anos, pensava que nada iria mudar e que ficaria tudo bem, mas enganei-me. As coisas foram mudando sem aviso, no entanto gradualmente, não foi uma coisa da noite para o dia.
Olho para o relógio-despertador que está em cima da minha mesa de cabeceira, limpando a lágrima que tinha caído. Estou muito atrasada para ir apanhar o autocarro. Saio do meu quarto a correr, passando pelo meu pai sem lhe dirigir uma única palavra.
Avisto a paragem, o autocarro já se encontrava lá parado, então corri até lá o mais rápido que consegui. Felizmente, cheguei a tempo.
Entrei e cumprimentei o motorista com um aceno de cabeça. Entreguei o dinheiro do bilhete, recebendo o devido troco.
Sem prestar muito atenção, sentei-me no meu lugar, pousando a mochila no chão. Olho para a janela.
"Olá."
Desviei rapidamente a cabeça, procurando a origem do som. Olho em frente. A minha boca abre-se e, durante um segundo, custou-me respirar. O rapaz de olhos castanhos que sorria para mim todos os dias está, neste momento, no lugar à frente do meu.
Frente a frente. Cara a cara. Os seus olhos castanhos nos meus olhos verdes.
Não respondi. Mas ele continua a sorrir, como se gostasse da minha reação perante a sua presença.
"Olá." Respondo finalmente e um sorriso expande-se na sua bela cara. Quero sorrir também, no entanto estou imóvel.
"Tudo bem?" percebo que está a tentar meter conversa, mas mal o conheço. Embora me sinta bem com a sua presença, não me sinto confortável em responder. "Tudo bem. Não precisas falar. Sou o Liam."
Sorrio pela primeira vez. Ele sorri também.
"Bonito nome." Por momentos, penso que outra pessoa se juntou à nossa conversa. Mas, esta frase veio mesmo da minha boca.
"Obrigado."
Esta conversa parece tão esquisita. Quando apenas nos encontrávamos a sorrir um para o outro que nem dois tolos, parecia muito mais natural que esta conversa.
"Posso saber o teu nome?" surpreendeu-me o rapaz.
Não sei o que dizer. Ele parece ser uma pessoa muito simpática, mas ele não deixa de ser um estranho.
"Acho que sim." Eu vou dizer, quer dizer, é só o meu nome, não é a minha morada ou assim.
---------------------------------
Oláááááááááá
Só para dizer que estive a rever os outros capítulos porque estavam cheios de erros. Ainda não vi este, porque estou com um bocado de pressa, mas queria pôr hoje porque há muito tempo que não atualizo, por isso, peço desculpa se tiver algum erro muito grave.
Como já acabaram os meus testes (FINALMENTE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!) vou atualizar mais regularmente!
Dedico este capitulo à @CallMeDrica por ser MUITO fofa em comentar e por me dizer os erros ortográficos que faziam qualquer um quer atirar-se de um precipício. MUITO OBRIGADAAAAAAA!!!
BabyPopcorn xx
VOCÊ ESTÁ LENDO
The White Bus |l.p|
FanficNão é como se uma viagem de autocarro fosse mudar a minha vida, certo?