dormente

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"Dorothy. Levanta-te." A voz doce da minha mãe sussurra-me ao ouvido e eu automaticamente me levanto, como um robô, mecanicamente. Sem emoções. Sem vida.

O meu corpo é guiado pela minha mãe até ao meu quarto e ela senta-me na cama.

"Amanhã eu vou contigo. Vou explicar ao sr.Rodriguez o que aconteceu e tenho de preparar o... funeral." Diz, com receio da minha reação.

Os seus olhos estão vermelhos e consigo ver algumas lágrimas agrupadas nos mesmos. Ela está visivelmente cansada. Afinal, já deve passar muito da meia noite. Embora não pareça, mas o tempo passou notoriamente rápido, embora tudo parecesse andar em câmara lenta.

Quando eu apenas aceno afirmativamente, parece desiludida. Talvez esteja com medo do meu estado de choque. Mas eu não consigo evitar.

Não jantei, nem vontade teria depois de tudo o que aconteceu. A minha mãe beija-me a testa e acaricia-me a bochecha. Fecho os olhos, apreciando o seu toque. O primeiro sinal de humanidade que aparece em horas. Segundos depois, o toque acaba e abro os olhos, vendo-a sair do quarto.

Respiro fundo. Uma dor instala-se no meu peito. Uma dor que parece tão real, parece doer bem no meu coração. Mas sei que é apenas psicológico. Muitas vezes esta dor já aconteceu, e como sempre ignoro-a. Como sempre tento matá-la dentro de mim, mesmo sabem que não é possível, que não é assim que ela vai embora. E ela não costuma ir.

Eu tenho de ser forte. Eu tenho de ser mais forte que antes.

Deito-me na minha cama, sem puxar os cobertores e sem tirar a minha roupa. Apenas caio para trás, fechando os olhos imediatamente, tentando com todas as forças, dormir.

A dor de cabeça e a dor no meu peito não me deixam. Abro os olhos novamente, encarando o teto. Imagens do exato momento quando entrei na cozinha percorrem a minha mente e não as consigo fazer desaparecer. A minha cabeça anda às rodas e sinto que esta vai explodir.

Não aguento mais esta dor. Reviro-me na cama vezes e vezes sem conta, mas nada funciona.

Adormeço misteriosamente, passado imensas horas.

O despertador toca. Hoje é sexta, e independentemente de tudo – ou talvez apesar de tudo – preciso de ir hoje.

Visto-me apressadamente e vou em direção à cozinha, mas paro-me mesmo à frente da mesma. Não quero entrar ali.

Dou meia volta e dirijo-me ao quarto da minha mãe. A porta está aberta e vejo que ela ainda se está a arrumar. Bato à porta para chamar a sua atenção.

"Oh, estás aí." Diz quando se apercebe da minha presença. A sua cara reflete a minha. Cansaço. Deve ter passado a noite em claro, tal como eu. Embora na sua cara transmita um pouco de tristeza. A minha por outro lado não. Não pode transmitir.

Ela está toda de preto. Sei porquê, mas não faz sentido nenhum. Nunca sei qual o motivo de termos de estar de preto quando alguém próximo morre. O luto não está na roupa, mas no que sentimos.

Ela acaba de se preparar e saímos de casa. Vamos em silêncio para a paragem de autocarros e assim continuamos enquanto esperamos pelo mesmo.

Ele chega, entro primeiro que a minha mãe e pago o meu bilhete. Espero que a minha mãe pague o dela e vejo o meu lugar desocupado, dirigindo-me para lá. À frente deste está Liam, no seu novo lugar habitual. Não sei o que sentir. A minha reação normal seria sorrir, mas eu não estou normal hoje. Nunca estive, na verdade, mas hoje pior estou.

O lugar ao meu lado encontra-se sem ninguém também, por isso a minha mãe senta-se ao meu lado. É um bocado estranho estar com o Liam e com a minha mãe ao mesmo tempo.

"Eu vou ter de sair primeiro que tu e depois vou ter contigo lá para as dez, okay?" a minha mãe fala, distraindo-me dos meus pensamentos.

Abano a cabeça afirmativamente, olhando para Liam logo de seguida que já se encontrava a olhar para mim com cara confusa. Desvio o nosso olhar, olhando para a janela.

"Olá, sou o Liam." Olho rapidamente para Liam, que está neste momento com o braço esticado em direção à minha mãe. Oh não. Ela olha confusa para a sua mão e logo depois para a sua cara, apertando a sua mão de qualquer maneira.

"Caroline." Sorri ligeiramente.

"Ah, sou amigo da Dorothy." Tenta esclarecer o porquê do incómodo.

"Oh." Simplesmente diz, olhando para mim fazendo-me sentir culpada por não lhe ter dito nada. Mas certamente ela entende o porquê. "Muito prazer."

Não sei onde me meter quando a minha mãe olha para mim com um pequeno sorriso, mas os seus olhos desconfiados. Os meus olhos encontram-se esbugalhados quando olho para Liam, que apenas sorri para mim.

Permanecemos calados por mais alguns momentos até a minha mãe interromper o silêncio.

"Bom, a minha paragem está a chegar." Explica-se, levantando-se. Olha para mim e suavemente sussura. "Depois falamos." O autocarro para e ela sai.

Olho pela janela vendo a minha mãe a ficar cada vez mais afastada.

"Espero não ter causado sarilhos." Liam desculpa-se.

Não respondo. Nem sequer olho para ele. Não quero fazê-lo ficar triste ou assim, mas não estou num bom momento para falar. Não agora.

"Desculpa."

"Para de pedir desculpa, sem saberes porquê que pedes. Isso é tão irritante." Quase grito, sem realmente perceber o que digo. Arrependo-me no segundo a seguir, quando reparo na sua cara magoada.

"Des..." para-se a si próprio.

"Eu só... não quero falar." Tento desculpar-me, embora não seja lá muito boa nesse tipo de coisas.

Ele cala-se e olha pela janela. Copio os seus gestos. Verifico que a minha paragem está a chegar e coloco a mochila atrás das costas. Levanto-me e saio sem olhar para trás.

"Aconteceu alguma coisa?" uma voz fez-me saltar de susto.

Viro-me para trás e vejo Liam, com o olhar no chão e com as mãos nos bolsos. Fico boquiaberta, sem reação. Porque é que ele veio atrás de mim?

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DOUBLE UPDATE!

Vou começar agora a rever os capítulos em busca de erros fatais. por isso se virem algum erro, não liguem que eu vou eventualmente remediá-lo. 

well, é isso. 

BYEEEEEE

BabyPopcorn xx

The White Bus |l.p|Onde histórias criam vida. Descubra agora