Uma semana se passou desde que aquela carta apareceu, milagrosamente, na minha gaveta. Ainda não tenho a certeza de quem tenha sido, mas se pudesse apontava o dedo para o meu tio. Mais ninguém o poderia ter feito, senão ele. No entanto, ainda não sei o que ele ganharia com tudo isto.
O Natal é já amanhã, e acho que nunca estive tão entusiasmada para o celebrar do que este ano. Lembro-me de há um ano atrás, não ter feito nada, não havia decorações, nem árvore com ornamentos bonitinhos cheia de luzes. Não havia presentes, não porque não tínhamos a árvore para os colocar debaixo, mas porque não havia dinheiro para os comprar. E para me colocar mais para baixo, pensava que não os tinha porque ninguém me achava suficientemente especial para os receber. Agora sei, que não é nada disso.
Porém, neste momento o que me agrada não é a possibilidade de receber presentes, mas sim a paz que vou receber para poder desfrutar do dia com a minha mãe. Um sorriso se forma imediatamente.
Ainda amo a minha mãe, mesmo depois de me esconder aquilo tudo. Fiquei furiosa nos primeiros dias, não por não me ter contado, mas por ter uma saída e não a agarrar. Sempre achei que ela continuava com o meu pai, porque ele era isso mesmo, o meu pai, e por isso não queria que eu não o tivesse. Mas, na verdade, eu não era sua filha. A minha mãe podia decidir vir embora comigo, que o Dereck não teria opinião sobre o assunto.
Ela decidiu, no entanto, punir-se, esquecendo-se que também me estaria a castigar a mim.
A minha mãe, é a minha mãe, e é a única pessoa que tenho no mundo, para além de Liam, é claro. Além do mais, ainda dependo da minha mãe, e do meu tio, mas tenho sérias dúvidas quanto a ele.
Liam liga-me todas as noites. Agora que ele não tem escola, eu já não o vejo no autocarro, por isso ele sempre me liga para desejar boa noite.
Sempre que vejo no meu ecrã o seu nome, detenho uns minutos apenas para sorrir envergonhada contra a travesseira. Depois, quando penso que ele vai desistir, atendo com as minhas bochechas vermelhas, e um sorriso estúpido. Um olá muito tímido escapa, e do outro lado ele faz o mesmo, mesmo que já tenhamos feito isto por uma semana inteira.
Depois conta-me o seu dia, tal como uma vez o fez na paragem de autocarros para me animar. Certas coisas sei que não aconteceram, apenas quer fazer-me rir. E eu rio-me que nem uma perdida, para me calar sempre que ele diz: "adoro o som do teu riso." As bochechas rosadas voltam para nunca mais me deixarem até ao final da chamada.
A noite passada, enquanto eu estava deitada na cama a olhar para o teto, em chamada com ele, para que o meu pensamento não voasse mais alto do que o pretendido, ele explicou-me porque quando lhe contei que ia passar a ir para a escola, ele ficou estranho e desapareceu.
Muito resumidamente, para que acabasse por chorar, acho, ele explicou que não tem ninguém na escola. Nenhum amigo, nenhuma professora que o ajude, fica sozinho, nos intervalos, dentro da sala.
"Pensava que tinhas uma ideia de mim como social, e engraçado, e que tem muitos amigos, e se reparasses que não sou nada disso.. não sei, agora parece estúpido de se dizer."
Alguns minutos de silêncio se passaram, comigo sem saber o que dizer, e com ele com medo do que eu poderia dizer.
"Eu gosto de ti. Definitivamente, sem qualquer dúvida. Sabes, às vezes, como agora, o sentimento expande-se tanto, que eu tenho medo do que ele se pode tornar. Nada, iria fazer com que eu deixasse de falar contigo, porque este sentimento não me deixaria fazê-lo." Ouviu fungar o nariz, estaria ele a chorar?
"Boa noite, Dotty." Ele disse, com tanto carinho na sua voz.
O meu tio está sentado no sofá, ouvindo a televisão, enquanto lê o jornal, um hábito um pouco estranho para mim.
Sento-me na outra ponta do sofá, apenas porque o sr. Rodriguez disse para evitar o máximo de isolamento no meu quarto. Estar junto a pessoas, vai me ajudar a despertar bons pensamentos.
A minha mãe não está em casa, por isso tenho de estar aqui.
Richards olha por cima do jornal, ligeiramente, e depois volta a lê-lo. Um silêncio constrangedor se instala na sala. Apenas existe o barulho de fundo da televisão, que mostra um concurso de culinária. Apresso-me para apanhar o comando, mas o meu tio para-me colocando a sua mão em cima da minha. Um arrepio percorre-me e apresso a retirar a mão debaixo da sua.
"Eu estou a ouvir, Dorothy." Simplesmente afirma, voltando a ler o seu jornal.
Fico um pouco chateada, ele nem sequer está a olhar para lá. "Foi o senhor que pôs aquela carta na minha gaveta, não foi?" Decido retirar esta dúvida.
Ele pousa o seu jornal, imediatamente para olhar para mim com clareza. Com os seus óculos de leitura parece muito mais velho do que realmente é. "Dorothy, há coisas que tu não devias saber. E eu não estou disposto a dizê-las." A sua resposta intriga-me, e faz-me querer ter todas as respostas. Não é possível que ele me diga uma coisas destas, e espere que me cale.
"Foi o senhor, não foi?" Apesar de tudo, não consigo deixar de o tratar por senhor. A minha boa educação nunca me vai deixar, nem nestes momentos.
O seu olhar é de aborrecimento, mas parece disposto a responder-me. "Sim, fui eu."
"Porquê? O que ganha com isso?" Sinto-me desiludida, não sei bem o porquê.
"Primeiro, é importante que saibas," ele aproxima-se do meu lugar no sofá. "que o teu pai não morreu porque devia dinheiro a alguém, como te disseram." Os meus olhos ficam esbugalhados, mas ele decide continuar a falar. "O teu pai morreu porque ele trabalhava para mim."
O meu mundo cai, e por um segundo não consigo respirar. Foi ele que o matou? Ele não me diria isto, se o tivesse feito, não é?
Richards tenta colocar as suas mãos em cima das minhas, talvez para me acalmar, mas causa o efeito contrário, e levanto-me do sofá, indo para o meu quarto.
Demasiados pensamentos percorrem a minha cabeça, pego no meu telemóvel, enquanto ouço-o a bater levemente na porta do meu quarto.
"Preciso de ti."
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1 ANO DE THE WHITE BUS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1
DÁ PARA ACREDITAR? ESTA HISTÓRIA JÁ TEM 1 ANO, MEU SENHOR!
AGRADEÇO A QUEM LÊ, A QUEM AINDA NÃO DESISTIU DESTA HISTÓRIA, MESMO EU DEMORANDO MUITO PARA ATUALIZAR, MAS MESMO TENDO POUCAS LEITURAS AGORA, NÃO ME IMPORTO PORQUE EU AMO ESTA HISTÓRIA, E FICO IMPRESSIONADA COM O QUE CONSEGUI TIRAR DA MINHA CABEÇA!!
é engraçado pensar que quando comecei não sabia o que se ia passar com esta história, apenas lancei o prólogo e o primeiro capítulo e duvidei tanto de mim mesma. mas depois de cinco minutos já tinha 13 lidos e já pensava que era a rainha do wattpad ahah , não sou mas adoro toda esta experiência e tudo o que ela me trouxe. Espero que vocês também tenham gostado de tudo o que aconteceu até agora, e que venha mais um ano, porque não quero acabar esta história nunca..
p.s decidi fazer um capítulo mais emocionante para este grande aniversário.
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The White Bus |l.p|
FanfictionNão é como se uma viagem de autocarro fosse mudar a minha vida, certo?