Mr. Yorke (continuação)
Mr. Yorke era, por excelência, um gentleman de Yorkshire. Podia ter cinquenta e cinco anos, mas parecia mais idoso à primeira vista porque seus cabelos eram brancos. A fronte era larga e um pouco grande. A tez fresca indicava uma constituição forte. A dureza das características dos homens do Norte era notada em seu rosto e no som da sua voz. Todos os seus traços eram ingleses, sem mistura de sangue normando. Nada tinha de aristocrático nem de elegante este rosto, que pessoas de sociedade teriam achado vulgar. Porém, em cada linha, em cada ruga daquele rosto, estavam marcados o vigor, a sagacidade, a inteligência e a rude originalidade. Tinha um ar desdenhoso, sarcástico, o ar de um homem difícil de conduzir, impossível de manipular e dominar. Era de elevada e elegante estatura; seu andar era digno e confiante.
Se me custou desenhar seu físico, mais dificuldades eu tenho de descrevê-lo moralmente. Se espera, leitor, achá-lo uma perfeição ou, melhor, um senhor idoso cheio de benevolência e filantropia, enganou-se redondamente.
Ele acabou de falar com Mr. Moore com certa compreensão e simpatia, mas você não deve concluir, por essa razão, que ele pensava sempre com a mesma compreensão e simpatia.
A julgar por suas ameaças há algumas horas, ele teria empregado um ar arbitrário e até cruel para fazer avançar a causa da liberdade e da igualdade. Igualdade! Sim. Mr. Yorke falou sobre igualdade, mas no fundo ele era um homem muito orgulhoso. Era amigável para com as pessoas que estavam abaixo dele, mas altivo como Belzebu com quem quer que fosse no mundo que ele considerasse seu superior. A revolta estava em seu sangue: ele não podia suportar o controle; seu pai, seu avô antes dele, não poderiam suportá-lo; e seus filhos, depois dele, nunca poderiam fazê-lo.
Em primeiro lugar, Mr. Yorke não respeitava ninguém, defeito que leva o homem a se enganar em todas as circunstâncias da vida em que o respeito é necessário. Também não venerava nada.
A falta de veneração fez dele um intolerante para aqueles acima dele: reis, nobres, sacerdotes, dinastias e parlamentos, com todas as suas obras, a maioria de seus decretos, suas formas, seus direitos, suas reivindicações, eram para ele uma abominação, tudo lixo. Ele não encontrava nenhuma utilização ou prazer neles e acreditava que não teria nenhum dano ao mundo se seus cargos fossem destruídos e seus ocupantes esmagados na queda. A falta de veneração fazia dele um coração morto para o deleite de admirar o que é admirável; secou as mil fontes puras de gozo. Ele não era um homem sem religião, embora não fosse membro de nenhuma igreja; a sua religião não poderia ser a de alguém que sabe como venerar. Ele acreditava em Deus e no Céu, mas o seu Deus e o seu Céu eram os de um homem em quem falta temor, imaginação e ternura.
Em segundo lugar, não era dotado de espírito de comparação, o que o conduzia à falta de sensibilidade.
Quanto às boas qualidades, pode-se dizer que era o homem mais considerado e mais hábil de Yorkshire; mesmo os que não gostavam dele eram forçados a respeitá-lo. Os pobres gostavam dele porque era justo. Para os seus operários era afetuoso e até paternal. Quando não tinha trabalho a lhes dar, esforçava-se para lhes arranjar outra coisa para fazer e, se não o conseguisse, ajudava as famílias a se mudarem para outras terras onde podiam arranjar trabalho. Devo dizer também que, se algum de seus operários demonstrava tendência à insubordinação, Mr. Yorke, tal como grande número de indivíduos que detestavam a repressão feita pelos outros, o sabia fazer com vigor e tinha o segredo de abafar a rebelião antes de ela se manifestar. A prosperidade de seus negócios lhe permitia falar com severidade àqueles que estão em situação diferente da sua, portanto, ele atribuía a culpa da situação desagradável em que se encontravam a eles próprios, deixando de fazer causa comum com os patrões para defender a dos trabalhadores.