Misses Helstone e Keeldar
Miss Shirley Keeldar mostrou que tinha sido sincera ao dizer que seria feliz relacionando-se com Miss Caroline Helstone, pois começou a procurá-la frequentemente. Na verdade, se ela não tivesse tomado a iniciativa, essa relação não teria se estabelecido. Miss Helstone, de fato, estava pouco disposta a travar novos relacionamentos. Ficava remoendo a ideia de que as pessoas não podiam querê-la por perto, que ela não poderia diverti-las e que uma brilhante criatura, feliz e jovem como a herdeira de Fieldhead, parecia-lhe demasiado e completamente independente de uma companhia tão desinteressante quanto a sua, portanto, nunca seria realmente bem-vinda.
Miss Keeldar podia ser brilhante e provavelmente feliz, mas ninguém é independente o suficiente para não gostar de encontrar uma convivência agradável e, apesar de há cerca de um mês ter travado conhecimento com grande parte das famílias das imediações e se dar muito bem com todas as misses Sykes, as Pearson e as duas superlativas misses Wynne, de Walden Hall, parecia não ter encontrado entre todas elas nenhuma que a interessasse deveras. Ela não se confraternizava com nenhuma delas, para usar suas próprias palavras. Se tivesse tido a felicidade de ter nascido o jovem Shirley Keeldar, senhor do solar de Briarfield, esperado pelos seus pais, de nenhuma delas teria feito uma senhora, a dona da mansão Keeldar. Foi o que ela declarou certo dia para Mrs. Pryor, que a escutou muito calmamente e lhe respondeu:
– Minha querida, não tome o hábito de se considerar um cavalheiro, pois é estranho. Aqueles que não a conhecem, ouvindo você falar assim, podem acreditar que afeta maneiras masculinas.
Miss Keeldar nunca ria de sua antiga governanta. Suas pequenas manias e mesmo as inofensivas peculiaridades dessa senhora eram, aos seus olhos, respeitáveis. Por isso aceitou seu conselho sem dizer nenhuma palavra contrária. Conservou-se quieta perto da janela, olhando um cedro grande, em cujos ramos inferiores ela vira um pássaro. Depois começou a assobiar para o pássaro, em breve o som melodioso aumentou para uma melodia muito doce e habilmente executada.
– O que é isso minha querida? – perguntou Mrs. Pryor.
– Eu estava assobiando – respondeu Miss Keeldar. – Esqueci-me. Perdão, senhora. Tinha tomado a resolução de não assobiar diante da senhora.
– Mas, Miss Keeldar! Onde aprendeu a assobiar? Deve ter contraído esse hábito desde que veio para Yorkshire. Nunca a ouvi assobiar antes.
– Oh! Aprendi a assobiar há muito tempo.
– Quem lhe ensinou?
– Ninguém. Aprendi ouvindo e achava que já tinha me esquecido. Mas, recentemente, aliás, ontem à tarde, ouvi um senhor assobiando essa música no campo do outro lado da sebe e isso me fez recordar.
– Quem era o homem?
– Não temos apenas um cavalheiro na região, minha senhora? Mr. Moore. Pelo menos ele é o único que não tem cabelos brancos. Os meus dois veneráveis favoritos, Mr. Helstone e Mr. Yorke, são na verdade velhos galanteadores infinitamente superiores a todos os demais jovens estúpidos.
Mrs. Pryor ficou em silêncio.
– A senhora não gosta de Mr. Helstone?
– Minha querida, as funções de Mr. Helstone o protegem das críticas.
– Observo que a senhora se retira da sala quando ele é anunciado.
– Tenciona sair esta manhã, minha querida? – desconversou Mrs. Pryor.
– Sim. Vou ao presbitério buscar Caroline Helstone e incentivá-la a fazer um pouco de exercício. Farei com que caminhe pelos lados de Nunnely.
– Se vai naquela direção, minha querida, tenha a bondade de lembrar Miss Helstone que se agasalhe. O vento está frio e ela me pareceu tão frágil.