A Casa de Campo de Hollow
O bom humor de Mr. Moore continuava quando ele se levantou na manhã seguinte; ele e Joe Scott tinham passado a noite no moinho em acomodações improvisadas.
O patrão, sempre matinal, levantou-se muito mais cedo do que de costume; despertou seu companheiro com uma canção francesa que vinha do seu banheiro.
– Não está desanimado, patrão? – gritou Joe.
– Não, meu rapaz! Levante-se e vamos dar uma volta pela fábrica antes da chegada dos operários. Vou lhe explicar os meus planos futuros. Teremos as novas máquinas, Joe. Você nunca ouviu falar de Bruce?
– É a história da aranha? Li uma história na Escócia e a esse respeito sei tanto quanto o senhor. Quer dizer que persistirá nos seus planos.
– Isso mesmo.
– O senhor tem alguma fortuna pessoal lá no seu país? – perguntou Joe, dobrando e guardando sua cama temporária.
– No meu país! Qual é o meu país, Joe?
– A França. Não é isso?
– Não, decerto. O fato de os franceses terem tomado a Antuérpia, onde eu nasci, não me faz um francês.
– A Holanda, então?
– Não sou um holandês. Agora você está confundindo Antuérpia com Amsterdam.
– A Flandres?
– Desprezo a insinuação, Joe! Eu, flamengo! Tenho então cara de flamengo, o nariz grosso e proeminente; a testa deprimida e lustrosa; os olhos azuis-claros à flor do rosto? Sou pesado como um flamengo? E você não sabe como os holandeses são, Joe, eu sou um Anversois. Minha mãe era uma antuerpiana, embora ela tenha vindo da linhagem francesa, que é a razão de eu falar francês.
– Mas o seu pai nasceu em Yorkshire, o que o torna também um pouco inglês, um pouco yorkshiriano. Todos daqui notam que o senhor é como nós, ambicioso e ousado.
– Joe, você é um cão insolente, mas eu sempre fui acostumado a um tipo grosseiro de insolência desde a minha mocidade. A classe operária, ou seja, as pessoas que trabalham na Bélgica agem brutalmente para com seus empregadores e, brutalmente, Joe, eu quero dizer grosseiramente mesmo. Vocês são uns selvagens, Joe. Os yorkshirianos, eu quero dizer. Você não acha que eles são civilizados, não é?
– Mais ou menos, senhor. Creio que nós, empregados do Norte, somos tão inteligentes e instruídos como os aldeãos do Sul. O trabalho desenvolve o espírito, e os que, como eu, vivem com as máquinas são forçados a pensar.
– Tenho certeza de que você, Joe Scott, se julga um rapaz notável!
– Concordo. Sei distinguir o queijo do giz e soube aproveitar as ocasiões que tive para me instruir um pouco mais do que muitos que me são superiores. Mas há milhares como eu em Yorkshire e mais dois terços que sabem mais do que eu.
– Você é um grande rapaz, Joe. Um grande espertalhão! Mas também um pedante e um vaidoso. Não julgue que ter aprendido um pouco de cálculo e ter pescado alguns elementos da química no fundo de uma cuba de tingimento o tenha transformado num sábio incompreendido. Não suponha, pelo fato de os caminhos do comércio serem, por vezes, penosos e você e seus iguais nem sempre terem trabalho e pão, que a sua classe seja de mártires e que toda forma de governo sob a qual você vive seja má. Não ache que a virtude está na casa dos ricos e que os pobres não são honestos. Deixe-me dizer-lhe que eu, particularmente, abomino esse tipo de lixo, porque eu sei muito bem que a natureza humana é natureza humana em todos os lugares, seja sob teto de telha ou de palha; que, em cada espécime da natureza humana que respira, o vício e a virtude são sempre encontrados misturados, em proporções menores ou maiores, e que a proporção não é determinada pela estação. Tenho visto vilões que eram ricos e eu já vi vilões que eram pobres; tenho visto vilões que não eram nem ricos nem pobres. Ah! Chega de conversa, Joe. O relógio vai bater seis horas. Vá tocar o sino.