Capítulo 23

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Uma Noite Fora

Era um belo dia de verão e Miss Helstone estava inteiramente só, pois seu tio estava em Whinbury. As longas horas luminosas, calmas e sem nuvens tinham sido para ela tão desoladas como se tivessem sido passadas na solidão do deserto do Saara, em vez de num jardim florido de uma casa inglesa.

Sentada sob um caramanchão, com o seu trabalho de costura sobre os joelhos, os dedos empurrando diligentemente a agulha, seguindo e regulando os movimentos automáticos, pois o cérebro estava longe trabalhando sem descanso. Quando Fanny chegou à porta e lançou um olhar sobre a relva e os canteiros, não achando quem procurava, chamou em voz alta: – Miss Caroline!

Uma voz doce respondeu: – Fanny – a voz vinha do caramanchão e Fanny se dirigiu para lá apressadamente com um bilhete. Miss Helstone não perguntou de onde ele vinha, nem sequer olhou para ele, deixou-o pousado sobre seu trabalho de costura.

– Foi Harry, o filho de Joe Scott, quem o trouxe – disse Fanny.

Fanny não tinha nenhum ar de fada, mas o que acabara de dizer teve um efeito quase mágico sobre a sua jovem ama. Miss Helstone ergueu a cabeça com um movimento rápido e lançou a Fanny um olhar interrogador.

– Harry Scott que o trouxe?

– Sim. De Hollow.

O papel foi apanhado com avidez; o lacre, quebrado; as suas linhas, lidas em dois segundos. Eram algumas palavras afetuosas de Miss Hortense Moore informando que estava de regresso de Wormwood-Wells e que estava só, pois Robert tinha ido ao mercado de Whinbury e que nada lhe daria mais prazer do que receber a prima para um chá.

Miss Helstone foi com prazer cobrir seus anelados cabelos com um chapéu de palha, lançou sobre os ombros uma leve manta de seda preta, cujas pregas faziam sobressair a elegância do seu busto, ao mesmo tempo que a cor escura dava destaque ao branco de seu vestido e à leveza de sua pele.

Estava contente por escapar por algumas horas da solidão, da tristeza da sua vida, por descer correndo uma encosta verdejante que conduzia a Hollow e por respirar os perfumes das flores e das sebes. Na verdade, Miss Helstone sabia que Robert Moore não estaria em casa, mas depois de estar separada dele por tanto tempo, só de ver sua casa, entrar no quarto que ele estivera naquela manhã, valia para ela como um encontro. Essa ilusão lhe dava uma nova vida e a brisa suave que soprava parecia sussurrar aos seus ouvidos: "Robert pode regressar e te encontrar lá. Então poderá lhe estender a mão, talvez possa sentar ao seu lado durante um minuto."

"Silêncio!" Ordenou ela severamente à sua imaginação, mas tanto a consolação quanto a consoladora lhe eram agradáveis.

Das moitas do jardim, Miss Hortense Moore avistou o vestido branco de Miss Caroline Helstone e foi ao seu encontro. Estava ereta e rígida como de costume, não se permitia nenhuma demonstração de alegria que pudesse comprometer a dignidade de seu andar, mas sorria ao ver o prazer que sua discípula experimentava ao abraçá-la. Conduziu-a afetuosamente para dentro, toda desvanecida. Se pudesse saber para quem ia a maior parte da infantil alegria que Miss Helstone demonstrava, é provável que Miss Moore ficasse chocada e irritada. As irmãs não gostam de ver as moças apaixonadas por seus irmãos.

– Desejava encontrá-la antes, mas depois do jantar chegaram-me visitas – disse Miss Moore enquanto a conduzia à sala. E, abrindo a porta, deixou aparecer uma ampla extensão de uma saia escarlate que cobria inteiramente a ampla poltrona colocada num canto próximo à lareira e, elevando-se acima dessa saia, presidindo com dignidade ao conjunto, uma touca mais imponente do que uma coroa. A fita que se desdobrava em nós em volta da cabeça era então o que se chamava de fita do amor. Tinha sido aplicada com grande abundância. A touca e o vestido eram usados por Mrs. Yorke e ambos lhe convinham perfeitamente.

Shirley (1843)Onde histórias criam vida. Descubra agora