Louis Moore
Louis Moore habituara-se a uma vida tranquila; era de caráter calmo e suportava a solidão melhor do que muitos, pois tinha cérebro e coração povoados de um mundo particularmente seu.
A mansão de Fieldhead estava tranquila. Miss Keeldar e toda a família Sympson, todos, exceto Louis Moore, tinham ido a Nunnely; Sir Philip os havia convidado para travarem conhecimento com a mãe e as irmãs, que se encontravam no Priorado. O barão tivera a amabilidade de convidar também o preceptor, mas se Louis Moore desejava alguém junto dele naquela noite não era o pequeno barão, muito menos a mãe, nem suas irmãs, nem qualquer pessoa da família Sympson.
Mas, apesar da quietude da casa, a noite estava agitada. As tempestades do equinócio revolviam a atmosfera. As chuvas torrenciais do dia acabaram; contudo, apesar de algumas nuvens terem se desfeito e se afastado, Fieldhead ainda era escorraçada por uma contínua e sonora tempestade.
Louis Moore, sentado na sala de estudos, escutava o barulho que fazia a tempestade. O lado onde se encontrava era abrigado e a chuva não o incomodava; nem o silêncio nem o fato de ter que estar bastante agasalhado, algo muito mais profundo o perturbava. "Toda a casa está vazia", pensava ele, "e a solidão, outrora bem-vinda, hoje me faz mal ao coração."
Saiu do seu lugar e foi até onde as janelas mais largas e mais desafogadas deixavam ver livremente o tempo escuro e lúgubre que se mostrava lá fora. Não levou qualquer luz consigo; a chuva havia passado e uma tênue claridade da lua cheia, embora as nuvens teimassem em ocultá-la de vez em quando, refletia timidamente no assoalho e nas paredes.
Parecia que ele perseguia uma visão de sala em sala. Deteve-se numa forrada de carvalho, menos úmida e fria do que o grande salão. Lá o fogo crepitava na lareira e, junto dela, uma mesa de trabalho era rodeada por algumas cadeiras vazias.
A visão que Louis perseguia poderia, por acaso, ter ocupado uma dessas cadeiras? É um caso que merece reflexão. Ao vê-lo, assim, de pé, vê-se interesse em seu olhar, tanta expressão em seu rosto como se tivesse encontrado, naquela solidão, um ser vivo com quem pudesse conversar.
Louis foi fazendo pequenas descobertas: uma bolsa pequena de cetim estava pendurada no espaldar de uma cadeira; uma gaveta estava aberta e as chaves, na fechadura, eram um convite para ser revistada, mas ele se conteve; um lindo sinete; uma pena de prata; uma ou duas bagas maduras presas a um ramo verde; um par de luvas, bem pequenas, limpas e delicadas, estava jogado, esparsamente, sobre a mesinha. Uma desordem que podia passar por uma fantasia.
"Eis os seus vestígios!", pensou ele. "Descuidada feiticeira! Chamada às pressas, esqueceu-se de voltar para colocar as coisas em ordem. Por que a fascinação? Há sempre o que censurar nela, mas para o amante ou o marido a censura sempre acabará em beijos. Mas o que estou pensando? A que fantasia deixei-me arrastar?..."
Fez um esforço em vão para calar sua mente. Pensativo, instalou-se comodamente para passar o serão solitário.
Fechou o reposteiro da larga janela da sala; alimentou o fogo que ainda ardia, mas se consumia rapidamente; acendeu uma das duas velas que tinha diante de si; colocou uma segunda cadeira em frente da que estava ao lado da mesa e sentou-se. Tirou do bolso um caderninho e pôs-se a escrever numa letra compacta e forte. Aproxime-se, leitor, e acompanhe a leitura à medida que ele escreve:
"São nove horas da noite, a carruagem não voltará antes das onze, tenho certeza. Até lá sou livre, até lá posso ocupar o espaço dela, sentar-me em frente à sua cadeira, apoiar o cotovelo à sua mesa, ter em volta de mim estes deliciosos objetozinhos que falam tanto dela para mim...
É bom escrever sobre a pessoa que é mais querida para mim do que o meu próprio coração. Ninguém pode tirar de mim este caderno e, graças a esta pena, posso dizer aquilo que nem sequer ouso exprimir em voz alta...