Briarmains
Mr. Helstone e Mr. Sykes mostraram-se extremamente alegres e felicitaram calorosamente Mr. Moore quando este voltou para junto deles, depois de dispensar a delegação. Mr. Moore, no entanto, mostrou-se tão pouco receptível aos elogios e lia-se claramente em seu semblante que ele estava em um dos seus dias mais tempestuosos. O reverendo, depois de o olhar com seus olhos perspicazes, abotoou suas felicitações, juntamente com seu casaco, e disse a Mr. Sykes – cujos sentidos não eram aguçados ao ponto de descobrir sozinho que sua presença e conversas eram um incômodo – que estava na hora de partirem:
– Venha, senhor. Vamos pelo mesmo caminho e faremos companhia um ao outro.
– E onde está Sugden? – exigiu Mr. Moore, erguendo a cabeça.
– Ah! Ah! – exclamou Mr. Helstone. – Não fui totalmente inativo e ajudei um pouco. Enquanto você estava parlamentando com Farren, pensei que era melhor não perder tempo. Abri esta janela e gritei por Murgatroyd, que estava no estábulo, para trazer o cabriolé de Mr. Sykes. Depois fiz passar pela janela Sugden e Moisés com sua perna de madeira. Sugden tomou as rédeas, ele conduz como o diabo. Antes de um quarto de hora, Barraclough estará em segurança na cadeia de Stilbro.
– Muito bom! Muito obrigado – disse Mr. Moore. – Bom dia, meus senhores – acrescentou, enquanto os conduzia educadamente até a porta.
Mr. Moore esteve taciturno e sombrio durante o resto do dia. Ele nem sequer respondia a Joe Scott, que, por sua vez, não lhe dirigia a palavra senão quando o trabalho o exigia. Não obstante, interpelou Mr. Moore:
– Joe, você conhece os Farren? Eles não devem ter uma situação desafogada, creio.
– Desafogada? Não mesmo. Há três meses está sem trabalho. O senhor mesmo pôde ver como William está mudado. Venderam toda a mobília da casa.
– Não era um mau operário?
– Nunca teve um melhor desde que trata de negócios.
– São pessoas honestas, isto é, toda a família?
– Mais do que eles, não se pode ser. A mulher é a decência em pessoa, muito limpa, o senhor pode comer no soalho da casa. Mas eles estão muito infelizes, patrão. Eu ficaria muito feliz se o William arranjasse algum trabalho. Ele é um excelente jardineiro, pois viveu algum tempo com um escocês que lhe ensinou os segredos do ofício, como eles dizem.
– Vá embora, Joe. Pare de olhar para mim – disse Mr. Moore, aborrecido. Joe não esperou que o patrão repetisse a ordem.
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As tardes de primavera eram, por vezes, frias e úmidas e, apesar desse dia ter sido belo, o ar estava frio ao pôr do sol. Antes de cair a noite, uma geada branca infiltrava-se insidiosamente nos botões entreabertos da erva que começava a despojar. Cobriu de branco o lajeado que se estendia em frente a Briarmains, residência de Mr. Yorke.
Na obscuridade da noite estrelada, contudo sem luar, as luzes das janelas destacavam-se nitidamente. Esse cenário não era triste, nem sombrio, nem mesmo silencioso. Briarmains estava situada perto da estrada principal; a capela Wesleyana de Briar, grande, nua e desprovida de ornamentos, elevava-se a cem metros dali e, como neste momento nela se realizava uma reunião, as luzes das suas janelas lançavam viva claridade na estrada, enquanto um hino assaz extravagante fazia ressoar alegremente os ecos nos arredores. Pouco a pouco a cantoria variou-se, seguiram-se gritos, ou uivos mais aterradores, e era preciso que o teto da capela fosse sólido o bastante para não voar em cacos com semelhantes explosões.
Se a capela estava animada, Briarmains não estava menos, embora de maneira diferente. Algumas das janelas estavam iluminadas; o andar inferior dava para um relvado e um cortinado velava o brilho das luzes, mas não impedia absolutamente de se ouvir as vozes e os risos.