O Estudante e a Ninfa dos Bosques
Como Briarmains ficava mais próximo do que Hollow, Mr. Yorke levara para lá o seu jovem amigo. Instalara-o na melhor cama da casa, com tanto cuidado como se tratasse de um dos seus próprios filhos. A visão do sangue que jorrava do ferimento de Robert fizera dele um filho do coração.
Não havendo outra mão para ajudá-lo, foi necessário que Mr. Yorke o levasse para lá sozinho. A sua benevolência, sem reservas, conquistou a absoluta dependência da vítima. Já a soturna Mrs. Yorke, que tinha um ataque de nervos quando Jessy não queria sair do jardim para voltar para dentro de casa ou quando Martin se propunha a partir para a Austrália a fim de gozar a liberdade, agora, depois de uma tentativa de homicídio quase à sua porta, de um homem meio assassinado deitado na sua melhor cama, estava com novo aspecto; aquilo lhe dava nova vida, avivava-lhe o humor e até dava à sua touca uns ares de turbante.
Ela era precisamente daquelas mulheres capazes de tornarem a vida impossível a uma criada, mas que cuidariam como heroínas de um hospital cheio de doentes com graves pestes. Ela quase amava Mr. Moore. O seu coração duro encheu-se de ternura ao vê-lo confiado aos seus cuidados, dependente dela como uma criança de berço. Escorraçou Jessy e Rose do andar superior da casa e proibiu as criadas que pusessem os pés lá.
Coisa estranha! Louis Moore foi autorizado a entrar, a se sentar na borda da cama, a encostar-se ao travesseiro, a pegar a mão do irmão e a pousar os lábios na sua testa pálida. Mrs. Yorke suportou aquilo. Admitiu que Louis estivesse presente durante a metade do dia; que ele ficasse sentado uma noite inteira no quarto; ela própria se levantou às cinco da manhã, numa fria manhã de novembro, acendeu o fogo na cozinha, preparou o café da manhã para os dois irmãos e os serviu. Majestosamente envolvida num vasto penteador de flanela, de touca de dormir, sentou-se para vê-los comer com tanta satisfação como uma galinha quando contempla seus pintinhos. Entretanto, neste mesmo dia descompôs a cozinheira que se permitira levar a Mr. Moore uma papa de sagu, e a criada de quarto também perdeu a estima dela porque, quando Louis saiu, ela lhe trouxe o casaco da cozinha e, como descarada que era, ajudou-o a se vestir, aceitando em troca um "muito obrigado" e um xelim.
Duas senhoras vieram pálidas, inquietas, e pediram para ver Mr. Moore durante uns instantes, mas Mrs. Yorke endureceu seu coração e recusou terminantemente. Contudo, Miss Hortense foi acolhida com ardor. Menos mal do que se poderia esperar. Miss Moore, aliás, não demonstrou qualquer espécie de ciúme por causa das atenções que Mrs. Yorke tinha com Robert; deixou-a ocupar o lugar de enfermeira e arranjou outras ocupações para ela na casa. Ambas se entenderam admiravelmente bem para afastar os visitantes da casa. Tinham-no cativo e mal permitiam ao ar que o soprasse e ao sol que brilhasse sobre ele.
Mac Turk, o cirurgião a quem Mr. Moore fora confiado, queria instalar junto dele uma enfermeira profissional, da sua escolha, mas nem Mrs. Yorke nem Miss Hortense estavam dispostas a consentir em tal coisa.
É certo que o tratavam da melhor forma que podiam, mas ocorreu um acidente: as ligaduras soltaram e isso resultou em grande perda de sangue. O cirurgião ficou furioso. Ao ver o estado de Mr. Moore, desabafou com uma série de expressões escolhidas, que se torna inútil repetir.
Durante a maior parte de uma noite de inverno, o médico e dois ajudantes permaneceram junto de Mr. Moore, fechados com ele, trabalharam e lutaram sobre um corpo esgotado. Todos os três de um lado da cama, do outro, a morte. A luta foi cruel. Pela manhã, as probabilidades pareciam tão iguais que as duas partes podiam julgar-se igualmente vitoriosas.
Mr. Moore foi confiado à guarda do jovem Mac Turk enquanto foi-se buscar novos reforços que vieram na pessoa de Mrs. Horsfall, a melhor enfermeira do seu estado-maior. Foi aos cuidados dessa mulher que o médico confiou Mr. Moore com as mais severas recomendações.