A Primeira Mulher Sábia
Os temperamentos de Miss Keeldar e de seu tio não podiam harmonizar-se. Ele era irritável e ela independente. Ele era despótico e ela gostava da liberdade. Ele era positivo e ela romanesca. Não fora sem objetivo, contudo, que ele viera a Yorkshire. A sua missão era clara e pretendia desempenhá-la conscienciosamente. Queria casar a sobrinha com um partido respeitável, confiá-la à guarda de um marido e lavar as mãos para sempre.
A desgraça era que, desde a infância, Miss Keeldar e ele tinham estado sempre em desacordo sobre o significado da palavra respeitável. Ela nunca aceitara a definição imposta por ele e não era de se esperar que, no ato mais importante de sua vida, fosse consentir em admiti-la.
Não tardou a surgir ocasião dessa verificação.
Mr. Wynne pediu a mão de Miss Keeldar para seu filho, Samuel Fawthrop Wynne.
– Perfeitamente respeitável! – disse Mr. Sympson. – Uma bela propriedade, livre de quaisquer encargos, sólida fortuna e boa família. É preciso que este casamento se realize.
Mandou chamar a sobrinha ao salão, fechou-se com ela, comunicou-lhe a proposta, deu-lhe sua opinião e pediu o consentimento dela.
Miss Shirley Keeldar recusou.
– Não, não me caso com o Samuel de forma alguma!
– Mas, por quê? É preciso que me dê uma razão. De todos os pontos de vista, ele é mais digno do que a menina.
Ela estava de pé em frente à lareira. Estava pálida como o mármore da chaminé. Os seus olhos largos estavam dilatados, duros e chamejavam.
– E eu pergunto-lhe: de que ponto de vista é esse moço digno de mim?
– Tem duas vezes a sua fortuna e o dobro do senso comum. A família dele é tão respeitável como a sua.
– Mesmo que ele fosse cem vezes mais rico do que eu, não faria o voto de amá-lo.
– Queira dar-me a conhecer as suas objeções, por favor – pediu o tio.
– É um libertino desprezível e vulgar. Aceite isso como a primeira razão que me leva a desprezá-lo.
– Shirley Keeldar, estou chocado com a menina.
– A inteligência dele não atinge um nível que eu possa estimar; eis a segunda razão. Tem ideias estreitas, sentimentos corrompidos, gostos grosseiros e maneiras vulgares.
– Esse homem é respeitável e rico. Recusá-lo é sinal de presunção da sua parte.
– Recuso terminantemente! Não lhe consinto que me atormente mais a tal respeito!
– Tem a intenção de um dia se casar ou quer acabar celibatária?
– Não lhe dou o direito de me fazer semelhante pergunta.
– Poderei saber se espera que algum titular, que algum par do reino peça a sua mão?
– Duvido que um título do reino venha, algum dia, pertencer àquele a quem eu quereria poder conferi-lo.
– Se tivesse havido algum exemplo de insanidade na família, seria levado a julgá-la louca. A sua excentricidade e a sua teimosia atingem as raias da loucura. Tome cuidado! Desafio-a que manche o nosso nome com um casamento infame!
– O nosso nome! Serei acaso uma Sympson?
– Não, graças a Deus! Mas fica prevenida! Não quero que façam pouco de mim.