A Festa das Escolas
Aquele exército comandado por párocos e mulheres não ia para o combate e muito menos ao encontro do inimigo, contudo, a música tocada pela banda era de guerra e, a julgar pelos olhares e atitudes de alguns, de Miss Keeldar, por exemplo, os cantos despertavam um espírito, senão marcial, pelo menos cheio de ardor. O velho Mr. Helstone, voltando-se por acaso, viu a expressão no rosto de Miss Keeldar e não pôde reter o riso, coisa que ela compreendeu e partilhou.
– Não temos nenhuma batalha em perspectiva – disse ele – o nosso país não tem necessidade que combatamos por ele. Daremos simplesmente um passeio. Aperte as rédeas, capitão, e comprima o fogo desse ardor, pois não precisamos dele. É uma pena!
– Sigo o seu conselho, pastor – respondeu Miss Keeldar. Depois murmurou para Miss Helstone: – Quero que a sua imaginação me empreste o que a realidade não me dá. Não somos soldados nem desejo a carnificina ou, se o somos, somos soldados da cruz. Quero imaginar que o tempo voltou alguns séculos atrás e que acompanhamos uma peregrinação à Palestina. Eu quase desejaria ter um perigo a afrontar: uma fé, uma pátria, ou, pelo menos, uma luta por um amor!
– Olhe, Shirley! – interrompeu Miss Helstone. – Você enxerga melhor do que eu. Que mancha é aquela que se distingue no alto da colina de Stilbro?
Miss Keeldar olhou para a direção apontada por Miss Helstone.
– Acho – disse ela e complementou rapidamente: – Vejo uma linha vermelha. São soldados da cavalaria! – exclamou ela, com vivacidade. – São seis soldados e estão galopando. Vão passar perto de nós... Não! Viraram à direita, devem ter visto a procissão e a evitaram dando uma volta. Mas, para onde eles estão indo?
Aqui Mr. Helstone ergueu a voz: – Vamos passar através da Royal-Lane pelo atalho a fim de chegarmos mais cedo a Nunnely.
E, em consequência, o exército partiu para o desfiladeiro de Royal-Lane. Este local era muito estreito e só duas pessoas podiam passar por vez, pois, do contrário, alguém poderia cair no fosso que o cercava de cada lado. A multidão estava no meio dele quando se notou um movimento estranho entre os comandantes. As lunetas de Mr. Boultby e o largo chapéu de Mr. Helstone agitaram-se e os vigários assistentes fizeram sinais uns aos outros. Mr. Hall voltou-se, sorrindo, para as senhoras.
– O que está acontecendo? – alguém indagou.
Mr. Hall apontou a bengala para a extremidade do desfiladeiro, à frente do grupo. Lá vinha uma segunda procissão em sentido inverso, conduzida também por homens de preto e, como já se podia ouvir, por uma banda de música.
– Aquilo será a sombra da nossa? – perguntou Miss Keeldar.
– Se você desejava uma batalha, pode estar certa de que terá uma. Pelo menos uma batalha de olhares – murmurou Miss Helstone, sorrindo.
– Eles não passarão! – exclamaram em conjunto os vigários. – Nós não cederemos!
– Ceder! – respondeu Mr. Helstone, severamente. – Quem fala em ceder? Rapazes! Pensem em algo imediatamente! Senhoras, bem sei, sejam firmes. Não está aqui uma mulher dedicada à igreja, pela honra da instituição, que não esteja disposta a sustentar a luta contra esses atrevidos. O que diz, Miss Keeldar?
– Quero saber o que é aquilo!
– São as escolas dos dissidentes, todos reunidos numa aliança ímpia. Entraram no desfiladeiro para obstruir a nossa marcha e fazer-nos recuar.
– Que coisa! – murmurou Miss Keeldar. – Eles merecem uma lição.
– Uma lição de polidez – sugeriu Mr. Hall, que era sempre da paz.