As Solteironas
A primavera chegava ao seu auge e a superfície da Inglaterra começava a se tornar agradável. Os campos e as montanhas estavam verdes e os jardins floresciam, mas, no fundo, a alma inglesa não estava nada melhor: os pobres continuavam miseráveis e infelizes; os que serviam na guerra estavam cansados; os empregadores, perseguidos; o comércio, paralisado, e a guerra continuava derramando mais sangue do que toda a riqueza acumulada na Inglaterra até então.
Algumas notícias ocasionalmente falavam de sucessos na Península, mas estas chegavam lentamente. Eram separadas por longos intervalos entre os quais só se ouviam as insolentes felicitações de Bonaparte sobre seus triunfos contínuos. Aqueles que sofriam por causa da guerra achavam insuportável essa luta contra um poder que os seus temores ou os seus interesses lhes faziam supor invencível. Eles exigiam a paz em todos os termos. Homens como Mr. Yorke e Mr. Moore existiam aos milhares, colocados pela guerra à beira da falência e que insistiam na paz com a energia do desespero. Eles realizavam reuniões, faziam discursos e encabeçavam petições para conseguirem esse benefício, não importava para eles a que termo fosse, mas queriam o fim da guerra.
Todos os homens, tomados isoladamente, são mais ou menos egoístas, mas em massa, são mais intensos ainda. O comerciante britânico não era exceção à regra, confirmava isso de uma maneira impressionante. Era um fato que essas classes mercantis pensavam com demasiado exclusivismo em ganhar dinheiro, pois se esqueciam de qualquer consideração nacional, exceto a de estender o comércio de seu país, ou antes, o seu próprio. Os sentimentos cavalheirescos, o desinteresse e o orgulho da honra nacional estavam verdadeiramente mortos nos seus corações.
Já disse que Mr. Moore não era um patriota abnegado e disposto a se sacrificar. Também já relatei as circunstâncias que o levaram a concentrar seus esforços para promoção do seu interesse pessoal e, consequentemente, quando se sentiu pela segunda vez à beira da ruína, ninguém lutou com mais rigor contra as influências que o teriam empurrado para ela. Ele fez de tudo o que poderia fazer para fomentar a agitação do Norte contra a guerra, e fez ainda agir outros que, pelo seu dinheiro e pelas suas relações, tinham mais poder do que ele. Às vezes, por flashes, sentia que havia pouca razão nos pedidos que o seu partido dirigia ao governo.
Quando chegavam, de tempos em tempos, as notícias de toda a Europa ameaçada por Bonaparte, uma ameaça lenta, porém perseverante, e lia os telegramas do lorde Wellington nas colunas dos jornais, Mr. Moore confessava que do lado das tropas da Grã-Bretanha se encontrava um poder genuíno, sem ostentação, que no fim lhe daria a vitória. Mas isso ainda estava longe e ele, como indivíduo, seria esmagado e suas esperanças reduzidas a pó. Era ele mesmo que teria que agir, perseguir suas esperanças e cumprir o seu destino.
Cumpriu tão vigorosamente que, dentro de pouco tempo, veio uma ruptura decisiva com seu velho amigo Tory, o reitor. Eles se desentenderam em uma reunião pública e depois trocaram algumas cartas pungentes nos jornais. Mr. Helstone denunciou Mr. Moore como jacobino, deixou de vê-lo e nunca mais lhe falou. Ele intimou até sua sobrinha, muito claramente, que suas comunicações com a cottage de Hollow estavam cortadas, suspensas até mesmo as aulas de francês.
Mr. Helstone se perguntava quem teria sido o cretino que trouxera a moda de se ensinar francês às mulheres inglesas, pois nada lhes poderia ser menos conveniente. Era como alimentar uma criança raquítica com mingau de giz e água. Sua sobrinha, Caroline, portanto, deveria renunciar a ver o primo e a prima que, na opinião dele, eram pessoas perigosas.
Mr. Helstone esperava encontrar oposição a essa ordem, ele esperava lágrimas e muitas falas. Raramente ele se incomodava com a vida de Miss Caroline, mas tinha uma vaga noção de que ela sentia prazer em ir a Hollow; ele também suspeitava que a presença ocasional de Robert Moore na igreja não lhe era desagradável. O velhaco percebera também que, se Mr. Malone entrava em cena e se mostrava sociável e charmoso, enquanto brincava com as orelhas do gato preto, Miss Caroline logo dava um jeito de desaparecer, sem fazer barulho, enfiando-se no andar superior, de onde só saía quando chamada para a ceia. Já quando Robert Moore estava presente, embora ele não brincasse com o gato, ela sentava-se à sala e tinha um prazer especial em costurar bugigangas para a corbelha dos judeus ou almofadas de tricô para os missionários.