No Vale da Sombra da Morte
O futuro, por vezes, parece chorar um sussurrado aviso dos eventos que está trazendo; como uma reunião de tempestades, embora ainda remota, que, pelo tom do vento no esplendor do firmamento, nas nuvens estranhamente rasgadas, anuncia uma forte explosão capaz de espalhar sobre o mar o naufrágio; ou trazer a névoa da mancha amarela da peste, que cobre brancas ilhas ocidentais com as exalações envenenadas do Oriente, escurecendo as treliças das casas inglesas com o sopro da praga indiana. Em outras ocasiões, este futuro explode de repente, como se uma pedra tivesse seu lugar programado para se precipitar, abrindo um grave estreito de onde emite o som de um corpo que dormia. E você está ciente de que vai ficar cara a cara com a encoberta e impensada calamidade, um novo Lázaro.
Miss Helstone, embora tivesse julgado que tinha voltado de Hollow em boa saúde, despertou no outro dia oprimida por um langor anormal. Não teve apetite no desjejum e em todas as demais refeições. Todos os alimentos pareceram a ela insípidos.
À noite sentiu-se febril, teve insônia e foi torturada por uma sede inesgotável. Ao amanhecer teve um sonho pavoroso e, ao despertar, sentiu e viu que estava doente.
De que maneira apanhara a febre, pois era febre, ela não podia dizer. Provavelmente acontecera no seu último passeio do presbitério à cottage de Hollow. Qualquer brisa envenenada carregada de miasmas entrara em seus pulmões e nas veias e, encontrando ali uma febre mental e tormenta de alma, deixara atrás de si um fogo aceso.
Esse fogo que parecia benigno, após dois dias ardentes e duas noites sem repouso, deixou de demonstrar qualquer violência. Tanto o tio, quanto o médico e Miss Keeldar quando a visitaram, não sentiram o menor receio pela sua vida. Todos pensaram que bastariam alguns dias e ela estaria completamente restabelecida.
Os dias, contudo, passaram-se e Miss Helstone não tinha melhorado. Mrs. Pryor, que a visitava todos os dias, estava em seu quarto certa manhã, quinze dias após o começo da doença, examinou-a atentamente durante alguns minutos; pegou-lhe as mãos, apoiou um dedo no pulso e depois, saindo tranquilamente do quarto, dirigiu-se ao gabinete de Mr. Helstone. Lá ficou trancada com ele durante metade da manhã. Ao voltar para junto da jovem doente, pousou seu xale e o chapéu, sentou-se ao lado da cama e disse por fim:
– Pedi a Fanny que fosse a Fieldhead buscar algumas pequenas coisas que serão necessárias durante uma breve estadia minha aqui. Desejo ficar até que se sinta melhor. O seu tio já autorizou e, dessa forma, posso lhe dedicar meu carinho e meus cuidados. Você também me autoriza, Caroline? – perguntou ela, segurando a mão da moça.
– Incomoda-me lhe dar tanto trabalho. Não me sinto muito doente, mas não posso recusar. Será para mim uma grande consolação saber que está na casa, vê-la às vezes em meu quarto, mas não se incomode por minha causa, minha querida senhora! A Fanny trata-me muito bem.
Mrs. Pryor, inclinando-se sobre a pálida doente, arrumava-lhe os cabelos e lhe ajeitava docemente os travesseiros. Miss Helstone, sorrindo, inclinou-se para beijá-la.
– Já não sofre? Sente-se bem? – perguntou numa voz doce e comovida a enfermeira voluntária, aceitando o carinho.
– Quase não desejo melhorar para poder conservá-la junto de mim.
Mrs. Pryor não sorriu ao ouvir tais palavras. Fora tomada de tremuras que, durante alguns minutos, em vão procurou se dominar.
– Não tenho jeito para nada, minha querida – disse ela. – Achar-me-á, muitas vezes, uma desastrada, mas nunca negligente.
E, com efeito, ela não era negligente. A partir daquele momento, Fanny e Eliza tornaram-se inúteis no quarto da doente. O quarto passou para o domínio de Mrs. Pryor. Ela fazia tudo quanto era necessário, não saía de perto da doente nem de dia nem de noite.