Capítulo 42: Lisa

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Você não pode ficar bêbada

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Você não pode ficar bêbada. Estou repetindo isso para mim mesma a todo instante, mas ainda assim não consigo parar de beber. É uísque com gelo. Horrível. Ou seria se Babs não tivesse dito que era por conta da casa, o que o deixou muito mais saboroso.

Estamos sentadas a uma mesa de madeira bamba com vista para o mar. Há uma chaleira com uma vela grossa no meio, pela qual Jennie está encantada. Teve uma conversa animada com garçons sobre decoração (ou “design de interiores”, como eles chamam).

Jennie está com o pé apoiado em uma almofada, como Socha mandou. Acabou colocando o outro também — ela está praticamente deitada, o cabelo jogado para trás, ainda mais vermelho contra o sol quase no horizonte. Parece uma pintura renascentista. O uísque voltou a dar cor às bochechas e deixou a pele de seu peito um pouco avermelhada, e não consigo deixar de olhar sempre que Jennie está distraída.

Praticamente só pensei nela o dia todo, mesmo antes do afogamento. A busca do sr. Prior por Johnny White foi quase esquecida — semana passada esse projeto era o que Kay tinha chamado de minha “fixação”. Agora parece algo que quero fazer porque deixou Jennie animada.

Ela está me contando sobre os pais. De tempos em tempos, põe a cabeça para trás, joga o cabelo ainda mais sobre as costas da cadeira, quase fecha os olhos.

Jennie: A única coisa que ficou foi a aromaterapia. Minha mãe fez velas por um tempo, mas não dá para ganhar dinheiro com isso, então um dia ela meio que surtou e declarou que ia voltar a comprar as da Poundland e ninguém podia falar que tinha avisado a ela. Aí minha mãe passou por uma fase muito estranha em que fazia sessões.

Isso me faz parar de encará-la.

Eu: Sessões?

Jennie: É, sabe, daquelas em que você se senta em volta de uma mesa e tenta falar com os mortos?

O garçom aparece perto da cadeira onde estão os pés da Jennie. Olha, um pouco confuso, mas não comenta nada. Fico com a impressão de que eles estão acostumados com todo tipo de gente aqui, inclusive pessoas encharcadas comendo com o pé para cima.

Garçom: Desejam sobremesa?

Jennie: Ah, não, já estou satisfeita. Obrigada.

Garçom: Babs disse que é por conta da casa.

Jennie, sem pestanejar: Pudim, por favor.

Eu: Para mim também.

Jennie: Todas essas coisas de graça. Parece um sonho. Eu deveria me afogar com mais frequência.

Eu: Por favor, não faça isso.

Ela ergue a cabeça para me olhar nos olhos, sonolenta, alguns segundos a mais do que o necessário.

Pigarreio. Engulo em seco. Procuro um assunto.

Eu: Então, sua mãe fazia sessões...

Jennie: Ah, é. Por uns dois anos, quando eu estava no ensino fundamental, eu voltava para casa e encontrava todas as cortinas fechadas e um bando de pessoas dizendo: “Por favor, apareça” ou “Bata uma vez para sim e duas para não”. Imagino que pelo menos sessenta por cento das visitas tenham sido só eu voltando para casa e jogando a mochila no armário embaixo da escada.

Eu: E depois das sessões?

Jennie pensa um pouco. O pudim chega; é enorme e encharcado de calda de caramelo. Jennie geme de prazer e me deixa arrepiada.

Ridículo. Não posso ficar excitada com uma mulher gemendo por causa de sobremesa. Tenho que me controlar. Tomo mais um gole de uísque.

Jennie, boca cheia de pudim: Ela fez cortinas por um tempo. Mas o custo inicial era enorme, então ela começou a fazer centros de mesa. E aí veio a aromaterapia.

Eu: É por isso que você tem tantas velas aromáticas?

Jennie, sorrindo: É. Todas as do banheiro foram cuidadosamente escolhidas para terem aromas que ajudam a relaxar.

Eu: Para mim elas têm o efeito contrário. Tenho que tirar todas dali quando quero tomar banho.

Jennie me lança um olhar atrevido.

Jennie: Algumas pessoas não conseguem relaxar nem com a aromaterapia. E minha mãe escolheu meu perfume também. Pelo jeito, ele “reflete minha personalidade”.

Penso no primeiro dia em que entrei em casa e senti o perfume dela — flores e especiarias — e como foi estranho ter a fragrância de alguém no apartamento. Agora nunca é estranho. Seria estranho voltar para casa e não sentir nada.

Eu: E qual é?

Jennie: A nota predominante é de rosas, depois almíscar e cravo. O que significa, segundo minha mãe...

Ela franze o nariz um pouco, pensando.

Jennie: “Esperança, fogo e força.”

Parece achar engraçado.

Jennie: Essa sou eu, pelo jeito.

Eu: Acho que está certo.

Ela revira os olhos, sem querer aceitar.

Jennie: “Falida, bocuda e teimosa” seria mais preciso... e deve ter sido isso mesmo que ela quis dizer.

Eu, com certeza um pouco embriagada: E o que eu seria, então?

Jennie inclina a cabeça. Ela volta a me encarar, com uma intensidade que me faz querer desviar o olhar e, ao mesmo tempo, me debruçar na mesa e beijá-la por cima da vela na chaleira.

Jennie: Bom, tem esperança em você, com certeza. Seu irmão está contando com isso.

Isso me pega de surpresa. Poucas pessoas sabem sobre a verdadeira situação de BamBam; e menos ainda falariam dele sem incentivo. Jennie está me observando, testando minha reação, como se fosse deixar o assunto de lado caso me veja sofrer. Sorrio. É bom falar sobre BamBam assim. Como se fosse normal.

Eu: Então minhas cuecas terão cheiro de rosas?

Jennie faz uma careta.

Jennie: Os cheiros devem ser totalmente diferentes para você, já que não surte efeito. Infelizmente, só conheço a arte da perfumaria natural e delicada.

Quero encorajá-la para ouvir mais — quero saber o que ela pensa sobre mim —, mas é pretensioso perguntar. Então ficamos em silêncio, a chama da vela balançando rápido entre nós duas na chaleira, e eu tomo outro gole de uísque.

Cara, você tá tão na dela!

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Cara, você tá tão na dela!

Não revisado por motivos de sono inconstante, boa noite!

Teto Para Duas! - Jenlisa (G!P)  Onde histórias criam vida. Descubra agora