Capítulo 01 - Jennie

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É preciso dizer uma coisa sobre o desespero: ele deixa a cabeça da gente muito mais aberta

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É preciso dizer uma coisa sobre o desespero: ele deixa a cabeça da gente muito mais aberta. Consigo ver muitos lados bons neste apartamento. Se eu esfregar bem, o mofo multicolorido na parede da cozinha vai desaparecer, pelo menos por um tempo. O colchão nojento pode ser substituído por outro baratinho. E a gente pode muito bem argumentar que os cogumelos crescendo atrás da privada dão certo frescor ao ambiente.

Jisoo e Rosé, no entanto, não estão desesperadas nem tentando adotar uma postura positiva. Eu descreveria a expressão delas como "pasma".

— Você não pode morar aqui.

Foi Jisoo quem disse isso. Ela está de pé, os calcanhares grudados e os cotovelos junto ao corpo, como se tentasse ocupar o menor espaço possível para protestar contra o fato de estar aqui. Seu cabelo está preso em um coque baixo, já com os grampos que facilitam a colocação da peruca que ela usa no tribunal. Seu semblante seria cômico se no momento não estivéssemos discutindo minha vida.

— Tem que ter outro lugar que caiba no seu orçamento, Jen — diz Rosé, preocupada, levantando-se depois de examinar o armário onde fica o aquecedor. Ela parece ainda mais descabelada que de costume, mas talvez fosse só a teia de aranha presa em seu cabelo. — Este é pior ainda do que o que a gente viu ontem à noite.

Olho em volta, procurando o corretor. Por sorte, ele está longe demais para ouvir, fumando na "varanda" (ou melhor, no telhado bambo da garagem do vizinho, que definitivamente não foi construído para que alguém andasse em cima).

— Não vou mais me dar o trabalho de ver outro buraco que nem esse — diz Jisoo, consultando o relógio. São oito da manhã. Ela precisa estar no Tribunal Real de Southwark às nove. — Deve ter outra opção.

— A gente pode dar um jeito de ela ficar no nosso — sugere Rosé, pela quinta vez desde sábado.

— É sério, dá para parar com isso? — retruca Jisoo. — Não é uma solução a longo prazo. E ela teria que dormir de pé para caber em algum lugar. — Ela me lança um olhar exasperado. — Você não podia ser mais baixa? Daria para dormir embaixo da mesa de jantar se tivesse menos de um e setenta e cinco.

Faço cara de quem pede desculpa, mas eu realmente preferiria ficar aqui a dormir no chão do apartamento minúsculo e ridiculamente caro que Rosé e Jisoo compraram no mês passado. Elas nunca moraram juntas, nem quando estávamos na faculdade. Tenho medo de que isso acabe com a amizade das duas.

Rosé é bagunceira, distraída e tem uma capacidade inacreditável de ocupar espaço, apesar de ter uma altura mediana. Já Jisoo passou os últimos três anos morando em um apartamento sobrenaturalmente limpo, tão perfeito que parecia gerado por computador. Não sei como esses estilos de vida vão coexistir sem que ocorra uma explosão em Londres.

Mas a grande questão é que, se for para dormir no chão, posso simplesmente voltar para o apartamento de Justin. E, às onze da noite da última quinta-feira, tomei de uma vez por todas a decisão de que essa não é mais uma opção. Preciso continuar minha vida e me comprometer com outro lugar para não ser obrigada a voltar para lá.

Teto Para Duas! - Jenlisa (G!P)  Onde histórias criam vida. Descubra agora