Capítulo 54: Lisa

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Não costumo ser uma pessoa irritada

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Não costumo ser uma pessoa irritada. Normalmente sou tranquila e difícil de provocar. Sou sempre eu que impeço BamBam de entrar numa briga (normalmente para defender uma mulher, que pode ou não precisar de ajuda). Mas agora está surgindo um lado primitivo meu que parece estar acontecendo e eu preciso me esforçar muito para me manter relaxada e ser delicada nos movimentos. Postura hostil e rigidez não ajudariam Jennie.

Mas quero machucar aquele cara. De verdade. Não sei o que ele fez a Jennie, o que provocou isso, mas, seja lá o que for, a machucou tanto que todo o seu corpo está tremendo, como um gatinho que caiu na neve.

Ela seca o rosto.

Jennie: Descul... Hum... Quer dizer. Oi.

Eu: Oi. Quer um pouco de chá?

Ela assente. Não quero soltá-la, mas continuar a abraçá-la nestas circunstâncias talvez não seja a melhor ideia. Estou vestida novamente e vou até a chaleira.

Jennie: Isso foi...

Espero. A chaleira começa a ferver, um borbulhar leve.

Jennie: Isso foi horrível. E nem sei o que aconteceu.

Eu: Foi outra lembrança? Ou alguma coisa sobre a qual você já conversou com a terapeuta?

Ela balança a cabeça, franzindo a testa.

Jennie: Não foi como uma lembrança. Não foi uma coisa que apareceu na minha cabeça...

Eu: Foi tipo memória muscular?

Ela olha para mim.

Jennie: É. Tipo isso.

Sirvo os chás. Abro a geladeira para procurar leite e paro. Está cheia de cupcakes cor-de-rosa, com “F e J” desenhados na cobertura.

Jennie se aproxima e passa um braço pela minha cintura.

Jennie: Oba. Devem ser para o casamento que vão fazer aqui depois que formos embora.

Eu: Será que eles foram muito cuidadosos com a quantidade?

Jennie ri. Não é bem uma risada alta, soa um pouco úmida por causa das lágrimas, mas ainda assim é um bom sinal.

Jennie: Provavelmente sim. Mas tem tantos...

Eu: Até demais. Eu imagino que sejam... uns trezentos.

Jennie: Ninguém convida trezentas pessoas para um casamento. A não ser que seja famoso. Ou indiano.

Eu: Será que é o casamento de um indiano famoso?

Jennie: A Linda Lady Ilustradora não falou nada sobre isso.

Pego dois cupcakes e dou um para Jennie. Apesar dos olhos ainda um pouco vermelhos, ela está sorrindo e come o cupcake quase todo de uma vez. Imagino que precise de açúcar.

Comemos em silêncio por um tempo, indo para perto da fornalha.

Jennie: Então... queria sua opinião profissional...

Eu: Como enfermeira de cuidados paliativos?

Jennie: Como profissional da área médica.

Ah, não. Essas conversas nunca são boas. As pessoas sempre imaginam que a gente aprenda toda a medicina do mundo na escola de enfermagem e que se lembre de tudo cinco anos depois.

Jennie: Será que vou surtar assim toda vez que a gente for transar? Porque seria bem deprimente.

Eu, com cuidado: Imagino que não. Talvez leve algum tempo para descobrir quais são os gatilhos e como podemos evitá-los até você se sentir segura.

Ela olha para mim, de repente.

Jennie: Eu não... Não quero que você ache... Ele nunca... Ele nunca me machucou de verdade.

Quero discordar. Parece que ele a machucou muito. Mas com certeza não é meu papel, então só ofereço outro cupcake.

Eu: Não estou supondo nada. Só quero que você se sinta melhor.

Jennie me encara e, então, do nada, cutuca minha bochecha.

Eu, tomando um susto: Ei!

O cutucão na bochecha é mais surpreendente do que eu havia imaginado quando fiz isso com ela mais cedo.

Jennie: Você não é de verdade, é? É inacreditavelmente gentil.

Eu: Não sou, não. Sou uma velha rabugenta que não gosta da maioria das pessoas.

Jennie: Da maioria?

Eu: Existem poucas exceções.

Jennie: E como você escolhe? As exceções?

Dou de ombros, desconfortável.

Jennie: É sério. De verdade. Por que eu?

Eu: Hum. Bem. Na verdade... são poucas as pessoas com quem me sinto à vontade. Mas com você eu já me sentia bem antes mesmo de te conhecer.

Jennie olha para mim, a cabeça inclinada para o lado, os olhos fixos nos meus por tanto tempo que chega a ficar desconfortável. Estou louca para parar de falar no assunto. Por fim, ela se inclina para a frente e me beija devagar, com sabor de cobertura de cupcake.

Jennie: Vai valer a pena esperar. Você vai ver.

Como se eu duvidasse disso.

Eu namoro o relacionamento delas!

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Eu namoro o relacionamento delas!

Boa noite, anjinhos! Como estão?

Teto Para Duas! - Jenlisa (G!P)  Onde histórias criam vida. Descubra agora