Capítulo 66: Lisa

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Ando pelas alas da casa de repouso como se eu fosse um fantasma

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Ando pelas alas da casa de repouso como se eu fosse um fantasma. Será que consigo me concentrar o bastante para tirar sangue de uma veia quando até respirar parece exigir certo esforço? Mas é fácil. Obrigada, rotina. Se tem uma coisa que sei fazer, é isso. Lisa, enfermeira encarregada, quieta, porém confiável.

Noto depois de algumas horas que estou evitando a Ala Coral. Desviando dela.

O sr. Prior está lá, morrendo.

Por fim, o médico de plantão diz que a dose de morfina precisa ser conferida. É isso. Não posso mais me esconder. Lá vou eu. Corredores branco-acinzentados, nus e arranhados, e conheço cada centímetro deles, talvez melhor do que as paredes do meu próprio apartamento.

Paro. Há um homem de terno marrom na porta da ala, antebraços apoiados nos joelhos, encarando o chão. Estranho ver alguém aqui a esta hora — não há visitas no turno da noite. Ele é muito velho, de cabelo branco. Familiar.

Conheço essa postura: é a postura de uma pessoa tomando coragem. Fiz essa pose muitas vezes fora da sala de visitas da prisão e sei como é.

Levo um tempo para entender — mal estou pensando, só seguindo no piloto automático. Mas o homem de cabelo branco que está olhando para o chão é Johnny White VI, de Brighton. A ideia parece ridícula. JW VI é uma Lisa da minha outra vida. A vida cheia de Jennie. Mas aqui está ele. Parece que achei o Johnny do sr. Prior, afinal, apesar de ele ter levado algum tempo para admitir.

Deveria ficar feliz, mas não consigo.

Olho para ele. Com noventa e dois anos, ele conseguiu achar o sr. Prior, vestiu seu melhor terno e viajou do litoral até aqui. Tudo por um homem que amou uma vida atrás. Está sentado, a cabeça baixa como se rezasse, esperando força para enfrentar o que deixou para trás.

O sr. Prior tem dias de vida. Horas, talvez. Olho para Johnny White e sinto um soco no estômago. Ele. Deixou. Para. O. Último. Minuto.

Johnny White olha para cima e me vê. Não falamos nada. O silêncio se estende pelo corredor entre nós.

Johnny White: Ele morreu?

Sua voz sai rouca, falhada.

Eu: Não. Você não chegou tarde demais.

Chegou, sim, na verdade. Que dor ele deve ter sentido ao vir até aqui sabendo que seria só para se despedir?

Johnny White: Levei um tempo para achá-lo. Depois da sua visita.

Eu: Você deveria ter dito alguma coisa.

Johnny White: Pois é.

Ele olha de novo para a porta. Dou um passo para a frente, rompo o silêncio e me sento ao lado dele. Examinamos o linóleo arranhado lado a lado. Isso não tem a ver comigo. Não é minha história. Mas... Johnny White naquele banco de plástico, cabeça baixa, é o resultado de quando abrimos mão de tentar.

Teto Para Duas! - Jenlisa (G!P)  Onde histórias criam vida. Descubra agora