Devagar, eu e Djalma fomos adentrando aquele estranho lugar, percebi um aperto em minha cintura e o Grandão me colocou atrás dele, indo na minha frente. Sorri igual a uma boba com isso, ele está me protegendo e tal fato me agradou muito. Contudo, não me permiti distrair com esses pensamentos e comecei a focar minha atenção ao redor e na conversa que teremos com o tal do ancião. E devo admitir que o local é muito estranho, estranho demais, haviam esculturas de madeira de cobras e corvos de diversos tamanhos, às vezes, estavam juntos, e às vezes, estavam separados; como se isso já não fosse o suficiente para me espantar até a alma, também haviam ampulhetas, tapeçarias com bordados que formavam símbolos gregos enfeitavam as paredes, ao fundo percebi uma estante com frascos contendo ervas e alguns líquidos que não consegui identificar, também tinham muitos livros em diversas pilhas no chão, estava tão absorta pelo ambiente que me rodeava, que senti um imenso susto ao ouvir, de repente, sinos tocando uma bela melodia, virei minha cabeça na direção da mesma e vi que eram aqueles sinos do vento, os mesmos, foram acionados pela porta que havia atrás do balcão. No entanto, não via ninguém, isso não faz sentido nenhum, já que escutei o barulho e a porta está aberta, começando a duvidar da minha sanidade mental, segurei o braço de Djalma fortemente e perguntei:
— Você também ouviu esse barulho, né Grandão?
— Ouvi sim Cachinhos, mas não estou vendo ninguém, por favor fique atrás de mim. — e eu o obedeci, normalmente, não sou de acatar ordens, mas com ele é diferente e sinto que está fazendo isso para me proteger. Escutei um barulho de passos contra o assoalho e falei estressada e apavorada:
— Vamos embora Grandão, estou com um pressentimento ruim, acho melhor voltarmos para o hotel. — senti todo o corpo de Djalma tencionar e o escutei atentamente:
— Vou fazer o que achar melhor Larissa, mas acho que teríamos muitas respostas aqui, sinto que já estive nesse lugar antes, ou pelo menos que já vi esses objetos — disse apontando para as ampulhetas e continuou: — Contudo, parece não ter ninguém aqui. E se quiser ir, bom, vamos então, ainda não esqueci da promessa que me fez— O olhei incrédula, tanto por concordar comigo, quanto por sentir que já conhecia este estranho local, ah! E claro, por estar pensando em sexo no meio desta situação toda. Já cansada disso tudo e me sentindo como um peão em um jogo de tabuleiro, falei:
— Tudo bem então, vamos embora — e segui em direção a saída guiando o caminho e assim que cheguei em frente a porta e girei a maçaneta para abri-la, percebi que estava muito pesada como se estivessem pressionando contra mim, mas não havia ninguém do outro lado. E de supetão, empurrei a porta que abriu apenas uma fresta e voltou fechando em minha face, dei um pulo de susto e quando ia gritar, ouvi uma voz rouca, grossa e antiga falando:
— Perdão pelos meus modos, já faz tempos que não recebo uma visita tão especial e desejada quanto a de vocês, fiquem por favor, agora que as coisas ficarão interessantes e creio eu que tenho a informação que procuram — tanto eu quanto o Grandão olhamos na direção dessa voz, e vemos um homem idoso, com os cabelos grisalhos trançados, a pele clara e enrugada, os olhos verdes e uma expressão estranhamente amigável atrás do balcão, ele usava uma roupa comum e tinha muitos desenhos tatuados nos braços. Encarei Djalma em silêncio, questionando com o olhar se devíamos ir ou não, e me surpreendi, quando ele pegou minha mão e foi até o balcão sem desviar o olhar daquele homem, assim que chegamos perto o suficiente consegui ver a satisfação presente no rosto daquele ancião, como se estivesse pronto para dar pulos de felicidade e antes que pudesse sequer raciocinar o Grandão falou firmemente:
— Com certeza seus modos foram estranhos, me chamo Djalma e esta é Larissa, minha mulher e acho que você já sabe o porquê de estarmos aqui. Então, podemos ir direto ao ponto, sim? — nossa, fiquei até desnorteada o ouvindo falar assim, calma aí, ele me chamou de sua mulher, arregalei meus olhos ao perceber o significado dessa palavra e fiz uma nota mental de conversar com ele sobre isso depois, afinal eu não sou dele e nem de ninguém, por mais que às vezes ele me faça repensar sobre isso. O homem deu uma risada fraca e disse:
— Direto como sempre não é mesmo Cronos, é até irônico considerar que o senhor do tempo sempre foi quem esteve menos disposto a desperdiçá-lo.— meu coração falha uma batida ao ouvir isso e percebo que Djalma ou Cronos, não sei mais como chamá-lo ficou tão tenso quanto eu se não mais do que eu, e antes que pudesse dizer algo o ancião continuou: — Eu poderia me apresentar, mas já tive tantos nomes que não é necessário citar todos aqui, o importante são vocês, confesso que já estava até começando a desacreditar da profecia, tanto tempo se passou e não se encontravam por nada deste mundo, e agora finalmente estão juntos, sei que não devem se lembrar de quase nada do que ocorreu, contudo não há nenhum problema nisso, na verdade, é até melhor assim. — não me controlei e o respondi rispidamente:
— Como assim? Acho melhor explicar tudo isso direitinho, pois já que sabe tanto assim não se importará de compartilhar seu precioso conhecimento conosco não é mesmo? — ele sorriu e acenou lentamente, vi de esguelha o Grandão me olhar surpreso com minha reação e confesso que até eu estava.
— Com todo prazer Larisae. — senti minha cabeça doer quando escutei isso, como se algo quisesse voltar, quisesse ser lembrado, apertei firme meus olhos e me concentrei nas palavras do ancião: — Confesso que esta nova personalidade lhe cai bem, mas consigo perceber que não estão dispostos a perder tempo e eu também não, então serei direto e prestem atenção pois não irei repetir nada do que direi. Sei que conhecem a profecia, sobre a bela princesa, a ampulheta, o desejo, o corvo, o encontro com o titã do tempo, a felicidade do casal, o casamento, a separação, retorno à antiga vida, a poção que transformou Cronos em humano para poder reencontrar seu amor e é claro a maldição que ele lançou. Tudo isso é real e vocês são o casal da profecia, e destinados a quebrar a maldição, permitindo assim que o amor retorne aos humanos; contudo esta jornada não será fácil, existem forças que conspiram contra vocês. Por que acham que sempre há uma cobra brigando com o corvo? E elas estão mais perto do que imaginam, quando se tornou um homem comum Cronos permitiu que a linha temporal ficasse à deriva e o véu entre o visível e o invisível quase inexistente, com isso essas forças conseguem influenciar o mundo dos mortais facilmente e se divertem os vendo cair em desgraça. Agora, que vocês estão juntos, finalmente há uma esperança para a humanidade, para a evolução, para a felicidade, para o amor; por isso serão perseguidos, por isso deverão ficar um do lado do outro e se fortalecerem, se guardarem. Devem resistir até que a lua vermelha esteja no céu, nesse momento Cronos parte de seus poderes voltarão para você e deverá o utilizar para fechar a linhas temporais e levantar o véu entre os mundos e aí sim quebrarão a maldição e ficarão juntos. — assim que ele terminou senti como se minha cabeça fosse explodir, é muita informação para assimilar de apenas uma vez e quando penso que tinha acabado ele continuou olhando diretamente para Djalma: — E não se preocupe com sua antiga vida, ela foi apenas ela foi apenas uma passagem, você sempre se sentiu como se não pertencesse àquele local e está certo, seu lugar é aqui e só corre o risco de voltar para aquela gélida terra se falharem e permitirem que a cobra destrua o corvo, e eu espero que isso não aconteça. Adeus meus caros e cuidado! — finalmente ele terminou e eu, por instinto, abracei o Grandão e ficamos nos encarando por alguns minutos, quando escutamos novamente o barulhos dos sinos, olhamos ao redor e estávamos sozinhos. Cansada e com muito para assimilar, virei para Djalma ou Cronos e falei:
— Vamos para o hotel Grandão.
— Vamos Cachinhos! — e saímos daquele local em direção ao nosso destino, juntos e abraçados. Quem diria que minha vida fosse mudar tão de repente e espero do fundo do meu coração e da minha alma que dê tudo certo. Mas sentia em todo o caminho sentia alguém ou algo me encarando queimando assim minha nuca e me arrepiando dos pés a cabeça, abracei mais fortemente o Grandão, sei que com ele nada vai me atingir.
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Meu Selvagem
ChickLitLarissa nunca teve uma vida fácil, sempre menosprezada, batalhou muito para ter tudo que possuí. Jornalista, foi para a Noruega para escrever uma matéria sobre o quê era amor para os vikings. Só não esperava em encontrar um VIKING de 2 metros, com m...