Eu com certeza não deveria ter dito isso, pois sempre pode ficar pior. Já faz uma hora que cheguei em Sande e para minha felicidade acabaram as balsas para Selvik hoje. Só amanhã ás 6 horas que conseguirei uma balsa para chegar lá, mas não adianta chorar pelo leite derramado, a única coisa que me resta fazer é procurar um lugar para ficar e é exatamente isso que farei agora.
Reuni todas as forças que me restaram, levantei daquele banco de praça imundo, peguei minha única mala de rodinhas e fui procurar um lugar para ficar. Até aí tudo bem, estava andando, aproveitando a paisagem e procurando um hotel. Quando de repente, senti algo estranho, meus pelos da nuca se arrepiaram e parecia que estava sendo seguida, como se algo ruim estivesse bem perto, sussurrando em meu ouvido que deveria ir embora o quanto antes, que deveria fugir. Aquela sensação me consumia e fiz a primeira coisa que pensei. Virei a esquina, entrei em um beco e em seguida na primeira porta que vi. Era uma cafeteria. Muito bonita por sinal, bem interessante e tinha poucas pessoas, provavelmente os locais. Depois que percebi que não estava mais sozinha, me acalmei e essa sensação passou.
Depois que melhorei fui ao balcão pedir um café e procurar informações, talvez alguém aqui conheça um hotel. Cheguei ao balcão e tinha uma idosa atrás dele, quando ia falar, ela começou:
-Olá querida! Sou a Dona Olga, deseja algo?-disse simpática.
-Oi sou a Larissa, gostaria de um café puro, sem açúcar. E a senhora pode me informar algum hotel? Pois estou indo passar férias em Selvik e acabaram as balsas hoje.-respondi educada, não é só porque acabei de passar pela experiência mais estranha e assustadora da minha vida que deveria ser grossa.
-Ok, vou preparar- respondeu, e começou a arrumar meu café. Porém percebi que a mesma me olhou estranho quando disse para onde estou indo, como se fosse louca por querer ir para lá. Estava tão distraída que nem percebi o café em minha frente, só voltei quando ouvi :
-Então... A senhorita vai para Selvik? É muito corajosa, nenhum estrangeiro vai para lá desde o caso dos arqueólogos. Posso saber o motivo de ter escolhido justo esse destino?- perguntou Dona Olga.
-Sim, estou querendo relaxar um pouco e viver experiências novas, Selvik parece ser o local ideal para isso. A senhora sabe onde posso ficar até pegar a balsa amanhã?- refiz a pergunta, talvez ela não tenha escutado da primeira vez.
-Entendi, então tem um hotel novo, se não me engano ainda tem vaga, é só descer a esquina. Mas se estiver com pressa, minha neta tem um barco e vai hoje mesmo para Selvik visitar o namorado, posso falar com ela, tenho certeza que adoraria te dar uma carona- ofereceu educada.
-Nossa que bom, realmente estou doida para chegar o mais rápido possível, se não for incomodar aceito sim a carona- ok, eu posso estar sendo louca a aceitar uma carona de uma moça que nunca vi na vida e que provavelmente pode me matar sem deixar vestígios? Com certeza sim, mas algo nessa vila está me intrigando, não vejo a hora de chegar lá, de conhecer tudo e todos, tenho a sensação que ir para Selvik é meu destino, como se toda a minha vida caminhasse para isso. Então resolvi arriscar, não tenho nada a perder mesmo.
-Que bom, vou falar com minha neta, espere aqui só um instante- respondeu Dona Olga e saiu andando. Enquanto isso peguei meu celular, são 10 horas, se for com essa garota, chegaremos lá por volta dás três horas da tarde, um horário bom, conseguirei organizar minhas coisas e ainda fazer um tour pela vila. Nossa parece até que minha sorte está mudando, sempre fui azarada ao extremo e tive uma sorte grande dessas, acho que vou até jogar na loteria -se eu fosse você não ficaria tão feliz assim lagartixinha, ainda tem muita coisa para acontecer- nem pense em me ferrar de novo autora queridinha, já tive azar suficiente para uma vida inteira. Continuando, avistei a Dona Olga voltando, estava com um sorriso gigante e começou a falar :
-Conversei com a minha neta, ela aceitou te levar e está muito feliz por finalmente poder fazer uma amizade. Daqui a 15 minutos estará te esperando no cais- disse animada.
-Que bom, também estou feliz e muito grata Dona Olga, não sei o que faria se não tivesse te conhecido, a senhora é um amor. Muito obrigada.-agradeci feliz.
-Que isso minha filha, só juntei o útil ao agradável, minha neta já estava indo mesmo, não custaria nada te levar junto.- respondeu a doce senhora.
-Posso te abraçar?- perguntei envergonhada, ela parecia ser aquela avó dos comercias de margarina, com um coração de ouro.
-Mas é claro minha jovem- depois disso levantei para abraçá-la. Porém quando nos encostamos seus olhos verdes se arregalaram, suas sobrancelhas arquearam, sua respiração parou e seus lábios sussurraram a frase : kvinnen som flyr med krakene. E se afastou de mim, como se tivesse levado um choque. Pelos deuses, o que aconteceu agora?
-Está tudo bem?- perguntei preocupada.
-Sim minha jovem, é que me assustei um pouco com a sua altura, nada com o que se preocupar- respondeu nervosa, tentando disfarçar o que acabou de acontecer. Fingi que acreditei e me afastei, coloquei o valor do café no balcão e comecei a me arrumar para ir embora. No entanto, quando estava quase saindo, Dona Olga entrou na minha frente e falou :
-Sempre siga seu coração, a chance de ser feliz passará na sua frente e a agarre com unhas e dentes. Está na hora de deixar a razão de lado, junto com suas inseguranças e sentir o amor, em sua forma mais pura e celestial. Você sentirá o amor como ninguém mais sentiu, não desperdice tudo isso. Pois só você pode destruir o que está prestes a acontecer. - disse olhando bem no fundo dos meus olhos, como se estivesse vendo a minha alma e quando terminou soltou meu braço e me deixou ir, estava tão desnorteada, que nem respondi, apenas saí em direção ao cais.
Essa viagem está mais maluca que o normal, só espero que quando chegar em Selvik, tudo isso pare. Porém, assim que cheguei no cais e sentei no banco para esperar a neta de Dona Olga, meu pulso começou a arder como nunca antes, parecia que minha pele estava sendo marcada a ferro quente. De repente, na mesma rapidez que veio, parou e no lugar em que Dona Olga tinha me segurado, estava uma frase, em uma língua desconhecida e uma imagem de um corvo lutando com uma serpente.
O que diabos está acontecendo?
kvinnen som flyr med krakene: a mulher que voa com os corvos.
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Meu Selvagem
ChickLitLarissa nunca teve uma vida fácil, sempre menosprezada, batalhou muito para ter tudo que possuí. Jornalista, foi para a Noruega para escrever uma matéria sobre o quê era amor para os vikings. Só não esperava em encontrar um VIKING de 2 metros, com m...