O Templo

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  Nunca em toda minha existência vi algo assim, é simplesmente incrível, ao mesmo tempo é assustador. Escondido por uma copa de árvores altas e grandes, no centro de uma planície, com gramas surgindo nos lugares onde as pedras se quebraram, tem um formato redondo, em seu centro há três mesas médias, parece que serviam como apoio para algo, provavelmente oferendas. Sua estrutura é suportada por grossas colunas de gesso, além de ter algumas estátuas, porém, estão tão desgastadas que não é possível identificar a qual Deus se referem, é realmente um tempo grego. Mas não consigo entender como uma construção que parece ter sido feita por atenienses veio parar na Noruega! E foi feita por mãos vikings, isso simplesmente não faz nenhum sentido para mim.
  Percebo que Djalma vai adentrando, enquanto eu fico parada apenas olhando; depois de alguns minutos crio coragem e entro nas ruínas, subindo três degraus para chegar no centro e vendo todos os detalhes desse lugar. Admito que devia ser deveras grandioso em seus dias de glória e me sinto um pouco mal por isso, afinal, queria vê-lo em todo seu esplendor, porém, no momento as ruínas sanam minha curiosidade. Vou para as laterais, observando os detalhes das estátuas que estão entre cada coluna; são muito interessantes, cada uma representa uma divindade que descubro por conta do nome gravado embaixo, fico contornando o templo a fim de ver todas as esculturas e sinto meu sangue gelar quando meus olhos lêem o nome: Cronos. Fico paralisada por alguns segundos e vagarosamente levanto minha visão para a escultura, dando um passo para trás ao constatar que a estátua de Cronos é a única que não está danificada, muito pelo contrário, consigo captar todos os detalhes e é igual ao Djalma, desde a expressão séria, a face, as bochechas, a mandíbula, o nariz, o corpo... Tudo é idêntico, como se o Grandão tivesse sido esculpido e não o titã, arregalo meus olhos quando as palavras do velho ancião retornam em minha mente e, finalmente, acredito que Djalma é a reencarnação do titã Cronos. Confesso que uma parte de mim ainda queria provas para aceitar isso, outra já sabia há muito tempo, contudo, todas as minhas dúvidas caíram e as pecinhas do quebra cabeça começaram a se encaixar; procuro Djalma e o acho no meio das três mesas, com uma expressão distante e fria, parecendo até que está em outro mundo, decidida, vou até ele e toco seu braço para chamar sua atenção, mas, sou agarrada fortemente e pressionada contra uma das colunas, enquanto a mão de Djalma aperta meu pescoço, fico sem reação, vejo seus olhos escuros beirando ao preto e suas veias sobressaltadas, sabendo que não é o meu Grandão ali e sentindo o ar cada vez mais raro em meus pulmões, reúno todas as minhas forças, falo:

— Gran-dão...— como se voltasse a si, percebo o verde dominar seu olhar, que me encara assustado e se afasta com uma velocidade impressionante e eu, bom, não consigo me manter sob minhas pernas e vou ao chão, colocando a mão em meu pescoço e abrindo a minha boca para tentar recuperar o ar que me faltou. Já ele está do outro lado do templo, respirando alto, com uma mão em sua cabeça e outra apertando seu peito, como se tentasse voltar a si mesmo e entender o que aconteceu, afinal, ele tentou me matar! No entanto, sei que não era ele, era como se algo ou alguém apodera-se de seu corpo e controlasse suas ações, quando consigo me recompor, levanto e ando até ele, receosa, falo:

— Djalma, está tudo bem? — ele si vira, ficando em minha frente e encarando profundamente meu olhar, vejo o arrependimento, a culpa, o medo e o choque passando por sua face. Fico comovida com isso, afinal, sei que não era ele ali; e quando lágrimas brotam em seu rosto, vou e o abraço, agarrando-o em meus braços e sendo retribuída. Ficamos assim por um tempo e ele fala:

— Desculpa Cachinhos, não sei o que aconteceu. Só me lembro de estar observando as mesas quando um turbilhão de memória me atingiu, fazendo-me recordar de tudo, tudo Larissa, ou melhor dizendo, Larisae. E depois quando tocou em mim, parecia que algo se apoderou de meu ser, pois, senti tanta dor e pressão em minha cabeça que só parou quando me chamou e eu despertei. — aceno concordando, afinal, foi exatamente essa minha hipótese e arregalo meus olhos, como assim Larisae? Ah, provavelmente, ele se lembrou de nossas vidas passadas, sem me conter, respondo:

— Eu sabia que algo assim havia acontecido, sei que nunca me machucaria. Agora venha, preciso de mostrar uma coisa. — pego em sua mão e o guio até a estátua de Cronos, assim que ele observa a mesma, sorri e diz:

— Devo admitir que fizeram um ótimo trabalho, mas, sou bem mais bonito pessoalmente. — seguro minha risada e falo:

— Parece que o titã tem uma excelente autoestima. — ele gargalha e comenta:

— Apenas quando estou contigo, afinal, a bela mulher que é ao meu lado me faz sentir o mais sortudo dos homens, mortais ou não. — sorrio igual a uma boba e assim que ia responder, escuto um barulho de algo rastejando no chão, como uma cobra, pelos Deuses a serpente nos achou! Encaro Djalma ou Cronos, enfim e o mesmo já percebeu, pois se colocou em minha frente para me proteger. Aquele ser asqueroso vem até nós, com a boca se abrindo para nos devorar e com os olhos vermelhos brilhando de satisfação, contudo, de repente, corvos aparecem voando pelo templo e fico surpresa são tantos! Eles voam ao redor de nós, criando uma forte ventania, que me faz agarrar no Grandão, que me segura também e quando abro meus olhos sinto que vou desmaiar, como voltamos para o nosso quarto na pousada? 


Meu SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora