Resoluções

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  O choque varria meu corpo, mas, consegui aos poucos me acalmar, lembro que o meu Grandão ficou ao meu lado, com isso, peguei em sua mão e a segurei até sentir a consciência retornando e minha visão clareando, começando a enxergar mais do que apenas borrões. Assim que senti meus membros novamente, levantei e fiquei sentada na cama, virei para o lado e percebi o olhar curioso e preocupado que Djalma ou Cronos, ainda não sei como chamá-lo, me mandar; respirando fundo, o encaro e falo:

— Eu sei. — suas sobrancelhas se arqueiam e a compreensão arrebata seu rosto, ele sorri e entendo que compreendeu tudo o que disse com apenas duas palavras. Como ele permanece quieto, continuo — Eu lembrei de tudo Cronos e você estava certo, em minha vida passada sofri muito ao retornar para minha antiga vida e fui obrigada a me casar, meu antigo marido me tratava muito mal e isso me traumatizou muito, por isso, as memórias estavam bloqueadas. Mas, agora já sei de tudo meu amor e não imagina o quanto estou feliz por estar em seus braços. — de repente, sinto seus braços me envolverem em um forte abraço, que retribuo e sua voz sussurra em meu ouvido:

— Estou tão feliz que se recordou, tão feliz. Saiba que nada vai nos separar, vou cuidar de você Larisae, vamos passar por isso juntos e vamos vencer. — confiante em suas palavras, respondo:

— Eu sei. Acredite eu sei. — depois de algum tempo, nos separamos e levantando da cama, me pondo de pé, pego em sua mão e vamos até a sala, lá nos acomodamos nos assentos e eu falo:

— Como já sabe de nossa história, acredito que não há muita coisa para te contar, apenas algo que chamou muito minha atenção e vou te dizer o que é. — Cronos acena com a cabeça, me estimulando a continuar e é isso que eu faço — É em relação ao meu pai e ao meu antigo marido, acho que eles podem fazer parte destas forças que conspiram contra nós, tanto pelo fato de meu progenitor nunca ter me perdoado por desafiá-lo, quanto por meu noivo nunca ter conseguido me engravidar; sinto um imenso ressentimento, ódio e raiva ao meu redor quando penso neles e acredito que isso possa ser um aviso, um sinal. O que acha? — seu maxilar está trancado, provavelmente, está irritado; me encarado, escuto tais palavras saírem de sua boca:

— Ele tentou te engravidar? — merda, tinha me esquecido que Cronos são sabia o que aconteceu quando voltei, respirando fundo, somente aceno com a cabeça e noto seu rosto ficar vermelho, tenho certeza que se o visse ele o mataria. Depois de alguns segundos tentando se controlar, ele continua — Eu sinto muito por não ter conseguido te proteger Larisae, juro que se pudesse faria tudo diferente, mas, o que aconteceu já passou. Sua suposição pode estar certa, pois faz muito sentido, agora, preciso saber se é capaz de reconhecer seu pai ou o seu antigo noivo em qualquer lugar, é capaz disso? — absorvo suas palavras e lembrando das memórias e das faces daqueles que me provocaram tanta dor, falo firmemente:

— Sim, sou. — vejo o orgulho nos olhos do meu amor e ele responde:

— Que bom! Pois vou matá-los na primeira oportunidade. — percebo que o mesmo está falando sério e sentindo uma estranha satisfação em minha alma, digo:

— Como se eu não soubesse disso. — nos encarando, rimos juntos como se uma piada tivesse sido contada e não um assassinato de duas pessoas. De repente, olho para o relógio e noto o horário e caramba! Eu fiquei apagada por um bom tempo, já são oito horas da manhã, praticamente hibernei, chocada, falo para o Cronos:

— Olha que horas são, eu fiquei fora do ar por horas. — ele  apenas dá de ombros e diz:

— Eu sei.

— E o que vamos fazer ag... — antes que terminasse minha barriga roncou e, envergonhada, continuo — Acho melhor irmos comer algo. 

— Eu concordo plenamente. — com isso, saímos da cabana e fomos para o centro, como a recepcionista não estava, obviamente, na recepção levei a chave comigo e seguimos nosso caminho. Já no centro da vila, avistei uma lanchonete bem interessante: com a fachada vintage, toda de madeira, uma varanda com assentos no exterior e por dentro, por meio das janelas de vidro, dava para ver o interior aconchegante com luminárias antigas, poltronas grandes, mesas de vários formatos e também um balcão separando a cozinha do hall também com banquinhos para os clientes; fiquei curiosa e com uma vontade de entrar, olhando para o Cronos digo:

— Podemos ir? — ele acompanha meu olhar e fala:

— Sim, claro. — sorrio, o abraço e vamos. Caramba, me comportei igual a uma adolescente apaixonada, mas, não tem problema; atravessamos a rua e entramos no local, sinto algumas pessoas nos olhando de esguelha, porém, ignoro. Vamos até uma mesa perto da janela e sentamos, logo uma atendente trouxe o menu e decidimos por: panquecas, omelete, salada de frutas, café e bolo. Afinal, o titã está muito entusiasmado para experimentar pratos tão diferentes, por isso, pedimos muita coisa; assim que ela saiu, ficamos conversando sobre nossas vidas passadas e sobre os momentos maravilhosos que vivemos juntos, parecia que estávamos no paraíso e de certa formo estávamos. A comida chegou e degustamos tudo aquilo, achei tão engraçado meu Grandão comendo, uau, realmente ele aprecia inovações na culinária, pois comeu tudo e mais um pouco; já eu, apenas ri de todo seu entusiasmo e animação, ficamos assim por um tempo, quando terminamos chamei a atendente, paguei e levantei para irmos embora. Porém, assim que levantei notei um papelzinho no chão, parecendo um guardanapo amassado, curiosa, o peguei em minhas mãos e arfei ao ler a mensagem contida nele '' sua morte será meu triunfo'', tento disfarçar e suando frio, olho para os lados, todos parecem estar distraídos em suas próprias vidas, então, como isso veio parar aqui? Cronos percebe minha expressão e pega o papel o lendo, vejo o choque tomar sua face e rapidamente ele me pega pela mão, nos retirando dali, indo assim para nossa cabana, com a maldito bilhete em sua mão.

Meu SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora