As Faces

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  Existem várias situações em nossas vidas que ficamos paralisados, embasbacados, chocados, virando verdadeiras estátuas. Esta é uma delas, afinal, ser perseguida por uma cobra gigante de olhos vermelhos em plena nevasca e depois o Djalma ter ''achado'' um esconderijo com uma cabana no meio da montanha, posso afirmar com toda minha propriedade que não é algo normal. E com tudo isso, bom, acabei virando uma estátua e fiquei parada no meio da neve, sem conseguir me mexer, o Grandão foi caminhando para aquela cabana, contudo, quando percebeu que eu não estava junto, virou e veio até mim, falando:

— Vamos Cachinhos, temos que entrar, aqui fora é perigoso. — eu tento responder, juro que tento, porém não sai nada de minha boca e minha cabeça fica em branco, sem saber o que fazer e, principalmente, sem saber como reagir. Djalma percebendo que estou mortificada, apenas dá de ombros e me pega no colo, indo para a cabana; minha mente registra tudo, desde o assoalho, até a lareira, a mobília já gasta, alguns troncos de lenha e os cômodos como a cozinha, o quarto e a sala. O lugar é estranhamente pequeno, mas, aconchegante e parece que já foi habitado pelas cinzas da lareira e isso me assustou ainda mais -como se já não estivesse o bastante- nem me fale. Sou colocada, com delicadeza, na cama pelo Grandão e ali fico sentada enquanto ele arruma as coisas, reavivando as chamas, tirando os alimentos da mochila e colocando sob a mesa, decido então, aproveitar o silêncio que se instaurou para colocar minha mente em ordem; afinal, não achamos o templo e temos que voltar, confesso, que não estou nem um pouco preocupada com aquele lugar, só quero ir para o hotel, só quero voltar viva. Por isso, motivada pelo meu instinto de sobrevivência, levanto de supetão e vou até o Grandão que está arrumando as coisas para comermos, o abraço por trás e, suavemente, o viro para seus olhos nos encontrarem e digo:

— Vamos voltar! — sua sobrancelha se arqueia e antes que pudesse contestar continuo — Estou assustada, não imaginei que pudesse acontecer algo assim, aquela cobra estava nos seguindo e não quero nem pensar no que poderia ter ocorrido, Djalma, por favor, vamos embora. — noto a surpresa tomar conta de sua face e seus lábios formaram uma linha fina, juro que consigo até ver as engrenagens de seu cérebro funcionando e a fumaça saindo e se fosse em outra ocasião até iria rir, contudo, pelo o que estamos passando pode ser considerado muitas coisas, menos engraçado. Djalma respira fundo e me responde:

— Acho melhor continuarmos, sei que está assustada, mas, isso é importante, temos que ver o templo e descobrirmos se devo ir para lá durante a lua de sangue ou não. É a única chance que temos e já andamos mais que a metade, então, acho melhor descansarmos por enquanto, depois irei vasculhar ao redor para ver se há algum vestígio da serpente e aí seguimos a viagem até o templo. — fico muito brava, sei que ele tem razão em partes e que já estamos aqui mesmo, porém meu egoísmo e meu medo se apoderam de meu ser, afinal, quero esse homem só para mim, se pudesse iria o levar para o Brasil e o esconder em meu apartamento até passar a tal lua, só que não posso, existem regras e se aquele velho ancião estiver certo o destino virá até nós de um jeito ou de outro não importa o quanto fugirmos dele. Irritada, ando de um lado para o outro pensando no que fazer, minha mente está um caos, não sei o que seguir, minha moral e meus deveres ou meu egoísmo e covardia, respiro fundo e sentando na cadeira em frente aos alimentos sob a mesa, olho para meu Grandão e digo:

— Tudo bem, vamos seguir seu plano general Djalma. — ele ri e sou pega de surpresa quando o mesmo me abraça e beija suavemente meus lábios, correspondo e nos separamos depois de algum tempo. Foco minha atenção na comida e pego alguns sanduíches, o Grandão faz o mesmo e nos permitimos relaxar, aproveitando a companhia um do outro e compartilhando uma refeição. Depois de comer, sinto meu corpo pesado e dolorido, por conta das recentes atividades físicas e sem me conter, deito na cama, sendo acompanhada por Djalma, que me aconchega em seus braços e, assim, cochilamos sentindo a proteção oriunda do fundo de nossas almas. Acordo sozinha e saio rápido para procurar o Grandão, o encontrando retornando da floresta com seu machado em mãos e as roupas um pouco sujas de terra, ao me ver, um sorriso surge em seu rosto e ele fala:

— A cobra sumiu, deve estar bem longe agora, vamos?! — aceno e volto para dentro da cabana recolhendo nossas coisas, fecho a porta, desço a sacada e pegando em sua mão, respondo:

— Vamos! — saímos pelo mesmo trajeto que fizemos e de repente sinto uma vontade de olhar para trás, faço isso e arregalo meus olhos, a cabana sumiu, não há mais nada ali. Abro a boca incrédula e volto minha atenção para a caminhada, ao longe escuto um grasnar de um corvo e sorrio, pois afinal, seja lá o que esteja acontecendo e pelo o que estejamos passando, não estamos sozinhos e sei que fiz a escolha certa. Segurando mais firmemente na mão do Grandão, deixo-me ser guiada e assim vamos atrás daquele templo e de respostas para o que está vindo aí. Depois de quase uma hora de caminhada, com direito a descanso e esticamento de pernas para aliviar as cãibras em minhas pernas, chegamos em uma cachoeira, a atravessamos com cuidado, subimos mais alguns metros e finalmente o vemos, ou pelo menos as ruínas do que o mesmo já foi, vemos o templo.





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