Paz

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                                                                          NÃO!NÃO!NÃO!E NÃO!                                                                         Simplesmente não acredito que isso está acontecendo comigo. Eu sempre fui uma pessoa normal, que trabalha de segunda à sexta e se diverte tomando sorvete e assistindo Netflix nos finais de semana. A minha maior aventura foi ter ido no Baile da Lapa, numa sexta à noite e agora isso. Alguém lá em cima realmente não gosta de mim.                                                                                                           Mas agora: estou em uma cidade do outro lado do oceano, sentindo uma presença ruim perto de mim(como se estivesse me seguindo), uma senhora louca fez uma premonição e apareceu uma marca estranha em meu braço.                                                                          O que eu devo fazer? Se eu tivesse o mínimo de juízo necessário, entraria num avião agora, voltaria para o Brasil e esqueceria toda essa viagem e seus acontecimentos, mas eu não fiz isso. Ao contrário, fiquei parada no banco, esperando a neta daquela Dona Olga, que não é nem um pouco pontual, diga-se de passagem. Só sinto que apesar de tudo isso, tenho que ir para lá, tenho que me permitir sentir e tentar abrir meu coração, que de acordo com meus colegas de trabalho nem existe. Estava perdida em meus pensamentos, quando vi uma moça, loira, alta, magra e bem bonita vindo em minha direção; pelos deuses ela é igual a Barbie, quando chegou até mim, parou me olhou dos pés a cabeça e disse:

 — Olá! Você deve ser a Larissa certo? Minha vó me falou sobre você é ainda mais linda pessoalmente— ok, ela é simpática e não parece ser aquelas mulheres que acham que só porque tem um corpo bonito podem tratar os outros mal.  Acreditem já conheci várias.

— Oi, sou eu mesma. É um prazer te conhecer e obrigada. Você também é deslumbrante.— respondi sorrindo e era mesmo.

— Muito obrigada! Vamos?

— Vamos!— levantei e comecei a segui-la em silêncio, já que a mesma não parece querer conversar. Quando chegamos no barco fiquei surpresa, apesar de simples era muito confortável, com almofadas em volta, de madeira e com um motor bem potente.

— Ei!!!!!!! Vamos entrar?— perguntou a Barbie.

— Vamos, desculpa viajei aqui— respondi envergonhada.

— Sem problemas, isso acontece mesmo.— disse educada e acenei concordando; já ouviram o ditado: posso sair da pobreza, mas a pobreza não saiu de mim, foi exatamente isso que veio na minha cabeça, assim que entrei no barco e por Odin, pensei que fosse morrer, está balançando muito, e em vez de fazer a fina, gritei como uma hiena morrendo e tenho certeza que espantei todos os pássaros que estavam por perto.

— Calma! Você se acostuma.— a Barbie tentou me tranquilizar, mas pelo seu olhar já deve estar se perguntando de que hospício eu fugi. Depois disso, pegou em meu braço e nos sentamos.

— Muito obrigada! E desculpa por esse show, é que nunca andei de barco antes.— disse à ela.

— Sem problema, isso acontece mesmo.— depois disso nos acomodamos e ela ligou o motor. E nossa...parece que eu nasci para isso, o vento em meu rosto, aquela vista linda, o mar azul escuro, é perfeito. De repente, percebi que não sabia nem o nome da Barbie e decidi puxar assunto: 

— É muito lindo aqui!

— Sim, é mesmo, nunca me canso disso Larissa.— respondeu educada.

— Você sabe meu nome, acho que mereço saber o seu, não?

— Meu nome é Invryl.

— Ok, não vou conseguir pronunciar isso, posso te chamar de Barbie?

— Claro!— disse rindo. Porém quando caiu para trás por causa dos risos, consegui ver em seu antebraço uma imagem de uma serpente e assim que percebi meus pelos da nuca se arrepiaram e algo me diz que isso não é bom.

— Larissa, me desculpa por essa cena, é que você é muito engraçada.

— Sem problemas.— respondi educada, se ela achou isso engraçado, esse povo é mais sério do que eu achava.

— Então...por que você está indo para Selvik?— perguntou como se fosse algo banal, mas vi seu olhar malicioso.

— Estou precisando descansar e Selvik parece ser um bom lugar para isso, calmo, tranquilo, tudo que estou precisando.

— Interessante, estrangeiros não vão para Selvik, até mesmo os nativos não gostam de vir.

— Mas você vai, não?

— Sim, meu namorado mora lá, o amo muito, aposto que deve estar no cais me esperando.

— Que bom. Já estamos chegando?

— Já chegamos— respondeu feliz e a ajudei a abordar o barco no cais. Quando olhei ao redor tinha um rapaz muito bonito que foi até Invryl e a beijou, a paisagem era linda, com muitas árvores ao redor, um cheiro amadeirado de carvalho, um céu nublado: perfeito, tudo que eu precisava. Quando saí do barco e coloquei meus pés em terra firme, um corvo veio voando, passou de raspão pela cabeça do casal, grasnando para eles, e parou em meu ombro, como se estivesse me protegendo e cuidando de mim; e quando isso aconteceu, pela primeira vez, me senti em paz.



Meu SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora