Perdida

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  Não consigo acreditar no que aconteceu, na verdade, não consigo entender o que aconteceu e automaticamente a incredulidade é o que assumo. Havíamos subido a montanha, teve uma tempestade de neve, nos abrigamos, veio uma serpente querendo nos matar, o Grandão achou uma cabana, ficamos escondidos lá, depois ela sumiu, quis ir embora, mas, continuamos, achamos o templo, vi uma estátua igual ao Djalma, fui contar para ele, algo o possui, ele tentou me matar, parou, viu, lembrou de todas as suas memórias, aquele animal voltou, vieram milhares de corvos, eles voaram ao nosso redor e estamos na cabana. Eu realmente não sei o que pensar, muito menos o que fazer, sento na cama e olho para o Grandão, que está estranhamente tranquilo, encostado na parede, com os braços cruzados e a expressão risonha; franzo minha testa sem compreender o porquê de suas ações e, o encarando, falo:

— Está tudo bem? Quero dizer, depois de tudo pelo o que passamos, acho que deve estar um pouco assustado ou, sei lá, apreensivo. Eu estou. — olhando-me intensamente, Djalma descruza os braços e vem até mim, ficando de joelhos ao pé da cama, e mesmo desse modo, ainda sou mais baixa que ele, enfim... De repente, ele pega minhas mãos e leva aos seus lábios, depositando um casto beijo nas mesmas e responde:

— Na verdade, estou tranquilo. — arqueio minhas sobrancelhas em total choque e antes que pudesse falar algo, ele continua — Eu me lembrei da minha vida passada, das nossas vidas passadas e isso me acalmou muito, agora, não me sinto mais perdido ou no escuro, consigo ver, saber o que devo fazer, reconhecer nossos inimigos, lutar e se for necessário os matar para te proteger, para proteger este amor tão lindo entre que apenas cresce entre nós. E eu sei que se sente desse modo, mas, é porque ainda não se lembrou do que ocorreu entre a gente, sei que ao se recordar ficará mais calma e confiante. — sorrio fracamente com sua fala e, apertando levemente sua mão, digo:

— Fico feliz por você, eu fico bem sabendo que está bem, contudo, não consigo entender o motivo de eu não ter lembrado da minha antiga vida. Creio que com as informações de como as coisas eram e como aconteceram poderei nos ajudar a passar por isso tudo e ficarmos juntos, pois a única coisa que tenho certeza é que não quero ficar longe de você Grandão, Djalma, Cronos, enfim... — ele ri com minha fala e senta na cama ao meu lado, abraçando-me e sussurra em meu ouvido:

— Pode me chamar do que quiser, confesso, que me identifico mais com Cronos. Porém, é perigoso falar esse nome em público, afinal, não sabemos quem são meus inimigos, então, pode continuar com Djalma, apesar de preferir Grandão. — rimos com isso e me aconchego em seus braços, encostando minha cabeça em seu peito, o esperando continuar — Acho que provavelmente passou por alguma dor imensa em sua vida passada, algo que  a traumatizou, isso pode estar dificultando o processo das memórias retornarem. — concordo com ele e ficamos algum tempo apenas aproveitando a companhia um do outro. Quando a fome deu sinal, fomos para a cozinha e decidi por algo rápido e gostoso, por isso, fizemos um macarrão com molho de tomate e o Grandão fez uma carne na frigideira, com tudo pronto, comemos e o deixei arrumando a pia, ele reclamou afinal ''Um titã do tempo não deveria ter que fazer isso sozinho.'' mas, bastou um olhar meu que ele parou na hora e começou os trabalhos. Fui me deitar, depois que escovei os dentes, e senti o colchão afundando com seu peso, o abracei de lado, ele retribuiu e falo baixo em seu ouvido:

— Eu te amo Grandão, seja você um titã ou não. — percebi sua expressão se movendo para um sorriso e ele disse:

— Eu também te amo Larisae. — ao ouvir essa frase, senti uma pressão em minha cabeça, um aperto em meu peito e o ar me faltando, como se já a ouvisse há milhares de anos, de repente, minha mente foi invadida por lembranças, por memórias e sem aguentar tamanha força e intensidade, desmaiei. A última coisa que escuto é o Cronos me chamando desesperado.

Meu SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora