Larisae

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  Minha mente está um turbilhão, são tantas visões, tantas informações, tanta dor. Vejo uma garota idêntica a mim, só que com roupas estranhas, ela parece solitária e triste, discutiu com um homem mais velho, provavelmente, seu pai e foi embora, apressei meus passos e a acompanhei; chegando assim em um quarto, onde ela se deitou no chão e começou a chorar, fiquei tão sentida pela sua dor que lágrimas caíram de minha face também. De repente, uma estrela passou pelo céu e ela fez um desejo "viver", o tempo passou e a moça foi dormir, já eu não senti nenhum cansaço, por isso, fiquei velando seu sono ao lado da cama; quando a lua iluminou todo o quarto um corvo negro passou pela janela e pousou em cima da mesinha, com o seu grasnado senti como se estivéssemos sendo transportados para outro mundo, outra dimensão. Assim que, a sensação parou em finalmente meus pés estavam em contato com um chão firme, olhei ao redor e uau! Não sei como, mas, estou em um templo, na verdade, parece um palácio grego: com grandes colunas, estátuas, piso de mármore, chafariz, divãs, mesas douradas com comidas e bebidas, diversas piscinas de variadas águas como termais, salgadas, doces, entre outras. São tantas coisas que meus olhos ficam perdidos em tamanha imensidão, vejo que a minha sósia está do mesmo jeito, porém, ela já encontrou algo que chamou sua atenção, ou melhor dizendo, alguém. Acompanho seu olhar e encontro o Djalma, pois é idêntico a ele, contudo, as roupas e o jeito são diferentes, esse homem é mais imponente, mais forte, mais divino, sim, sei que divino é estranhíssimo porém é a energia que ele emana. Arregalo meus olhos, ele é o titã do tempo, ele é o Cronos e eu estou vendo minhas lembranças, da minha antiga vida. Caramba! Meu peito se aperta de emoção e de pressão, afinal, sinto que terá coisas bem desagradáveis pelo caminho, mas, aguentarei e quando voltar para o meu Grandão terei informações suficientes para nos ajudar e ficarmos juntos.
  Tenho meus pensamentos interrompidos quando escuto um barulho alto, viro em direção ao mesmo e vejo a Larisae espatifada no chão aos pés de Cronos, caramba, até em outra vida eu era desastrada. Obviamente, o homem ficou assustado e a ajudou, pegando-a delicadamente pela cintura e a levantando em seus braços, já ela, bom, ficou petrificada sem saber como reagir mediante tamanha beleza; ele perguntou se a mesma estava bem e ela apenas acenou que sim, se apresentou como Cronos e ficou esperando ela fazer o mesmo, contudo, devo admitir que a moça é bem quietinha viu, pois, não disse nada por uns bons minutos, só depois que ele a colocou no chão novamente que ela despertou e começou a tagarelar. Nossa! Ela está falando tantas coisas que não estou entendo nada, está dizendo que se chama Larisae, que não é daqui, que precisa voltar, que seu pai deve estar preocupado e muito mais; o coitado do Cronos está até com os olhos arregalados e a boca meio entreaberta, ele não sabe o que fazer e isso mexe com meu orgulho, afinal, em minha outra encarnação deixei uma divindade sem reação e isso é algo para se admirar. Quando ela, finalmente, ficou quieta, ele a explicou onde estava, quem era, o que fazia, como funcionavam as coisas naquele lugar e que a mesma era bem-vinda até acharem uma forma de voltar; percebi que ambos estavam meio acanhados, como se quisessem fazer muito, mas, não sabem como se comportar na presença do outro. Larisae examinou o Cronos por inteiro, sem ele perceber claro, e abriu um sorrisinho de canto envergonhada pelos pensamentos indecentes que adentraram sua mente, já ele parecia a comer com os olhos, juro que achei que fosse agarrá-la e transar com ela no divã mais próximo, porém, isso não aconteceu; eles apenas caminharam até o quarto dela e se despediram, prometendo se encontrarem no jantar.  Depois disso, o tempo passou extremamente rápido ou eu que tive essa impressão, já que entre jantares, caminhadas nos jardins, banhos nas piscinas, conversas regadas a lanches e bebidas, leituras de diversos livros, danças, músicas, arte, brincadeiras, confissões, receios e confiança vi surgir o amor; vi eu ou Larisae se apaixonar, amar e principalmente viver, vi seus desejos e sua felicidades serem prioridades, vi suas decisões serem respeitadas e não questionadas, vi o titã se render aos seus encantos e a desejar cada dia mais. O mesmo aconteceu com ele, que teve a confiança reconquistada, que aprendeu que o amor não pede nada em troca, que aprendeu o valor da gentileza e da caridade, além de ensinar muito a jovem moça e cuidar dela. Confesso que eu amei o amor deles e desejei viver algo assim, até lembrar que já vivo, afinal, meu Grandão está me esperando; finalmente, eles confessaram seus sentimentos e se casaram, na verdade, foi mais o acontecimento da época do que um casamento, a festa durou dias, as pessoas se divertiram, o amor foi celebrado e adorado e depois, é claro, veio a noite de núpcias, aonde se entregaram um para o outro e se uniram por toda a eternidade; contudo, como já sabia pela história, Larisae não acordou nos braços de seu titã, mas sim, no palácio de seu pai tendo consigo apenas o cordão que seu amado lhe deu com o formato de uma ampulheta. Teve que se casar com o noivo que seu progenitor escolheu e foi obrigada a satisfazê-lo e tentar lhe dar filhos, mas, nada funcionava, parece que seu corpo, que já foi meu, estivesse fechado para qualquer outro homem; anos se passaram de sofrimento, humilhação, abusos, violência, medo e raiva, até que ele faleceu e depois de algum tempo Larisae morreu também, tendo como último pensamento seu titã, seu amor, com a certeza que um dia eles se reencontrariam, que um dia eles seriam felizes e ficariam juntos para toda a eternidade. 

  Quando as lembranças de minha vida terminaram consegui retornar para a consciência, para meu corpo. Abro meus olhos assustada e vejo meu Grandão, meu Djalma e também meu Cronos, o mesmo vem até mim, pegando minha mão e pergunta se estou bem. Sem me conter, jogo-me em seus braços e lhe beijo, afinal, estou em seus braços, estou mais do que bem.

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