Tava cansada pra caralho, vi o baile movimentado e subi pro camarote. Não encontrei a dona Fernanda nem a minha madrinha.
Apenas o Indio, com a cara fechada. Caminhei até ele e sentei ao seu lado pegando o copo de whisky da mesa.
Índio: Na paz? -me encarou e eu assentir -Tô vendo, cara emburrada aí pô.
Na verdade eu tava chateada com o Luan, e tava sozinha no baile, não gostava.
-Preciso fazer novas amizades, algumas largam as mãos. -falei alto o suficiente pra ele escutar sem precisar abaixar a cabeça
Índio: Satisfação pô. -estendeu a mão -Teu novo colega aí.
-Oi? -fiz a sonsa e encostei a cabeça em seu pescoço pra ele falar novamente
Pra minha surpresa ele colocou a mão no meu rosto e aproximou a boca no meu ouvido.
Índio: Tô fechado contigo. -repetiu rouco
Ele era o dono da porra toda, mas era humilde, e até agora está mostrando ser um amigo legal mermo.
-Isso mermo, gostei. -sorrir de lado
Índio: Vamo dar uma volta, sem neurose? -me encarou e levantou esticando a mão
Segurei levantando e ajustei meu vestido, saímos juntos do baile e eu entrei em seu carro preto com vidro preto fosco.
Típico de sequestro, tinha o perfume dele, e o banco era de couro.
Pensei antes de entrar, sabia que amanhã poderia sair nas páginas de fofocas. Mas quem não deve, não teme.
-Caraca, puro luxo. -olhei ao redor e ele acelerou o carro arrastando o pneu
Índio: Quer tomar um caldo? -encarei confusa
Quero.
-Caldo de cana? -perguntei e ele encarou óbvio
Índio: Então, qual caldo poderia ser além desse? -passou a marcha e eu analisei os anéis em seu dedo e a mão com as veias marcadas
-Tem vários, tu está falando com a maior experimentadora de caldos.
Índio: Boto fé. -estacionou o carro e descemos na baixada
Era justamente o quiosque que eu sempre passava, afinal , é em frente ao posto Santa Luz.
Chegamos distante um do outro, pouco papo, comi meu pastel e o caldo de cana, e depois fiquei parada esperando ele falar algo.
Índio: O que tu sabe sobre o teu coroa?
Ah, não sobre o meu pai.
-O nome, o vulgo, que ele é meu pai, e já foi super envolvido na ilegalidade. -olhei pra ele que parou um pouco me observando
Eu sinceramente me sinto no metáforando, sempre que converso com ele. Parece que sou uma criminosa e ele está desvendando isso.
Índio: Ele e o meu coroa eram conhecidos, pô. -pigarrou e cruzou os braços -Não imaginava que ele tinha uma cria.
-Pois é, ele teve. -virei o rosto -Mas nem sempre estive por aqui, passei uma cota na minha avó paterna. E morei aqui na baixada também.
Era fácil contar a minha vida completa pra um traficante, eu já nem sabia sobre a palavra limites.
Índio: Peguei a visão. -encarou o relógio -Qual tua fita com o Luan?
-Amizade. -ele me olhou meio desconfiado -Com todo respeito, também não é da sua conta.
Índio: Claro que é. -apoiou o braço na mesa -O Luan tá desenrolando com minha irmã, preciso estar ciente, se não tem nenhuma surtada obcecada por ele.
-Tem, várias pelo morro. -olhei pro meu celular -Mas eu não ameaço risco, acho que é meio óbvio.
Índio: Papo reto, tu parece bem inocente, principalmente pra uma cria de favela. -analisou minha boca
-Cuidado, sou de alta periculosidade. -apontei pro posto atrás de nós dois -Se eu quiser, assim como salvo vida, posso tirar. Mas sou bastante humana pra fazer isso.
Índio: Também sou humano, pô. -olhou o celular -Só não gosto de ser tirado de otário.
-Quem tiraria um dono de morro, de otário? -encarei ele
Índio: Tu tá por fora mermo, precisa se atualizar. -sorriu de lado -Somos colegas certo?
-Essa fita mermo.
Índio: Então tu vai aprender, pelo menos defesa básica. -olhei pra ele sem entender
-Quer que a dona Fernanda, te odeie ainda mais?
Índio: Eu falei basica. -levantou um pouco a camisa amostrando a pistola -Não tô te chamando pra ser bandoleira da favela.
Eu, pegando em uma arma? Dentro de todas as leis "Lorena não pode fazer" que a dona Fernanda criou.
Por outro lado, pensei na noite passadas, se eu tivesse uma defesa teria evitado.
-Certo. -estendi a mão por segundos e depois me senti uma otária
Ele encarou meu braço antes de levantar a mão e apertar a minha. Senti meu corpo se arrepiar todinho.
Índio: Se tu quiser, podemos aprender alguma fita que tu curte também.
-Claro.
Já tinha algumas coisas em mente. Se ele quer que eu me enturme com algo que ele gosta, também quero.
Estou definitivamente criando um laço com o dono da minha comunidade. E o pior, ele é legal comigo. Ele poderia ser aqueles dono arrogantes e babacas, mas não.
Encarei o celular e a mensagem da minha mãe.
+Mãe: Peste, tu tá dando?
+Mãe: Pelo menos , venha pra casa e não durma na casa de desconhecidos.
+Mãe: A chave tá debaixo do tapete.
(03:00)
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FAVELA VIVE (REVISANDO) + (CONCLUÍDA) REPOSTANDO
General FictionFavela do Vidigal - Triângulo amoroso! "Todo mundo tá ligado que ela é a minha de fé, aí de quem cometer o pecado de cobiçar minha mulher....abrir um salão pra você dentro da minha favela." -Poesia Acústica 13 (+18)