capítulo 36

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Depois de passar em casa pra organizar tudo, esperei no portão o meu motoqueiro fantasma chegar. O Índio só falou que mandou alguém vim me buscar enquanto ele chegava em casa.

Analisei de longe o Luan subir a vila dando grau.

Luan: Sobe gatinha. -piscou e eu montei na garupa segurando sua cintura -Qual a fita de hoje?

-Nada demais, apenas um convite irrecusável.

Luan: Na base do Índio?

-Sim? -encarei seu olhar pelo retrovisor -Qual é, não sou eu quem troca amizade por transa.

Luan: Não vô te trocar não, pô.

-Percebeu que depois que tu começou a ficar com a Mayara, tu se afastou?

Luan: Neurose tua, só tô na correria na biqueira. Separei um tempo na maior responsa pra vim te buscar, e tu fica me julgando né.

-Tranquilo.

Luan: Sem ciúmes, sou todo teu. -brincou acelerando -Tu é minha, não quero nem vê tu com o Índio.

-Pois, então fure os olhos. 

Luan: Que isso cara? Tá na maldade mermo ,né. -parou a moto e eu desci vendo a casa na frente

-Valeu, falsiane do Vidigal.

Luan: Tu me respeita, ô garota. -segurou meu braço e eu virei -Cadê?

-O que? -gargalhei me soltando

Luan: Tá mudada mermo, né. -segurou minha nuca puxando

Índio: Rua 17, base 34. -apareceu atrás de mim -Mayara ligou bolada, que tu largou ela pra ir buscar a Lorena ,e eu pedi pro Luqueta buscar ela, não tu.

Luan: Mayara pode esperar. -beijou minha testa e ajeitou o capacete -Sigo ordens, mas a Lorena é minha prioridade nesse morro, compadre.

Índio: Tô entendendo. -riu de lado -Prioridade.

-Vamo entrar, Índio.  -cortei o Luan antes do clima ficar tenso

Índio: Bora. -sacudiu a chave e eu encarei o Luan acelerar

-Precisava desse lacre? -encostei no Índio

Índio: Lacre? -perguntou confuso

-Gíria moderna, no caso tu já é coroa pô, esqueço. -sussurrei alto o suficiente pra ele parar cruzando os braços

Índio: Tá aproveitando da tua sorte, né? -se aproximou -Deixa o coroa te pegar, pra tu ver o estrago.

-Tu me respeita. -bati em seu peito rindo

Mariana: Cheguei filho. -apareceu no portão e eu virei -Lore querida, está linda.

-Dona Mari, digo o mesmo. -sorrir simpática

Índio: Comprou? -virou pra ela

Marina: Sim. -entregou uma sacola pra ele

Entramos em casa e eu já me aconcheguei na residência, ficamos com o Marcos, conversando e assistindo Bob Esponja.

Jogamos uma coberta e ficamos na sala escura, o Marcos tava do meu lado deitado e o Índio do outro lado. A dona Marina foi pra igreja agradecer pelo livramento do seu neto.

E o Índio tava inquieto, ele saiu duas vezes pra fumar, talvez fosse um vício.

-Tá tudo certo? -me ajeitei entre Marcos e ele

Índio: Apenas algumas tretas na biqueira. -analisou a cria -Ele dormiu?

-Sim. -abaixei a cabeça confirmando

Índio: Tu deve entender um pouco sobre o quanto é foda viver sob pressão. -assentir

-Eu trabalho sob pressão.

Índio: Merma fita, liderar uma facção é uma das paradas mais sob pressão. Ser filho e ser pai também.

-Além de ser administrador de ficantes, né. -falei cortando o clima que a conversa estava indo

Índio: Tenho nem tempo pra comer uma buceta Lorena. -falou sem filtro e eu virei rapidamente confirmando que Marcos estava dormindo

-Bom, mas anda com umas 5 meninas diferente todos os dias da semana. E o instagram da favela diz ao contrário.

Índio: Tu acredita em fofoca? -encarei ele assentindo -Então deveria acreditar que tu já deu pra metade dos meus traficantes?

-Sim. -falei óbvia e ele fechou a cara bolado me fazendo rir -Não tenho culpa se me amarro em bandido.

Índio: Metade, Lorena? -falou rouco

-Uns 7 vapores, incluindo alguns traficantes aí. -falei sincera e ele franziu a sobrancelha -Não me olha assim, namoral mermo.

Índio: Por que? -me encarou lentamente e eu me encolhi -Que foi doida?

-É uma perdição, Índio. -me abanei vendo ele rir de lado -Para de graça, que tua cria tá aqui.

Índio: Não posso te olhar? -beijou meu pescoço mordiscando -Hm?

-Não. -me afastei rindo

Índio: Se eu colocar ele no quarto, tu não me escapa, te mando o papo logo. -estendeu o dedo e eu neguei

-Preciso ir pra casa, já tá na hora. -encarei o celular vendo as mensagens

Índio: Alguém te deixa na tua base, bora ali no quarto, marca uns 40 minutos. 

Isso sim, era um convite irrecusável.






FAVELA VIVE (REVISANDO) + (CONCLUÍDA) REPOSTANDOOnde histórias criam vida. Descubra agora