Batalha de Sokovia - Parte 2

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Volteeeiii!!Capítulo difícil de escrever, reescrito umas 50 vezes, mas enfim saiu! Estamos no antepenúltimo capítulo da temporada!!! Espero muito que estejam gostando, e logo mais teremos a segunda temporada: A Aranha no Vidro.Sem demoras, boa leitura!!




Lucy se arrastou para fora dos escombros do prédio: não conseguia retirar as pessoas dali, e seus pais pareciam não estar em lugar nenhum, ocupados com o confronto no lado sul! Havia um grupo de doze pessoas soterradas numa garagem, todas ilesas (ou quase), mas de nada servia se não as pudesse levar para o Helicarrier, apesar de seus esforços desesperados! Ela tentou mais uma vez erguer a pesada porta de aço, deixando escapar um grito de frustração quando o objeto sequer se moveu, caindo de joelhos à procura de qualquer ponto de apoio para uma alavanca, sem sucesso. Isso, pelo menos, até que viu a figura do Hulk... Certo... Talvez pudesse improvisar... Ainda que a figura musculosa parecesse em um frenesi destrutivo de esmagar, bater e quebrar... Ele com certeza conseguiria erguer o portão destroçado... Se ela o conseguisse convencer.
— ... bozhe moi... Eu vou morrer... – Okay... precisava de ajuda, e tinha de se virar com os recursos que se apresentavam. Revestindo-se de uma coragem que não possuía por completo, atirou-se numa carreira rumo ao gigante.
— HULK!! – Gritou a plenos pulmões, chamando a atenção do lutador de uma distância de poucos metros; este estacionou seus movimentos após estourar uma armadura contra o solo, virando-se para a criança com um rosnado baixo e vibrante, a postura agressiva.
"Com certeza eu vou morrer..."
— Hulk, ME SEGUE!!! – A garota sinalizou, a princípio não recebendo resposta, mas então lhe arremessou uma pedrinha. – VEM, GRANDÃO! PRECISO DE AJUDA!
O rugido da fera a fez disparar rumo à edificação colapsada com toda a velocidade de suas pequenas pernas, parando bem diante dessa e se virando para avaliar a situação: se precisasse, controlaria a mente do Hulk, mesmo não sendo favorável a fazê-lo, pois não havia alternativa segura se a fera não se acalmasse. Contudo, sua própria mudança de postura fez a criatura parar, sua atenção toda focada naquele filhote quando a pequena gesticulou, mãos erguidas ao lado da cabeça:
— Amigos, grandão! – E indicando a garagem com a mão. – Presos, Hulk! Levante, por favor!! – Ela gesticulou pra os escombros.
Incerto, o gigante enfiou uma das mãos sob uma barra de concreto e aço, um olhar indagador no olhar, e isso arrancou um anuir entusiasmado da telepata:
— Isso!! Levante!! Estão presos ali dentro! – Os destroços voaram para cima, liberando a saída, e a pequena deu um gritinho de alegria. – TE AMO, GRANDÃO!! – Ajoelhando-se na passagem, sinalizou para as pessoas na garagem subterrânea. – Saiam! Vão para as naves de carga, estão na ponte! – Um punho gigante se fechou ao seu redor, e a garota deu um grito, subitamente em pânico ao se ve erguida no ar. – NÃO, HULK!!! ME LARGA!!!
Porém, os dedos não a esmagaram, nem a feriram; o Hulk a carregou como uma boneca de pano enquanto trotava através de quadras e mais quadras, sacolejando, mas surpreendentemente cuidadoso com seu aperto; ela se sentiu subitamente jogada ao chão, mas seu corpo se chocou contra outro, e o cheiro da pessoa imediatamente lhe disse tratar-se de sua mãe, antes mesmo de ouvir o gemido surpreso devido ao impacto. O gigante se assomava sobre ambas ao rugir:
— FILHOTE. FICA. MÃE.
Natasha foi pega de surpresa pelo corpo da menina se chocando com o seu, mas ficou muito claro que o Hulk fora tão "gentil" quanto era capaz; a espiã se refez do impacto e colocou a filha no chão com o cuidado que os reflexos permitiram, antes de se voltar para o alter-ego de Banner, irritada pela atitude do colega:
— HULK!! QUAL É???
— HULK NÃO MÃE. – O gigante exclamou com revolta, socando um veículo tombado enquanto se curvava para encarar Natasha nos olhos. – FILHOTE. FICA. MÃE!!!
E com aquelas poucas palavras, saltou de volta para longe, o som de engrenagens se partindo revelando que as mãos gigantes haviam agarrado mais uma armadura no ar. A Viúva Negra se voltou rapidamente para a menina, examinando-a:
— Você está bem?
— estou sim... só... ficando bem cansada. – Lucy ofegou, sentindo-se dolorida e extremamente cansada após tanto tempo de confronto. – Não aguento muito mais tempo, Mama. Desculpa.
— Não peça desculpas. Saia da área de combate. Vá para os "botes salva-vidas" e ajude os civis a subir. A luta está quase no fim, vamos acabar de tirar todos. A sua parte nisso acabou.
— Está bem, Mama. – Apoiando-se nos joelhos por alguns segundos, para se recompor, a criança se endireitou e correu para a área de naves atracadas, enquanto a mulher se comunicava com a equipe:
— Como estamos, time?
— O dispositivo está seguro. – Wanda assegurou, responsável que se fizera por manter o núcleo a salvo de Ultron, desintegrando qualquer armadura que se aproximasse.
– Assim que oa cidad estiver vazia, Thor e eu desintegramos o núcleo; estamos terminando com as armaduras na borda norte. – Tony respondeu.
— Danificamos o corpo principal, estamos quase terminando com os droides ao sul. Todos para o aeroporta-aviões. – Clint alertou, ele próprio conduzindo os últimos civis.
Contudo, o foco do Gavião foi atraído para uma criança caída na vala lateral da praça destruída: o menino, da idade aproximada de Cooper, sangrava e parecia inconsciente, e a reação imediata do Vingador foi saltar para dentro da depressão no solo, pegando o pequeno no colo...
Mal havia galgado de volta o terreno firme da praça, quando seu campo de visão foi ocupado pela figura mais inesperada: o quinjet, roubado por Ultron, disparava fogo pesado contra a praça e todos nela. Sem tempo para correr ou desviar, ele fez a única coisa que poderia: abraçou a criança e se virou de modo que seu corpo servisse como escudo, pronto para sentir a dor dos projéteis atravessando sua carne... Contudo a sensação jamais veio.
Um som de metal arrastando, um vento rápido, e o quinjet passou adiante sem causar estrago! O Gavião se virou, estupefato, e seus olhos encontraram os do garoto Maximoff: mortalmente pálido, tremendo e abatido como um paciente terminal, mas agarrando com firmeza à lataria do carro contra o qual se chocara para cobrir o Vingador e a criança, protegido dos projéteis pela lataria, o garoto fitou Clint com um meio sorriso:
— Não me viu chegando...? – E com essas palavras, seu corpo colapsou ao chão. Não havia senão ferimentos superficiais em si, mas Barton podia jurar que o rapaz perdera pelo menos dez quilos naquele dia, o rosto consumido por extremo abatimento e olheiras profundas de esgotamento e desidratação... Sob os dedos do assassino, a pulsação de Maximoff era frenética, cerca de 300 bpm, e fraca, mas o garoto respirava. Sem hesitar, Clint passou o braço do rapaz por seus ombros e o arrastou consigo para as naves de evacuação.

*

Natasha rastejou para sair de debaixo da coluna sob a qual se ocultara quando o quinjet passara; erguendo-se, olhou ao redor à procura de feridos: o cheiro de sangue impregnava tudo ao redor, tornando difícil distinguir a presença de alguém... Isso até que uma mancha de cor chamou sua atenção. Branco, escarlate e azul, o escudo de Steve jazia abandonado no chão, e aquilo estrangulou o coração da espiã.
— STEVE?! – A mulher correu para o escudo, buscando freneticamente pelo noivo, na paisagem empoeirada e coberta de fumaça. E então ela viu... Sob um muro desmoronado, o Capitão estava inconsciente, e a Viúva Negra se apressou em alcançá-lo.
Rogers estava inconsciente, sangue escorrendo pela boca, e quando Romanoff removeu as pedras em cima dele, o estrago foi exposto: acertado pelas costas pelos tiros do quinjet, tinha seis perfurações de pelo menos uma polegada no torso e abdome, respirando com dificuldade...
— Steve! Steve fique comigo! Abra os olhos! NÃO SE ATREVA A MORRER, STEVE!
A espiã revistou rapidamente as perfurações, identificando os sangramentos... uma perfuração pulmonar, pelo menos, uma no fígado, as outras ela não conseguia identificar o dano, mas sangravam menos... Com gestos automáticos, cortou com faca pedaços de seu traje e do dele, dobrando o tecido para tamponar as perfurações e usando o cinto para comprimir os ferimentos, enquanto chamava no comunicador:
— Steve foi atingido!!! Preciso de ajuda médica! – Ela não se atrevia a movê-lo naquelas condições. Arrastar ou carregar o soldado poderia piorar os ferimentos internos e causar a morte... — FURY, MANDE UMA MACA PARA A BORDA SUL, AGORA! STEVE FOI ATINGIDO!
Ela prestava os primeiros-socorros que podia, lutando contra suas mãos trêmulas como jamais haviam estado em sua vida, desobstruindo as vias aéreas, tamponando os ferimentos, checando a pulsação, mas suas sinapses uivavam com a sensação de mais extrema impotência enquanto sentia o sangue se esvair lentamente...
— Não faz isso comigo, Steve. Volta para mim. ACORDA! – Ela segurou seu rosto mortalmente pálido, sentindo gelo percorrer suas veias enquanto encarava o rosto irresponsivo e pálido como um cadáver...
— Mama! Mama, só faltam vocês! – Aparecendo como se surgida do nada, Lucy empalideceu ao ver a cena, e se abaixou com urgência ao lado do pai, o rosto infantil se torcendo em desespero enquanto tocava seu rosto inconsciente. – Papa! Papa, acorde!! Papa, você tem que levantar!! A gente vai para casa!!!
— Lucy, não olhe! Volte pro helicarr... – Romanoff tentou impedir que a garota visse a cena brutal, mas a pequena se esquivou com firmeza:
— Eu posso ajudar!
Ajoelhada junto ao Capitão, a criança pousou uma das mãos na cabeça do pai, a outra em seu abdomen e, concentrando-se da maneira que havia aprendido com Jean Grey, focou toda a sua atenção e percepção na rede nervosa autônoma do militar. Sentiu cada fenda sináptica saturada de adrenalina, fazendo os sinais vitais dispararem em frequência e intensidade, aumentando a pressão para reduzir a hemorragia e acelerando o coração para melhor oxigenar o cérebro... E essa reação fisiológica o mataria muito depressa. Embora eficaz para ferimentos leves, o corpo não detinha mecanismos para evitar a morte em situações extremas. Assim, a estratégia tinha de ser forçada.
Ela buscou os centros do sistema nervoso autônomo, sequestrando os neurônios transmissores de ordens fisiológicas, bloqueando e inibindo a excitação simpática de estímulo. Ao invés, forçou a ativação do sistema parassimpático, baixando as funções vitais. Por contra-intuitivo que fosse, a redução de respiração, frequência cardíaca e funções fisiológicas em geral preservaria os tecidos, reduzindo a demanda de energia e oxigênio, evitando que os tecidos e órgãos colapsados fossem sobrecarregados, permitindo que os parcos recursos disponíveis fossem direcionados ao cérebro e centros vitais. As funções encefálicas baixaram ao mínimo, um estado comatoso induzido a proteger contra danos cerebrais.
Natasha não tentou impedi-la. Ao contrário, virou o Capitão em posição anti-choque e cuidou de proteger Steve e Lucy contra qualquer perigo externo; o alívio sobreveio quando a equipe paramédica da SHIELD os alcançou. Enquanto Rogers era colocado sobre a maca, a criança se posicionou de forma a não perder o contato e controle, empoleirada na prancha de transporte e mantendo a estabilização. Enquanto isso, a Viúva Negra os acompanhou muito de perto, mantendo a compressão sobre a hemorragia abdominal. Perder Steve daquela forma não era uma opção. Nunca uma opção.

*

A explosão da cidade flutuante sacudiu todo o helicarrier; o núcleo de metal precipitou-se em fragmentos sobre o lago que banhava a outrora cidade de Sokovia; enquanto Rogers era levado para o suprte médico, Natasha correu em auxiliar nos primeiros socorros aos cidadãos apinhados no convés.
Havia uma regra simples na prioridade de atendimento: pessoas em estados mais graves em primeiro lugar. Mas feridos graves com mais chances de sobrevivência (crianças, jovens e ferimentos passíveis de salvamento) detinham a prioridade absoluta. Seguiam-se ferimentos moderados, e aos feridos leves restava aguardar. Um procedimento que precisava ser adotado com frieza e racionalidade, fechando os olhos aos gritos de dor e olhares desesperados. Uma fratura exposta de perna, não importava o quão horríveis fossem os gritos do paciente, jamais prevaleceria sobre um ferimento de bala ou esmagadura em que, pela secção do nervo, o paciente não sentisse dor. Romanoff estava acostumada a essa crueldade altruísta, e se punha a prestar os primeiros socorros para os que haviam sido relegados a segundo e terceiro lugares.
Não havia conforto nos rostos dos sobreviventes; lutar para estar vivos era um instinto básico, mas seus semblantes mostravam horror, desespero, tristeza, raiva, medo... Puro choque e perplexidade enquanto o que um dia fora seu lar se revelava uma cratera aberta, invadida pela água... O tsunami causado pela queda do núcleo de Vibranium se encarregava de arrasar as edificações remanescentes da cidade, deixando muito pouco para trás enquanto as bordas da cratera eram tragadas para a garganta da Terra. Muitos dos choros e prantos não eram de sofrimento físico, nos sobreviventes resgatados. E Natasha os entendia... Às vezes, sobreviver não significava muito, quando todo o resto havia se perdido...
Ela tentou não pensar nisso, como tentava não pensar em Steve, agora. Por vezes, tudo o que podia fazer era seu trabalho, então foi no que se concentrou.

*

No helicarrier, Rogers fora estabilizado, ligado a tubos de oxigênio, recebera hemostaticos e as hemorragias foram provisoriamente cauterizadas ou tamponadas com angioplastias, até a chegada ao centro cirúrgico. Os monitores mostravam sinais vitais baixos, porém estáveis. Natasha e Lucy o observavam através da janela da CTI provisória, ambas chocadas em ver a figura do homem ligado a tantos tubos e cateteres, faixas envolvendo e apertando seu corpo, o ambiente cinza e branco da ala médica servindo de moldura monocromática para o soturno cenário...
— Agente Sênior Romanoff. Agente Júnior. – O médico responsável por Steve se aproximou; cabelos em corte militar, raspados na nuca e um pouco mais longos em cima, rosto de feições angulosas e severas que remetiam a um falcão ou águia, com afiados olhos castanhos âmbar e nariz aquilino. — O Capitão se encontra estável. Infundimos sangue e plasma, induzimos o coma e estamos monitorando sinais vitais. Sofreu perfurações no pulmão esquerdo, fígado e intestinos, que serão reparadas por cirurgia assim que chegarmos à SHIELD. – Ele se abaixou ao nível de Lucy, simpatia transparecendo em seu olhar ao falar com a pequena. – Foi você quem controlou os sinais vitais dele, até chegarmos?
Lucy apenas anuiu, chorosa, e o médico segurou suas mãozinhas de modo confortador:
— Provavelmente salvou a vida de seu pai, pequena. Ou pelo menos evitou maiores danos. Ele tem sorte em ter uma filha assim. – Com um sorriso encorajador, ele prosseguiu. – Deve ter sido difícil manter a calma. Foi muito corajosa.
— Eu só fiz o que a mama sempre ensina. Perder a cabeça não ajuda ninguém...
— Sim, com certeza. Mas agora você não precisa mais ser forte, está bem? Seu papai vai sobreviver: ele é durão, e estamos cuidando bem dele. Agora, você e sua mamãe precisam descansar, e se medicar.
— Obrigada, Dr. Smith. – A pequena tinha os olhos fundos de exaustão, mas um sorriso aliviado nos lábios quando a mãe se abaixou ao seu lado, puxando-a para que sentasse em sua perna dobrada. – Estou tão cansada...
– Vou buscar algo para você comer, e depois vai dormir até chegarmos em casa.
— E você tem que deixar o médico te tratar. Está toda machucada. – A menina segurava sua mão, olhos preocupados e cheios de angústia.
— Assim que comermos. Prometo.
Natasha abraçou a filha com firmeza, como se temesse perdê-la ou vê-la colapsar após tudo aquilo. Erguendo a filha no colo, colocou-a sentada ao lado de Wanda, nos sofás de espera verde-água da ala hospitalar. A Feiticeira tinha olhos fundos e abatidos enquanto observava o irmão, adormecido na maca à frente: a mutação de Pietro consumia muita energia do corpo, e após um dia inteiro usando a hipervelocidade, sem ingerir líquido ou alimento, seu organismo colapsara de exaustão, hipoglicemia e desidratação. Ele não parecia mais do que adormecido, mas seu corpo simplesmente se consumira... Desidratado e esgotado. Agora o rapaz recebia fluídos, glicose e eletrólitos através dos acessos venosos em seu braço, que gradualmente estabilizavam seus batimentos cardíacos e taxa glicêmica. Não havia risco imediato de vida, mas o garoto precisaria de alguns dias de repouso e excelente alimentação, para que o corpo não começasse a degradar os músculos em busca de energia, o que poderia facilmente afetar rins e coração.
A criança se inclinou para frente, suspirando de modo pesado, e olhou para a garota Maximoff. Wanda parecera muito adulta e poderosa quando se haviam confrontado e mesmo ao lutarem juntas, mas agora... Parecia muito jovem, cansada e assustada, e Romanoff não resistiu a tentar lhe trazer algum conforto:
– Ele vai ficar bem. Foi só um esgotamento, ele vai se recuperar depressa.
— Assim disseram... – Os olhos verdes não tinham lágrimas, mas estavam vermelhos e irritados, cheios de medo.
— Vocês têm uma conexão muito forte...
— Ele é tudo o que tenho... E eu sou tudo o que ele tem. – A bruxa se balançava para frente e para trás, agoniada.
— Hm... Não exatamente. – A criança colocou sua mãozinha sobre a da sokoviana, tentando acalmá-la. – Sabe... Vocês têm um grupo, agora. Os Vingadores não vão deixar os dois sem apoio.
— Hm. Boa piada. – Maximoff revirou os olhos.
— Estou falando sério.
— Dois pontos, pirralha. Primeiro: Meu irmão e eu lutamos contra vocês e causamos muitos danos pra sua família e equipe. Eles teriam de ser malucos. Segundo: eu prefiro MORRER a aceitar a caridade de Tony Stark!
— Não é caridade. Ele produziu as armas que tiraram sua família, propiciou o nascimento de Ultron... Pode encarar isso como algo que ele DEVE a vocês. Uma... Indenização?
Wanda apenas grunhiu, claramente exausta e transtornada demais para pensar no que fosse; compreensiva, Lucy suspirou:
— Só... Pensa sobre, quando estiver mais calma, okay? E vê se vai dormir: está parecendo um zumbi.
— Não apenas eu. Parece que você não dorme há um ano, hamster ruivo.
As duas permaneceram em silêncio por algum tempo, até Natasha retornar com dois sanduíches de frango e dois copos grandes de suco. A Feiticeira ficou surpresa quando viu sua outrora inimiga lhe estender um dos lanches.
— ... Para mim...?
— Para quem mais seria? – a Widow entregou o outro lanche para a filha. – Você não saiu do lado do seu irmão, e precisa comer antes que desmaie. Não foi apenas ele quem gastou muita energia.
— E não só eles, Mama. Já comeu alguma coisa?
Natasha apenas suspirou e olhou para a janela da CTI, agora de cortinas fechadas.
— Não estou com fome.
— Então vai comer sem fome, mesmo. – A voz de Barton chegou a ela, e o Gavião mancou para o sofá diante das garotas com mais dois lanches, praticamente enfiando um nas mãos de Natasha. – Você não come nada decente há três dias, então engole isso ou vou te dopar e dar sopa, feito um bebê.
Natasha revirou os olhos mas, para completo espanto da garota Maximoff, abriu o saco de papel e deu uma mordida no sanduíche, mais como se estivesse assassinando o alimento do que apenas comendo. O olhar de espanto da garota mais velha não escapou a Clint, que deu um sorrisinho de lado:
— Sabe como é o ditado, bruxinha... Manda quem pode...
— E se tiver juízo, você não termina essa frase, Barton. Não estou cansada o suficiente para não chutar sua bunda. – A Viúva Negra rosnou, apoiando os cotovelos nos joelhos e pendendo a cabeça adiante. Parecia tão... Emocionalmente exausta. Quase vulnerável. Quase.
— Eu... sinto muito pelo Capitão. – Wanda murmurou. – Ele vai se recuperar bem?
— O Soro vai acelerar o processo. – Natasha suspirou. – Mas vai levar algumas semanas.
Um silêncio desconfortável reinou entre todos, concentrados apenas em suas refeições, até Barton se manifestar novamente:
— Wanda? Eu sei que está tudo confuso e muito turbulento, mas consegui com Fury vistos provisórios para você e seu irmão. Podem ficar conosco algumas semanas, pelo menos até se recuperarem e decidirem o que fazer a seguir.
— E depois? — Os olhos verdes da Feiticeira estavam escuros.
— Depois... Vocês decidem. Vamos respeitar a decisão que tomarem. Mas entenda que são bem-vindos entre os Vingadores, pelo tempo que precisarem ou quiserem ficar. – Ele deu um leve sorriso. – Sem amarras, sem compromisso. Só... Um lugar para ficar, até decidirem o que fazer das vidas.
Wanda franziu o cenho para Barton, e indicou Lucy com a cabeça:
— A pirralha é sua filha, é?
Clint abafou uma risada, negando com a cabeça:
— É como se fosse.
— Ela falou a mesma coisa para mim... sobre ficarmos temporariamente.
— Ela é comunicativa e gosta de ajudar. – Clint olhou para a criança, que havia dormido pesadamente contra o lado de Natasha. – Vou levar a coisinha pro alojamento. Nat, faça o check-up de saúde, sim?
— Como se você saísse do meu pé, se eu não fizer. Criatura chata.
— Você só está viva porque eu sou chato. Te manter viva é meu trabalho. – Ele sorriu de canto para o revirar de olhos dela ao se erguer e ir para a baia médica.
Ela não queria ficar sozinha. Não queria fechar os olhos, pois em suas retinas estava gravada a imagem de Steven, desfalecido e sangrando à beira da morte. Também estava a cena de sua filha de dez anos combatendo, removendo pessoas de destroços, prestando socorro médico ao pai à beita da morte. Natasha sentia sua pulsação em todo o corpo, seu coração batendo com força extrema e rápido demais para o repouso em que se encontrava, enquanto forçava sua respiração a um ritmo lento e profundo para regular as emoções...
Ela odiava aquele estado amortecido... Na superfície se mostrava controlada e estável, mas as profundezas de sua mente se revolviam com todas as emoções não-processadas que ela sequer conseguia identificar... Isso a esgotava, fazia sua cabeça latejar e a colocava apática, irritada, incapaz de traçar completo contato consigo mesma e com o entorno, numa semi-dissociação... Sentia culpa por deixar sua filha passar por tudo aquilo. Não era melhor do que Dreykov, não era melhor que os milicianos do Congo que promoviam infantarias... Na verdade, era pior ainda, pois expunha a própria filha. Mas como deixar Lucy a salvo? Como afastá-la daqiele redemoinho, daquele sumidouro que era a vida de Vingadora...?
Por detrás de suas pálpebras Natasha enxergava o sangue manchando o chão, o cheiro ferruginoso e tão familiar impregnado em suas narinas como uma de suas mais firmes memórias... O sangue de Steve. O sangue de Lucy. O dela própria.... O de suas vítimas. Vozes furiosas e gritos de agonia perfuraram seus tímpanos numa cacofonia que bradava por justiça e clamava a plenos pulmões os crimes que tentava compensar, penetrando por entre os dedos que tentavam tapar seus ouvidos, gelando sua espinha, fazendo zunir sua cabeça.... E quando seu próprio grito a tirou do barulho e das imagens de sangue, Romanoff percebeu ter cochilado com a exaustão. Uma enfermeira estava ao seu lado, olhando apreensiva para as pistolas nos coldres, e a russa apenas suspirou e assentiu, abrindo o traje para se deixar examinar.
Mais de uma hora e meia, diversos pontos na coxa, costelas e costas e uma imobilização de pulso depois, a espiã foi liberada; caminhando vacilante pela ala médica, ela voltou para o sofá diante da CTI onde Steve se encontrava; não era religiosa. Não acreditava em alguma divindade, mesmo que as vezes pedisse perdão na escuridão, desejando que algo de fato pudesse existir... Mas naquele momento ela realmente esperou que hovesse uma divindade, qualquer que fosse, e que todo o bem que Steve já fizera contasse como uma justiça... Ele não merecia morrer. De todas as pessoas, ele não. Por favor. Ele não.
Entre cochilos de olhos abertos e vigília plena, ela ficou ali por todo o voo até os EUA, e depois da chegada à sede da SHIELD plantou-se na sala de espera do centro cirúrgico. Foi apenas quando recebeu a notícia de que Steve se encontrava bem e em recuperação que a Viúva Negra deixou a exaustão de quatro dias insones enfim conquistar sua mente e corpo.


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É isso, pessoal! Avisando que essas alterações terão impactos MUITO relevantes no futuro! O que acharam? Amaram? Odiaram? Deixem seus feedbacks, por favor! Sobre a Lucy, a Nat, o Steve... Feedbacks são super bem-vindos!Beijooos, e até loguinho!!

A Aranha na TeiaOnde histórias criam vida. Descubra agora