Capitulo 38

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A ausência de luz natural, faz-me sentir fraca, claustrofóbica...estou cansada, mas não durmo. Jimmy está agarrado a mim...sinto-o afogar-se nos seus pesadelos, eu sou a sua tábua de salvação. Aperta-me quando se afunda, esmurra-me à procura de ar. Chama pela mãe...eu falo palavras sem nexo para o acalmar.

Nos intervalos, nas tréguas dadas pelos seus pesadelos, vou contando os minutos, as horas e tentando adivinhar o tempo que passou.

Acredito que já é de manhã...

Desisti de olhar para a porta...ela não abre só por eu olhar para ela...quero que ela abra e que ele olhe para mim...me abrace...quero ver aquela ruga no meio da testa, aquela que ele tem quando está aliviado, mas que se torna tão mais carregada quando ele está preocupado.

Sei que vou ter de lhe contar que liguei para a minha mãe...consegui eliminar o número do telefone dele, mas tenho a consciência que ele sabe que liguei desde o momento que marquei o primeiro dígito.

Acreditei que a voz dela me trouxesse algum conforto, alguma paz...mas não trouxe nada disso!

Estou louca...a única paz que encontro é nos braços dele...os braços que se recusam a chegar.

A voz da minha mãe carregou-me de culpa! Ainda a oiço a chorar, consigo sentir o seu desespero. Talvez a ignorância até seja uma bênção...se ela não soubesse, não sofreria mais...

Dei-lhe esperança ao dizer que ia voltar, que ele me iria levar. Mas se ele não volta? Se ele decidiu que não vale a pena o risco? Se ele me abandona e me volta a entregar a um estranho?

Não quero que seja um estranho a levar-me à minha mãe. Quero que seja ele. Porquê? Não sei...tento perceber, mas não consigo.

Se for ele a entregar-me, eu vou ter a opção de voltar...acho que quero ficar com essa opção.

Ele diz que me ama...mas eu não o amo! Sei que não o amo...preciso dele, preciso que ele me toque, me ame. O amor dele faz-me bem...faz-me sorrir...viver...mas...existe sempre a merda de um mas, de um porém, de um contudo...mas, porém, contudo eu não o amo.

Mexo-me na cama...Jimmy resmunga...

Levanto-me...

Decido tomar banho naquela casa de banho. Sei que o banho não é uma prioridade, é apenas uma distracção...preciso...

Encontrei roupa num armário, o meu numero...calças e camisolas...sorrio ao lembrar que não visto umas calças há meses. Dou uma gargalhada quase muda ao ver que tenho calças. Deixo cair lágrimas quando vejo roupa dele, arrumada num pequeno armário ao lado da minha.

A água fria vinda do chuveiro do tecto, congela-me os pensamentos...é bom...agradável ser congelada...o gelo não permite que eles me atormentem...

Saio do banho...e eles descongelam rapidamente.

Tudo vem novamente...

Um bunker...

Uma criança...

Enterrada viva...

Sem ele...

Jimmy acorda e agradeço a Deus...ele vai ser mais uma das minhas distracções.

Xxx

Tempo...queixei-me dele tantas vezes...tinha falta dele...

A justiça poética enviou-me uma quantidade enorme de tempo e eu já não o quero...desisto de o ter, mas ele continua a ser empurrado pela minha garganta abaixo, como se fosse uma daquelas vitaminas que a minha mãe me dava quando era pequena.

Anjo de Pedra disponível até 31/12Onde histórias criam vida. Descubra agora