Capitulo 2

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É importante para mim antes de lerem o capitulo, dizer isto:

Este ano fazem 20 anos do genocidío do Ruanda. Os extremistas da tribo Hutsu mataram quase 500 mil Tutsis no espaço de três meses, exactamente três meses. Quase todas as aldeias tem histórias de mulheres estrupadas, estima-se que nasceram mais de 5 mil crianças desses estrupos. 
Apesar da opinião publica não referir, os conflitos tribais ainda existem...regularmente desaparecem crianças com mais de 12 anos, a que se deu nome de meninos da guerra.
Embora uma aparente paz, a vida das organizações humanitárias não é vida fácil...quem é voluntário a nivel medico, de ensino ou apenas como um simples cuidador de crianças em orfanatos (que o governo do Ruanda quer acabar) não tem vida fácil.

MSF - Médicos sem Fronteiras.

AMi - Assistência médica internacional.

Desculpem esta pequena introdução, mas nós temos tendência de esquecer o nosso passado recente e com isso não prevenimos os futuro.
Espero que gostem....
beijos Gordos.

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Realidades!

Qual é a nossa realidade? A que fica estagnada no tempo, parada no mesmo lugar à espera do nosso retorno, ou aquela que vivemos no momento?

Os meses tem passado de uma maneira demasiado estranha e esta minha realidade parece aumentada…eu julgava que tinha visto de tudo…nunca percebi que não tinha visto nada.

Cheguei ao Ruanda há seis meses, acompanhada por mais dois médicos. Um Alemão super idealista e uma norte-americana que desde o início se percebeu que também fugia de algo. A nossa jornada iniciou-se ao mesmo tempo, só assim se justifica que três formas de ser tão diferentes se poderiam atrever a intitular de amigos ao fim de apenas uns dias.

Aterramos em Kilagi após vinte e nove horas de viagem, duas escalas, uma em Amesterdão e outra no Kilimanjaro…mais duas horas de Kigali até chegar a Mbyo.

Nenhum de nós sabia muito bem para onde ia, tornou-se uma piada entre nós que iriamos literalmente para outro planeta e em outra galáxia uma vez que nem o Google reconhecia a existência de tal terra.

Sabíamos que iriamos para uma pequena missão de uma Congregação Católica que geriam uma escola, um orfanato e uma pequena clinica.

Além de nós existiam dois médicos locais, o corpo docente da escola eram voluntários, muitos deles recém - formados de Universidades Europeias, o orfanato gerido por freiras e todo o complexo era governado pelo Padre Max Kruger, um Holandês anafado mas cheio de vigor.

Acredito que se não fosse o apoio do Henrich, o médico Alemão e da misteriosa Karen, eu teria desistido.

Uma vez recebi no serviço de urgência uma criança de doze anos, um tiro no abdómen, uma brincadeira com uma arma do pai e um concurso com uns amigos. Fui a responsável pela mudança de vidas quando fui dar a notícia aos pais que o filho tinha falecido na minha mesa de operações…mudei para pior a vida dos pais, dos amigos que se encontravam na sala de espera com os seus pais. A culpa da morte não tinha sido minha, mas o que eles lembrariam sempre seria de mim, do meu anúncio…como se eu fosse o seu anjo da morte particular.

Eu achava que este talvez tivesse sido o ponto alto de desgraça da minha vida profissional…daquele dia em diante, evitei tratar crianças e o destino foi simpático comigo, nunca mais colocou nenhuma no meu caminho.

Anjo de Pedra disponível até 31/12Onde histórias criam vida. Descubra agora