Capitulo 25

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“Não sou ninguém!

Quem és tu?..."

Emily Dickinson

Acredito que gostes…

De uma Emily para outra

Assinado

T.

 

Passo as mãos pelo livro, pelo segundo livro que o T me dá. Esqueço que só tenho o casaco de Luke em cima de mim…

Cheiro o livro!

Procuro pistas através do cheiro. Sou um como um cão de caça…é ridículo…tudo é estranho e ridículo.

Levanto o colchão do chão e atiro o livro para debaixo dele. Não há felicidade no presente…se continuar a ler o poema…sei qual é a pergunta seguinte…será que também já não ninguém? Não quero pensar no poema, nas Emilys desta vida.

Tiro o casaco dos ombros. Cheiro o meu corpo. A minha pele absorveu o cheiro do perfume do Luke. Não quero este cheiro…não tenho intimidade com ele.

Intimidade… Jeremy…

- Jeremy! Jeremy! – a cada passo que dou em direcção à casa – de – banho, entoo o nome dele. – Jeremy, Jeremy! – falo mais alto…preciso de uma recordação do mundo exterior.

Entro no banho.

Canto nome dele…Jeremy…choro…a única recordação que vem, foi quando ele me pediu o divórcio…não a quero…casamento…eramos felizes…Jeremy! Jeremy! Grito o nome dele…

- Jeremy! – os meus gritos são abafados pela água que cai.

As mãos e a testa são encostadas à parede de azulejos azuis, a água bate-me na nuca e escorrega pelo meu corpo. Não consigo parar as lágrimas, sou fraca demais para as parar…nada no meu corpo já me obedece.

Vejo-o pelo canto do olho, está parado à porta…está à espera que eu saia.

O vidro da box só me permite ver o contorno do seu corpo, não consigo ver-lhe a cara e agradeço! Não quero sair para o que me espera…vou sofrer!

Não é o medo que me impede de sair, é a falta de esperança…vou sair e tudo vai ficar igual.

Ele vai castigar-me…as noites vão acabar e…e fico sem nada.

Por mais que pense numa justificação para a minha atitude, não a consigo encontrar e se ela existe dentro de mim, está tão escondida por que sabe que eu não vou gostar dela.

Está a despir-se.

- Jeremy… - murmuro. – Estou em Londres…vamos jantar fora. – vou recitando como se fosse um mantra…preciso de distracção.

Nem o meu mantra me ajuda a esquecer a presença dele, tento não perceber os passos que dá…não me parece felino…

Entra no chuveiro…

O seu corpo vem para o meu, as suas mãos pousam nas minhas, a sua testa pousa no topo da minha cabeça…a água contorna o seu e já não cai no meu.

Choro mais ao sentir o seu corpo sobre o meu…quero distância…

- Não te mexas, Emily! – murmura. – Eu estou mesmo muito fodido contigo, e estou ainda mais fodido comigo…

Aquelas poucas palavras…o toque…faz-me sentir…

- Também estou fodida…comigo e contigo… - inspiro.

Anjo de Pedra disponível até 31/12Onde histórias criam vida. Descubra agora