Capitulo 30

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Fico com o frasco na mão, aperto-o…não consigo responder. Tenho um peso no peito que quase não me permite respirar.

Azazel cruza os braços no peito.

- Vais falar? Ou vou ter de te arrancar tudo?

Abano a cabeça…Aperto o frasco, aperto os meus joelhos…tremo.

- Eu… - o choro não me deixa falar.

- Levanta-te…sai da merda da minha cama…não vales nada…- é a raiva que fala.

Não faço o que ele ordena, não me consigo mexer. O pânico congela todos os meus movimentos…choro…mas não devo chorar! Tenho mais hipóteses de sobreviver a tudo se erguer o meu queixo e enfrentar.

- Olha para mim, As…Emily! – já não há raiva, apenas gelo…

Tiro um braço do meu joelho, inspiro fundo…limpo as lágrimas. Já fizemos isto antes, já tivemos este tipo de confronto…é apenas mais um! Engano-me…tento enganar-me! Sei que o desafio com o meu olhar…mas tenho de o fazer.

Engulo a saliva que teima em crescer na minha boca! Continuo a apertar o frasco.

- Como é que arranjaste o frasco? Quem te deu, ou quem permitiu o acesso a ele?

Não posso deixá-lo saber de Turat, não posso dizer o que aconteceu…Turat será despedido, Turat terá um castigo…tudo por uma coisa que eu sabia à partida que não valeria a pena. Eu sabia que nunca me iria matar, sabia que nunca mataria ninguém, mas queria pensar que era forte…que podia lutar contra ele, contra a minha clausura…

- Tu! – falo baixo. – Tu deste-me acesso ao frasco! – minto.

Ele sorri.

- Não, não dei!

A sua certeza esmaga a minha mentira.

- Tu nunca falhas, não é?

Ele baixa os olhos, foge sem vergonha dos meus…reconheço pequenas coisas nele. Ele foge de mim quando a tristeza o invade.

- Falho muito, Emily! E nos últimos dias, meses…falhei e enganei-me. – levanta-se. – Turat! – grita.

A porta abre quase de imediato, Turat aparece…não olha para mim!

- Leva-a para o quarto dela…fecha-a…não a deixes aproximar da Lou…

Continuo deitada na cama. Não sei o que tenho vestido.

Turat caminha a passos largos para a cama, Azazel está no meio do quarto.

Sou puxada por um braço, sem esperar. O nível de violência com que Turat o faz, surpreende-me, solto um grito. Turat não me fala, desconfio que ainda nem olhou para mim. Sou arrastada por um braço pelo chão do quarto, sei que vou gritando à medida que o chão de madeira vai raspando na minha pele, deixando um ardor…como se queimasse…não consigo olhar para cima, estou demasiado concentrada na minha pele, no meu braço e na minha garganta…tudo dói e ainda só me puxaram meia dúzia de metros.

Vejo os pés de Azazel ficarem para trás. Turat não me leva pelo quarto de Lou. Vai dar a volta. Leva-me pelo corredor…ouço uma gargalhada. Turat para…não fala. Levanto o meu olhar para ver Cora, encostada à parede com um sorriso de orelha a orelha.

A certeza que foi ela que me fodeu, fica presente no momento em que os seus olhos brilham de uma forma vitoriosa.

Dá dois passos para mim, puxa-me o cabelo com força. Turat não se move, não me defende e parece que até aprecia.

- Eu disse-te, puta! Eu disse-te que tu irias cair… - cospe-me na cara. – A próxima vez que vir, vai ser no teu funeral…pena que tu não me vás ver com ele.

Anjo de Pedra disponível até 31/12Onde histórias criam vida. Descubra agora