Capitulo 3

4.9K 671 61
                                    

Senti as pequenas pedras da estranha entrarem pela pele das minhas pernas, entranharam-se nelas como se fossem parte da minha carne. A minha cabeça doía, sentia como se ao me puxarem tivessem a tirar-me o escalpe.

Os tiros ainda se faziam ouvir no interior da minha mente, como se as balas fizessem ricochete nas paredes do meu crânio. Heinrich no chão…gritei! Gritei com todo ar que tinha nos pulmões, tentei libertar-me e por momentos tive a sensação que consegui! Ergui-me sob os meus pés…olhei para o agressor que estava à minha frente como se fosse a primeira vez…os pensamentos eram cavalos na minha mente no galope acelerado, avaliei a situação como se tivesse numa sala de operações. Iria morrer! Eles não me iriam deixar viva…mas achava que podia escolher a forma como iria morrer.

A morte aparecia em três cenários: Morria a fugir…morria depois de ser usada como uma vasilha de sémen por todos os guerrilheiros presentes…ou morria depois de servir como escrava durante meses e quando eles se cansassem de mim davam-me o golpe da misericórdia.

Dou três e apenas três passos…três passos que me fazem acreditar que é possível, mas desisto…fico travada no vulto dos três corpos que estão jogados no chão e desejo ser um deles.

Três passos, três corpos e três maneiras da morte chegar…

Novamente sinto aquela mão no meu cabelo, cuspo para a cara de quem está à minha frente…

Ele sorri.

- Puta!

A sua mão levanta e o meu rosto é atingido pelo seu punho, sinto o sangue na minha boca, cuspo novamente…empurram-me para o chão e eu fico ajoelhada, os meus braços são puxados para trás de envoltos numa corda demasiado apertada. Sinto o meu corpo a tremer, as minhas ressequidas do sangue de Heinrich, a mão avança uma vez, duas vezes sobre o meu rosto…uma dor agonizante no meu olho faz-me gritar…sinto como se ele estivesse prestes a rebentar.

Fazem uma roda à minha frente, quero saber quantos eles são, mas não consigo levantar a cabeça para os contar, prefiro morrer de olhos fechados como uma covarde…mas a morte não vem, apenas mais uma humilhação…um deles cospe para cima de mim e os outros imitam-no come se fossem macacos…e de repente um puxa-me a cabeça para trás, enquanto o que está à minha frente abre as calças, retira o seu pénis e urina para cima de mim, como se me tivesse a marcar. Fecho a boca e tento baixar a cabeça, mas o meu agressor obriga-me a mantê-la levantada. Sinto as minhas feridas na face arderem com o ácido…não posso gritar, não posso mexer-me…

Risos…risos….uma pancada e escuridão.

Xxx

Volto a mim e não consigo respirar…tento abrir os olhos, mas o esquerdo não coopera. Escuro uma escuridão enorme. Percebo que tenho um saco de pano que julgo ser preto na minha cabeça…não faço nenhum movimento, o meu coração bate descompassadamente...fecho novamente os olhos e tento não me deixar levar pelo pânico.

Concentro-me no que me rodeia…as vozes, consigo distinguir três diferentes, não consigo descobrir qual o dialeto…eles estão a rir e a falar. Cheira a cigarros turcos… Reconheço o cheiro, o meu pai adorava e a minha discutia com ele por causa do cheiro…

“Nunca mais vou ver a minha mãe.” É a primeira coisa em que eu penso… “Calma!”…”Não te mexas.”…”Respira devagar!”

Estou deitada em algo duro, é o chão do carro. O cheiro que vem do chão é nojento, a minha bílis sobre pelo meu esófago e eu faço a coisa mais horrível que me imaginei fazer, engolir o meu próprio vómito. Cheira a sangue podre, a suor, a urina…as lágrimas começam a cair pela minha face e eu mexo-me, é um movimento involuntário do meu corpo…as vozes calam-se.

Anjo de Pedra disponível até 31/12Onde histórias criam vida. Descubra agora