Estamos virados um para o outro.
A luz que vem da casa – de – banho foi acesa, não nos deixa mais na noite. Envolve-nos e deixamos de ser apenas contornos, como se o tempo tivesse conspirado para nos tornarmos de carne aos poucos.
O seu dedo passeia pelo meu braço, dá-me um sorriso triste. Doí-me vê-lo triste, acredito que de alguma forma ele também se magoa quando me vê triste.
- Tu tens do dom de te meteres em mais merda...Tens merda até ao pescoço, em vez de ficares quieta, fazes questão de te afogar lentamente nela.
Afasto o meu braço, arqueio uma sobrancelha. O seu polegar vem na minha direcção e coloca-a no lugar.
- E tu? Tu tens que dom?
Azazel inspira.
- O dom de te empurrar para ela.
- Estás a tentar fazer um humor mais para o negro? Algo com ironia?
- Não, Emily! Apenas constato um facto.
- Um facto que me ultrapassa.
- Hoje não ultrapassou.
- Não?
- O que acabamos de fazer... - atira o ar fora. – o que tu vieste cá fazer...o que viste pedir...o que... - esfrega a cara. – Nós não podemos mais...não podemos continuar, Emily!
Engulo em seco.
- Porquê? Não encontro nenhuma explicação para não continuarmos.
- E depois como é que eu te vou deixar ir?
- Não deixas! – a resposta vem a mim como se todo o tempo estivesse escondida, à espreita do momento mais oportuno para surgir. – Eu aceito!
- Aceitas o quê? – fala distraído nos seus pensamentos.
- Aceito ser – hesito. – ser a tua puta. – dói dizê-lo. – Aceito ser a médica da Lou...se tu conseguires confiar em mim. Aceito o teu dinheiro, mas não o quero...aceito tudo para não me entregares.
- Porquê, Emily? – as suas pernas mexem, ansiedade pela minha resposta.
- Não sei! – consigo murmurar. – Sinto que é o correcto.
Aproxima-se de mim e beija-me. É suave o seu beijo.
- Eu vou entregar-te! Se um dia tiveres de voltar para mim é porque queres...eu preciso de te dar essa opção, nós precisamos dessa opção...de eu te deixar ir e tu voltares porque...precisas! Entendes-me?
Aceno com a cabeça.
- Porque precisas dessa opção?
Sei a resposta, mas quero ouvir da boca dele.
Quando somos crianças basta gostarmos de alguém para querermos ficar com essa pessoa, dar as mãos, beijar a face como se tivéssemos a cometer o melhor e o maior acto do mundo, é a inocência! Crescemos e precisamos de paixão, vivê-la com todas as nossas forças, dizemos que é até ao fim da vida, mas amadurecemos tornamo-nos exigentes e precisamos de amar, amar muito, precisamos que nos amem. Amamos e exigimos que nos amem com a mesma intensidade, como se a simples palavra AMAR trouxesse uma serie de apêndices atrás. Esquecemos do doce gostar e temos uma tendência mórbida para estragar o Amor.
Azazel gosta de mim, acredito que não é amor, que não é uma paixonite, é apenas um gostar, doce...simples...mas para ele adquire uma intensidade que ele não está habituado...talvez, eu tenha descoberto tarde, talvez se eu tivesse descoberto mais cedo...
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Anjo de Pedra disponível até 31/12
Misterio / SuspensoTudo na vida começa por: Era uma vez… A minha história poderia começar assim! Era uma vez uma menina que sonhava ser médica…que sonhava casar…que sonhava ter um príncipe e um castelo com torres, com uma fada madrinha a espalhar o pó mágico da Felici...