Capítulo 41

4.8K 652 197
                                    

O pânico da voz de Naty deixa-me ainda mais assustada.

Nunca falamos muito, nem nas vezes que ela partilhou refeições comigo, mas a forma como ela pronunciou as palavras tornam-na mais humana. Não há sarcasmo, petulância... Existe apenas e só surpresa.

- Como? - ela murmura enquanto se aproxima da cama! - Eu ouvi bem?

Continuo sem me mover.

Tudo acontece ao mesmo tempo.

Naty permanece no quarto...imóvel...acho que está imóvel! Batem à porta... Choramingo...mas estou paralisada.

Naty move-se, a porta abre.

- Diz, Cora! - a sua voz é a mesma de sempre...fria e dura!

Tremo mais, agarro o lençol com força. Sei que estou gelada.

- Vim para levar a roupa para lavar. - a voz de Cora tem uma certa cortesia.

- Volta depois!

A porta bate, passos pelo quarto, a cama afunda. Sinto-a apanhar o aparelho de ultrassom.

- Vira-te de barriga para cima, Emily!

- Não! - murmuro.

- Preferes que chame o Turat? Ele vai virar-te e segurar-te. - ameaça.

Abro os olhos de repente. As lágrimas escorregam livremente.

Azazel...o nome surge na minha cabeça...um filme de terror é criado nela.

Turat vem...Azazel vai ser chamado...Azazel não vai rir, não vai dizer que me ama.. Azazel não vai querer "isto" que tenho no meu ventre.

Faço o que a Naty me pede...fico de barriga para cima.

Ela puxa-me a camisola e novamente o aparelho entra em contacto com a minha pele...

Tum...Tum...

Choro!

Tum... Tum...

Mais lágrimas.

-Merda! - Naty solta e eu tremo ainda mais.

- Não digas! Não digas... - suplico no meio de lágrimas. - Por favor...não digas!

- Não é por eu não dizer que vai desaparecer, Emily!

Falta-me a coragem... Não sei quando voltei a fechar os olhos.

- Ele vai matar-me... - sussurro.

- É possível que aconteça algo mau...mas não a ti ou ao bebé... - a sua voz é calma. - Abre os olhos.

Abano a cabeça.

O silêncio é apenas quebrado por aquele incessante bater cardíaco.

Abro os olhos lentamente...olho para o monitor, pequeno demais, parece um iphone...tudo nele é em pequenas dimensões...um corpo de pequenas dimensões... Não é um conjunto de células sem forma...é um corpo minúsculo, com uma cabeça e membros minúsculos.

- Eu não percebo muito de obstetrícia, mas diria que estás grávida de treze a catorze semanas. - fala calmamente.

- Não! Não quero!

Naty retira o aparelho de mim.

- Mas não é uma questão de queres ou não! A questão é que estás!

- Azazel! - falo baixo.

- Pois... Azazel... Vai ser uma grande surpresa para ele!

Sento-me rapidamente. A camisola desce e cola-se à pele, abraço os meus joelhos.

Anjo de Pedra disponível até 31/12Onde histórias criam vida. Descubra agora