Capitulo 45

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Nunca pensei que a chegada de uma criança pudesse trazer tanta calma. É estranho, porque o que deveria definir o meu estado de espírito, deveria ser a ansiedade, mas é a calma que me enche e transborda.

A calma tem servido para tudo, até para lidar com a ausência cada vez maior de Azazel, ou mesmo do meu T.

Não é a ausência física, mas a ausência mental, emocional. Ele está presente fisicamente, tão fisicamente quanto possível. Dorme comigo, faz as refeições comigo e por vezes até fala comigo.

Emocionalmente a história é diferente. Ausentou-se...não me beija, não mostra o mínimo interesse no meu corpo, a não ser quando o nosso filho se mexe, sinto que ele me disse Adeus no dia em que me pediu perdão e caiu aos meus pés.

Não sou nada para ele, sou apenas a embalagem, que transporta o seu filho...mas estou calma.

Sei que ele me ama, tenho a certeza, mas a culpa que carrega não o deixa amar-me. Tudo é tão ridículo que se eu não tivesse calma, iria rebolar no chão a rir, ou iria desidratar de tanto chorar. Pede-me sempre autorização para tocar na minha barriga, não entra na casa de banho quando lá estou, não troca de roupa à minha frente e se eu troco, baixa os olhos e retira-se.

Deixei de ser a puta que o chupava ajoelhada, para me tornar na mulher que ele ama e para tudo acabar como sendo a merda de uma figura sagrada, que ele não quer tocar para não sujar...mas estou calma.

Não é só o meu filho que me deixa calma...recordar-me do que aconteceu no início da minha estadia, fez-me recordar de quem eu já fui.

Recordei a Emily cirurgiã, londrina...a médica fria, egoísta, calculista. Cheguei a conclusões tristes...nunca amei o filho da puta do Jeremy, que tenha sido bem recebido no inferno, esse é o meu desejo. Nunca quis Jeremy... amei a ideia dele, de ser a esposa do director, amei o status que me dava. Se tivesse engravidado de Jeremy, nunca teria deixado a gravidez avançar. Teria sem ter pensado uma única vez, terminado a gravidez no segundo a seguir a tê-la descoberto.O meu filho mantêm-me calma, quem eu era mantêm-me calma, tudo me mantém calma.

ESTOU FARTA DE ESTAR CALMA!

Estou a ficar puta da vida com a CALMA.

Levanto-me da cama, espreito pela janela...o dia ainda não chegou, a lua incide na água da piscina...Azazel dorme, ou finge que dorme. Está de costas voltadas para mim. As suas cicatrizes chamam os meus lábios. Quero tocar-lhe...mas ele não deixa! Já tentei e ele apenas de um jeito discreto, polido se afastou.Respiro fundo, ando até à porta do quarto, aquela que dá acesso ao corredor.

- Estás bem? – a sua voz morna deixa-me ligeiramente irritada.

- Essa é uma daquelas perguntas retóricas, certo? Fizeste essa pergunta porque não tin has mais nada para dizer, CERTO?

- Não quero discutir, Emily!

A calma começa a despedir-se. Viro-me para ele.

- Já sei que não queres discutir, faz mal ao bebé. Não queres falar também, não queres respirar o mesmo ar que eu, não me queres beijar, tocar e foder é mesmo a merda de uma miragem no deserto. – inspiro e expiro. – Agora diz-me, que merda é que tu queres?

Ele senta-se, a luz acende e eu pisco os olhos. Azazel olha para mim confuso, perdido. Não fala, deixa cair a minha pergunta num abismo, não corre atrás dela, não me dá esperança de salvação...a minha pergunta morre.

Vejo a Calma ao longe...sorri e acena.

- Bem me parecia que não queres nada, além de me foderes o juízo e me deixares um pouco mais louca.

Anjo de Pedra disponível até 31/12Onde histórias criam vida. Descubra agora