Capitulo 1

15.2K 883 88
                                    

Atravessei a estrada sem mesmo olhar para algum dos lados, os carros apitaram e um coro de vozes chamaram-me alguns nomes menos agradáveis...típico!

O trânsito em Londres já foi mais caótico, mas as taxas que implementaram para os carros poderem circular por algumas zonas da cidade, fizeram-no diminuir substancialmente...mas parece que só sobraram os automobilistas que tem sempre uma palavra "agradável"...

Aconchego a gola do meu casaco mais perto das orelhas, tiro o cabelo que o vento trouxe para a frente dos meus olhos, o frio gela-me os ossos...Dezembro em Londres é o meu tormento...frio é o meu tormento! O que é estranho é que toda a minha vida, vivi em londres, tirando os anos da faculdade e nunca me habituei a esse frio que nos congela a alma!

Em breve acaba, e dada a minha natureza inconstante e insatisfeita sei que daqui a uns dias já vou ter saudades deste frio, desta arrogância quase marginal de meros desconhecidos, saudades do meu apartamento minúsculo por que desde o meu divórcio a casa tem cada vez menos significado, saudades de ouvir a minha mãe tagarelar sobre a importância de um casamento e de eu ter falhado redondamente a manter o meu.

Old Compton Street pisca com todos os enfeites e luzes de Natal, a relembrar-me que possivelmente esta não é a melhor hora para partir...nem era a minha ideia partir já, nem tão pouco pensei que fosse chamada no prazo de dois ou três meses.

Mas Londres sufocava-me, tirava-me o ar e a minha vida pedia que eu me fosse embora!

O hospital já não era o meu local feliz, a sala de cirurgia já não era o meu céu, o meu paraíso privado!

A música encheu-me os ouvidos quando um grupo de seres felizes abandonou um dos cinquenta mil pubs de Londres. Um grupo feliz que tinha aproveitado muito pouco da happy hour.

Os meus estavam a aguardar noutro lugar.

Não iriam estar muitos amigos, apenas os três do costume. Se eu tivesse tomado esta decisão há um ano atrás o pub possivelmente teria sido fechado só para a minha despedida privada. Mas um divórcio deixa marcas e indubitavelmente os amigos, que não são tão amigos assim, que depois que a noticia é anunciada, deixam de ser amigos, esquecem-se das vezes que jantaram em nossa casa, das vezes que nós fomos a um funeral por que um ente querido tinha morrido, ou quando nos usou como desculpa para qualquer ato menos próprio.

Essas pessoas que eram tão minhas amigas, escolheram o lado do meu ex-marido! Ele era a pessoa a ficar na vida delas, ele e a sua nova esposa! Ele é o senhor diretor do hospital e eu uma mera médica, cirurgiã o que até eleva o pouco o meu estatuto na classe médica...mas eu era apenas isso, mais uma no meio de alguns.

A notícia espalhou-se e inflamou, como se fosse um fio de gasolina espalhado pelo hospital e alguém tivesse deixado cair um fosforo. Até hoje sei que foi Jeremy quem fez questão de espalhar a notícia... ele não me protegeu, não me deu hipótese de me proteger ou preparar... A história foi simplesmente largada e atiçada com vários rumores como é próprio em todos os meios "pequenos".

Desengane-se quem julga que um hospital cheio de pessoas educadas academicamente é um poço de virtudes! Um hospital é tipo um cão que não tem um produto desparasitante...um hospital é um local cheio de pulgas, que se alimentam do sangue e da vida de quem encontram com alguma fraqueza.

Se anteriormente me davam palmadinhas nas costas, depois da separação e do divórcio, olhavam-me com pena ou evitavam falar comigo com medo de ofender o senhor diretor...os rumores surgiram de várias formas possíveis e imaginárias! Desde que eu tinha sido apanhada a dormir com o empregado de limpeza, depois foi com um anestesista, envolvi-me num trio com duas enfermeiras - esta foi a mais bonita - que eu estava viciada em OxyContin, em jogo...nunca ninguém disse a verdade, ou esteve perto da verdade.

Anjo de Pedra disponível até 31/12Onde histórias criam vida. Descubra agora